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Dias após sofrer impacto na cabeça, cérebro já mostra sinais de degeneração

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Gretchen Reynolds

Do New York Times

07/02/2018 17h17

Quando um adolescente leva um golpe na cabeça, o cérebro pode começar a mostrar sinais, em questão de dias, do tipo de lesão associada a uma doença cerebral degenerativa, segundo um inquietante estudo sobre e ferimentos na cabeça em rapazes.

As descobertas, que também envolvem testes com animais, indicam que a lesão pode acontecer mesmo que a pancada não resulte em concussão completa. Como a final do campeonato de futebol americano dos Estados Unidos, o Super Bowl, ocorreu no domingo (4), a questão dos impactos na cabeça está sendo muito comentada.

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É bem sabido, sem dúvida, que o cérebro de alguns jogadores de futebol falecidos tem tecidos lesionados e conglomerados de uma proteína, conhecida como tau, que podem estrangular e matar as células cerebrais.

Acredita-se que esse sintoma cerebral, chamado de encefalopatia traumática crônica (ETC), seja causado por golpes na cabeça, incluindo os impactos que ocorrem com frequência durante algumas jogadas de futebol americano e outros esportes de contato.

Tais impactos costumam gerar uma concussão, lesão cerebral caracterizada por uma série de sintomas, tais como dor de cabeça, tontura, desequilíbrio e mudanças na concentração e na memória. Para muitas pessoas que assistem, jogam ou são pais de atletas jovens em esportes de contato, as concussões são uma preocupação grande e crescente.

Surpreendentemente, porém, pouco se sabe sobre as relações entre impactos na cabeça, concussões e ETC, ou com qual rapidez ou lentidão uma lesão pode começar a indicar os primeiros sinais de doença.

Exatamente essas dúvidas foram estudadas por um grande e célebre grupo de cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston e de muitas outras instituições do mundo. Os pesquisadores estavam entre os primeiros a identificar a ETC no cérebro de jogadores de futebol americano e, mais tarde, em soldados que sofreram ferimentos na cabeça originados por uma explosão.

Vínculo entre pancadas e ETC

Contudo, para o pequeno novo estudo, publicado recentemente no periódico Brain, eles esperavam descobrir mais sobre como e com que rapidez tais lesões podem contribuir para a enfermidade.

Assim, os cientistas examinaram o que --claramente-- pode ser considerada uma série de tragédias. O banco de cérebro da Universidade de Boston passou a guardar cérebros de quatro atletas adolescentes, que morreram em questão de dias ou semanas após uma lesão na cabeça durante o jogo.

Zach Ertz marca um touchdown para o Philadelphia Eagles diante do New England Patriots no Super Bowl 52 - Brad Rempel-USA TODAY Sports - Brad Rempel-USA TODAY Sports
O Super Bowl levantou questões sobre as consequências dos golpes na cabeça
Imagem: Brad Rempel-USA TODAY Sports

Dois dos rapazes se mataram. Os cientistas não sabem se os ferimentos na cabeça contribuíram para o suicídio. Os outros dois morreram de inchaço cerebral que muito provavelmente estava relacionando à "síndrome do segundo impacto", que pode acontecer se alguém sofre duas lesões na cabeça durante um breve período de tempo.

"Nenhum dos impactos individuais era grave o suficiente para ter provocado a morte", afirma Lee Goldstein, professor adjunto de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston e principal autor do estudo.

Entretanto, quando os pesquisadores examinaram atentamente o cérebro dos jovens, acharam mais lesões do que esperavam. A barreira hematoencefálica dos rapazes, um sistema natural de defesa que impede a entrada de substâncias nocivas no cérebro, parecia lesionada e diversos dos pequenos vasos sanguíneos do cérebro apresentavam vazamentos. Dois dos órgãos tinham inquietantes acúmulos de proteína tau nos arredores dos vasos rompidos, e um cérebro foi diagnosticado com ETC estágio um.

Foi a primeira vez que cientistas encontraram sinais de ETC incipiente ou real em um intervalo de tempo tão pequeno entre a lesão no cérebro e em pessoa tão jovem.

Todavia, como muitos outros fatores podem ter contribuído para a condição cerebral, desde a herança genética a pancadas anteriores na cabeça, os pesquisadores decidiram a seguir procurar impactos semelhantes na cabeça de animais e acompanhar com exatidão o que acontecia dentro do crânio.

Utilizando camundongos jovens, eles aplicaram golpes relativamente suaves, para resultar em um solavanco repentino e forte em suas cabeças, tais como os que acontecem durante cabeçadas e outros impactos. A seguir, alguns animais apresentavam sintomas de uma versão de concussão em roedores, caindo e se saindo mal em testes de memória.

A seguir, os cientistas injetaram uma tinta em alguns animais que não consegue ultrapassar a barreira hematoencefálica e fizeram exames no cérebro dos roedores vivos. Em cerca de metade deles, havia sinais da tinta no cérebro, indicando que a barreira se tornara permeável. Muitos dos camundongos apresentavam sinais de hemorragia em vasos cerebrais e outras lesões, incluindo inflamação e interrupção na atividade elétrica dos cérebros. Alguns apresentavam sinais iniciais de acúmulo de tau.

Tudo isso havia ocorrido em questão de dias após os impactos na cabeça.

Porém, curiosamente, a lesão não estava ligada intimamente às concussões. Os animais que desenvolveram sintomas de concussão raramente eram os que apresentavam lesões durante os exames no cérebro. Assim, alguns deles tiveram concussões apesar de os danos cerebrais serem pouco discerníveis, enquanto outros apresentavam lesões típicas de ETC sem apresentar sinais de concussão.

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Segundo os cientistas, o importante é o tamanho do impacto na cabeça
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A conclusão é que "nós provavelmente criamos mais dúvidas do que esclarecemos", afirma Goldstein.

Segundo ele, as dúvidas giram em torno de saber se o foco atual nas concussões em atletas (e nas pessoas comuns) pode ser raso demais.

"Parece que o importante é o impacto na cabeça", assegura, resultando ou não em concussão.

Só que os camundongos não são homens (nem mulheres, que não participaram do estudo porque não foram encontrados cérebros de jovens atletas femininas falecidas). Então, não se sabe se os efeitos observados nos animais eram exatamente iguais aos dos vistos em humanos.

O estudo também não pode determinar se cérebros mais jovens ou mais velhos reagem da mesma maneira a lesões ou por que alguns cérebros, em homens e em camundongos, parecem especialmente suscetíveis a traumas leves, enquanto outros, após a mesma pancada, continuarem saudáveis. O mais importante, talvez, é que esse experimento breve não pode nos dizer se o cérebro que mostra sinais incipientes de ETC irá necessariamente desenvolver a doença.

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