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Menos prejudicial? Cigarro eletrônico também oferece riscos à saúde

Apesar de não ter alcatrão, os cigarros eletrônicos possuem outras substâncias que podem ser cancerígenas - iStock
Apesar de não ter alcatrão, os cigarros eletrônicos possuem outras substâncias que podem ser cancerígenas Imagem: iStock

Diego Garcia

Colaboração para o VivaBem

13/05/2018 04h00

Ele não possui o cheiro que denuncia de longe quem o usa, nem produz a tóxica --e desagradável -- nuvem de fumaça em torno do fumante. Apenas um discreto vapor é exalado. Em vez de isqueiros, funciona com bateria e não há queima, cinzas ou bitucas.

Essas são algumas das vantagens anunciadas para propagar o uso dos cigarros eletrônicos nos países em que sua comercialização é permitida --no Brasil, ele ainda é proibido, apesar de já estar na boca de muitas pessoas. A promessa é que o produto é menos agressivo ao organismo em comparação com o cigarro convencional. Mas será que o cigarro eletrônico realmente é menos prejudicial?

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Perigo camuflado 

fumaça, cigarro eletrônico - iStock - iStock
Substâncias presentes no líquido do cigarro eletrônico são mais tóxicas do que a nicotina
Imagem: iStock
Em muitos lugares em que é comercializado, o cigarro eletrônico é tido como um produto de menor toxicidade do que o cigarro tradicional e considerado até um apoio para quem quer abandonar o hábito de fumar. "Mas não é possível afirmar que cigarros eletrônicos são menos agressivos do que os 'tradicionais', pois faltam estudos científicos que comprovem isso", diz Stella Regina Martins, médica assistente do Clube de Cessação do Tabagismo do InCor HC/FMUSP, especialista em dependência química com ênfase em tabagismo e membro da Associação Médica Brasileira (AMB).

O cigarro eletrônico não produz monóxido de carbono, que é um risco para doenças cardiovasculares. Além disso, não tem alcatrão, que é cancerígeno. Mas alguns produtos possuem nicotina líquida --que causa dependência -- e outros componentes para produzir o vapor. "Ao se misturarem, eles formam uma substância cancerígena, então não podemos considerar um produto seguro", destaca Martins.

Um estudo realizado pela Universidade da Carolina do Norte (EUA) e publicado no final de março na revista científica PLOS Biology analisou 148 líquidos de cigarros eletrônicos. A pesquisa aponta que substâncias presentes no dispositivo, como o propilenoglicol e a glicerina vegetal, são mais tóxicas do que a nicotina

“Quando se coloca os dois cigarros lado a lado, o eletrônico pode até ser menos maléfico que o tradicional. Mas é preciso ter cuidado com essa afirmação, pois isso não isenta o produto de trazer riscos à saúde", afirma Fernando Augusto Soares, diretor médico da Rede D’Or São Luiz e professor de patologia geral da Universidade de São Paulo (USP). 

O outro lado 

Cigarro eletrônico - iStock - iStock
A nicotina contida no vapor expirado no ar também é prejudicial para os "fumantes passivos"
Imagem: iStock
Para o britânico David O’Reilly, diretor científico e de pesquisa e desenvolvimento da British American  Tobacco (BAT), controladora no Brasil da Souza Cruz, o fabricante é claro quanto aos riscos do dispositivo. “Nunca dissemos que os cigarros eletrônicos e produtos de tabaco aquecido são mais saudáveis. Falamos de redução de riscos. Quem quer viver livre de riscos, não deve usar nenhum desses produtos.”

Ele acredita que, com base em estudos feitos pela própria BAT e outras instituições, cigarros eletrônicos e outros produtos com tabaco aquecido têm o potencial de ser significativamente menos arriscado do que fumar o cigarro "tradicional".

“Realizamos pesquisas científicas sobre nossas próprias novas gerações de produtos, que mostram reduções de mais de 90% de tóxicos no vapor, em comparação com a fumaça de cigarro. As células expostas à fumaça do cigarro de papel exibem respostas relevantes para o desenvolvimento de doenças. Já o vapor não tem o mesmo impacto”, afirma.

Os médicos concordam que o vapor pode ser menos tóxico do que a fumaça. Contudo, são reticentes quanto à redução de danos ao organismo. “O cigarro eletrônico continua sendo à base de nicotina e outras substâncias pouco conhecidas. A nicotina não é cancerígena, mas promove o crescimento das células neoplásicas. Ou seja, o cigarro eletrônico não é inócuo”, enfatiza Fernando Soares, que é membro da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).

Ele acrescenta que a nicotina contida no vapor expirado no ar também é prejudicial para quem a inala --os chamados fumantes passivos.

Riscos em longo prazo são desconhecidos 

Cigarro eletrônico - iStock - iStock
Alguns cigarros eletrônicos carregam 36 vezes mais nicotina que os de papel
Imagem: iStock
Os cigarros eletrônicos estão no mercado há menos de uma década. Portanto, ainda não existem estudos científicos que atestem os efeitos do dispositivo no organismo em longo prazo. Por esse motivo, Soares é reticente quanto à liberação do uso do produto, principalmente para quem quer ter hábitos saudáveis e abandonar o vício de fumar.

“A gente não sabe o que o uso dessas substâncias irá causar. Temos de lembrar que existiu uma época em que médicos faziam propagandas de cigarros. Há uma propaganda famosa que afirma que o cigarro é muito bom para gestante, porque o bebê fica menor e o parto é facilitado. Um absurdo. Não dá para cometer erro parecido e dizer que o dispositivo é seguro sem estudos que comprovem isso”, diz o especialista.

O’Reilly concorda que ainda são necessárias mais pesquisas, particularmente em relação aos efeitos em longo prazo. "No entanto, as evidências que existem até o momento parecem apontar na direção certa de que esses produtos são alternativas de risco reduzidas”.

Opção para acabar com o vício?

A médica Stella Regina Martins ressalta que é um grande erro usar o cigarro eletrônico como opção para fumar menos ou abandonar o vício. “No cigarro tradicional, o máximo de nicotina existente é de um miligrama (mg). Na nicotina líquida do dispositivo eletrônico já encontraram até 36 mg da substância. Então, a pessoa dá uma tragada no cigarro eletrônico e fica bem por horas sem precisar tragar novamente, mas, ela fez uma recarga brutal de nicotina no organismo e não tem ideia da quantidade absurda da substância que está ingerindo.” 

Martins diz que há muitos métodos eficientes para abandonar o cigarro, como adesivos, chicletes e pastilhas de nicotina. E eles não expõem o fumante a riscos. 

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