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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


"Após 'detox' de 30 dias do celular, ansiedade baixou e meu dia rende mais"

O uso excessivo de tecnologia está associado a problemas como ansiedade, depressão e obesidade - iStock
O uso excessivo de tecnologia está associado a problemas como ansiedade, depressão e obesidade Imagem: iStock

Amanda Preto

Colaboração para o UOL VivaBem

18/02/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Jornalista decidiu ter uma relação mais saudável com o smartphone e ganhar mais tempo para viver a vida offline
  • Ela percebeu que geralmente usava o aparelho quando estava entediada, e buscou ocupar o tempo livre com coisas produtivas
  • Meditar e encontrar prazer em atividades como caminhar ajudou a reduzir a ansiedade e a vontade de usar aparelho

O smartphone se tornou nosso companheiro inseparável. É bem provável que ele seja a última coisa que você pega antes de dormir e a primeira ao acordar. Não é por menos. O celular hoje nos mantém "próximos" dos amigos e até de celebridades por meio das redes sociais, além de nos entreter com joguinhos, vídeos, memes...

O aparelho praticamente oferece o mundo na ponta dos dedos, mas cobra um preço alto por isso e muitas vezes acaba virando um verdadeiro ladrão do nosso tempo.

"O brasileiro fica, em média, mais de nove horas por dia conectado --ou seja, mais de um terço de seu dia", alerta Ana Paula Carvalho, médica psiquiatra e mestre pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 

Você se lembra da última vez em que se dedicou a uma atividade sem interrupções? Por exemplo, assistir a um jogo de futebol, arrumar a casa ou andar de ônibus sem dar uma olhadinha sequer no celular? "Se você não se recorda, isso já é um sinal de que está usando seu aparelho além da conta", avisa Carvalho.

Claro que a questão não fica só no tempo roubado e o uso excessivo da tecnologia pode literalmente trazer problemas dos pés à cabeça, que vão de ansiedade e depressão até dores articulares, sedentarismo e obesidade.

"Claro que o celular não é o único responsável, mas ele colabora para agravar problemas como a depressão. As pessoas acabam comparando a vida delas com a dos outros, o que pode causar frustração, inveja, tristeza e outros sentimentos negativos", afirma Yuri Busin, psicólogo, mestre e doutor em neurociência cognitiva psicólogo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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"Ao contrário do que imaginava, ficar sem responder mensagens me fez muito bem. Não sentia mais tanta necessidade de estar presente virtualmente"
Imagem: iStock
Sabendo disso, eu decidi reduzir minha dependência tecnológica e encarar um plano proposto pela jornalista Catherine Price no livro Celular: Como Dar um Tempo - o Plano de 30 dias Para se Livrar da Ansiedade e Retomar Sua Vida (editora Fontanar). 

O objetivo não foi ficar totalmente longe do celular, e sim tornar a relação com o smartphone mais saudável. Usar apenas as coisas boas do aparelho e ganhar mais tempo para fazer o que realmente importa: viver a vida offline

As quatro semanas

Basicamente, a primeira semana serve para avaliar a relação com o smartphone e saber onde a pessoa pretende chegar com o "detox". Para isso, é preciso traçar metas bem direcionadas e eu decidi começar reduzindo de quatro para duas horas o tempo que passava nas redes sociais --há para monitor esse tempo e o iPhone oferece um relatório semanal sem a necessidade de app. 

Para atingir minha meta, desinstalei Facebook e Instagram --tive que manter o WhatsApp por causa do trabalho. Para mim, foi uma atitude radical, mas foi melhor do que eu esperava. Toda vez que sentia falta de olhar as redes sociais, me perguntava por que queria fazer isso.

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"Percebi que muitas vezes acessava as redes sociais por tédio, e busquei formas melhores para preencher esse vazio"
Imagem: iStock
Percebi que a maioria das vezes era por tédio ou para desopilar a mente de alguma atividade complexa. No primeiro caso, a alternativa foi buscar algo para preencher esse "vazio" --como ler um livro, ficar mais tempo na academia, cozinhar  ou bater um papo interessante com alguém (pessoalmente, claro!); e no segundo foi simplesmente me focar e resolver o que era necessário. 

Passadas duas semanas, voltei a acessar o Facebook apenas pelo computador, com visitas rápidas de 10 minutos, duas vezes por dia. O suficiente para checar alguma mensagem ou marcação e nada mais. 

Mesmo sem desinstalá-lo, passei a olhar menos o WhatsApp. Segui o conselho de estabelecer horários específicos para a interação: pela manhã, na hora do almoço e voltando do trabalho, enquanto estava no metrô. Isso fez com que eu ficasse mais seletiva ao responder as mensagens --atendia apenas às urgentes e de familiares. 

Nas demais mensagens procrastinei a interação e, ao contrário do que imaginava, me fez muito bem. Não sentia mais tanta necessidade de estar presente virtualmente.

Percebi que não muda nada se eu responder certas mensagens agora ou daqui a algumas horas" 

Quando voltei para o Instagram, fiz algumas mudanças relevantes: parei de seguir perfis que eu percebia que não me faziam bem de alguma forma e me levavam a comparar a minha vida com a de alguém --que é algo que fazemos de forma inconsciente, e que no final das contas nos gera frustração e ansiedade. E o grande objetivo aqui é controlar ambas para termos uma vida mais saudável e feliz, não é mesmo?

Também segui à risca o passo do programa que julgo mais ousado em tempos de hiperconectividade, que foi passar um final de semana inteiro sem olhar o celular. A autora sugere desligar o telefone e o deixar em um canto. Comigo funcionou colocar apenas no silencioso e esquecer a existência do aparelho --mas é preciso ter dedicação para não dar nenhuma espiadinha. Um conselho valioso que segui e funcionou foi meditar como forma de diminuir a ansiedade e, consequentemente, a vontade de olhar o celular. 

Aproveitei mais o dia e reparei em detalhes que passavam despercebidos, como uma árvore, uma casa e as pessoas que estavam no meu caminho

Comecei a prestar atenção ao trajeto para o trabalho e devorar um livro em pouquíssimo tempo, já que minha concentração não estava sendo disputada. Hoje, mesmo passado um tempo desse "detox", me condicionei a pensar ao pegar o celular. Eu me pergunto: "Por que quero olhar? Eu realmente preciso dele neste exato momento ou posso esperar mais um pouco?" 

Essa autoavaliação também me trouxe menos necessidade de estar presente nas redes sociais, postando a todo momento. Agora, me pergunto se realmente quero postar certo tipo de conteúdo, porque sei que se postar, vou querer ficar espiando as curtidas e comentários, o que me leva de volta à dependência tecnológica --e traz a ansiedade.

Aprendi a buscar novas formas de recompensa. Se estou ansiosa, encontro prazer em uma caminhada ou como algo gostoso --claro que com sabedoria para não ganhar peso!" 

Hoje, passo uma média de três horas nas redes sociais. Ainda acho bastante tempo, mas estou satisfeita. Afinal, é justificável até por causa do meu trabalho, já que as redes sociais são ótimas fontes de pesquisa para ter ideias e novas possibilidades de conexões. 

E essa é a parte boa da internet que todos nós precisamos resgatar: relações saudáveis, gente que queremos por perto (mesmo que do outro lado do planeta) e a descoberta de um novo mundo sem sair do lugar.

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