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Intestino preso ou solto demais? Veja como dietas da moda afetam o cocô

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Imagem: iStock

Raquel Drehmer

Colaboração para o UOL VivaBem

24/06/2019 04h00

Quem se alimenta de forma equilibrada, com a ingestão variada de fibras, carboidratos, gorduras e outros nutrientes, tende a evacuar de uma a duas vezes por dia. Quando as refeições saem do normal, as primeiras consequências que notamos estão justamente nas fezes, seja por a frequência de idas ao banheiro mudar (diminuir ou aumentar) ou pela alteração na consistência do cocô (para mais duro ou líquido).

Diante disso, fica aquela pulguinha atrás da orelha: de que forma será que as dietas mais populares hoje em dia interferem no cocô nosso de cada dia? Conversamos com as coloproctologistas Maristela Gomes de Almeida, do Hospital Edmundo Vasconcelos e chefe do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais do Hospital do Servidor Público Municipal de SP, e Vanessa Prado, cirurgiã e médica do Centro de Especialidades do Aparelho Digestivo do Hospital Nove de Julho, para desvendar esse mistério.

Jejum intermitente

Como funciona: Existem algumas variações, mas o método de jejum intermitente mais adotado é aquele em que é definida uma janela de 16 horas sem comer (aproveitando as horas de sono; beber água é liberado) e de 8 horas em que é permitido se alimentar sem restrições calóricas ou nutricionais.

Como afeta o cocô e a evacuação: Considerando que a pessoa coloque no prato e no copo todos os grupos alimentares e se hidrate bem, a consistência das fezes não mudará. Mas o período de barriga vazia acelera o metabolismo, altera o peristaltismo gastrointestinal (os movimentos que fazem o sangue circular e o alimento ser processado no tubo digestivo) e aumenta o número de evacuações ao longo do dia; fazer cocô três vezes ou mais na janela de 8 horas é comum.

Como contornar o que prejudique a evacuação: Caso o intestino fique preso, é necessário dar uma atenção extra à hidratação, beber muita água mesmo. Isso costuma ser o suficiente para regularizar a situação.

Low carb

Como funciona: A quantidade de carboidratos deve corresponder a no máximo 40% da dieta diária (o normal é oscilar entre 50% e 60%), enquanto o restante é dividido em 30% de proteínas e 30% de gorduras. Na dieta low carb devem ser priorizadas as carnes magras, as proteínas vegetais (feijão, ervilha e grão-de-bico, por exemplo) e as gorduras boas (como oleaginosas --castanhas e nozes --, óleos vegetais e azeite de oliva).

Como afeta o cocô e a evacuação: Os carboidratos são os alimentos que mais auxiliam o funcionamento do intestino, e sua diminuição na dieta leva à prisão de ventre e às fezes bem mais duras. Além disso, a digestão das proteínas é mais lenta e seu aumento na dieta diária contribui para a constipação.

Como contornar o que prejudique a evacuação: Bebendo muita água e investindo em grãos como aveia, arroz integral e milho na hora de ingerir carboidratos - eles são ricos em fibras e ajudam a normalizar o trânsito intestinal e a consistência das fezes. Outra saída é, sob orientação médica, tomar um sachê de fibras no café da manhã; ele adentra o bolo fecal e regulariza a consistência das fezes.

Cetogênica

Como funciona: O consumo de carboidratos é reduzido drasticamente, para 10% ou menos da dieta diária, enquanto o de gorduras sobe para 60% (os outros 30% são as proteínas). A ideia da dieta cetogênica é que, sem ter carboidratos em abundância para queimar, o organismo procure outra fonte de energia e a encontre na gordura, queimando-a em uma velocidade acelerada. Essa gordura toda vem de manteiga, oleaginosas, azeite, carnes gordurosas, ovos, queijos e outros alimentos que podem ser indicados por um médico.

Como afeta o cocô e a evacuação: Tanta gordura lubrifica demais as fezes, deixando-as moles, às vezes líquidas. Resultado: diarreia e muitas idas ao banheiro ao longo do dia e mesmo durante a noite, interrompendo o sono.

Como contornar o que prejudique a evacuação: Os grãos podem ser adotados naquele mínimo de carboidratos permitido por dia, para suas fibras ajudarem a normalizar tanto a consistência das fezes quanto o funcionamento do intestino. Se a diarreia estiver muito forte, porém, é imprescindível procurar ajuda médica e se hidratar abundantemente.

Mediterrânea

Como funciona: Baseada na alimentação dos povos que vivem na região do Mar Mediterrâneo (sul da Espanha, sul da França, Itália e Grécia), a dieta mediterrânea traz muitos peixes, vegetais, frutas, azeite, grãos, cereais e oleaginosas, além de uma pequena quantidade de derivados do leite e de vinho, no cardápio. É considerada pela Unesco um patrimônio cultural imaterial da humanidade desde 2010 e está relacionada ao controle do diabetes, redução do colesterol e prevenção de doenças cardíacas e neurológicas (como Parkinson e Alzheimer).

Como afeta o cocô e a evacuação: Se a pessoa já tinha uma dieta equilibrada e apenas fez alterações para se adequar à mediterrânea, nada mudará na consistência das fezes ou na constância de evacuação. Se tinha uma alimentação que desregulava o funcionamento do intestino, deixando-o preso, a tendência é haver uma regularização da situação em curto prazo.

Como contornar o que prejudique a evacuação: Não há prejuízo na evacuação.

Paleolítica

Como funciona: A dieta paleolítica baseia-se no que alguns acreditam que tenha sido a alimentação humana no período paleolítico --carne vermelha magra, peixes, aves, ovos, frutos do mar, vegetais e frutas, além dos carboidratos de raízes e tubérculos (batata, mandioca, inhame e batata doce, por exemplo). Alimentos processados, industrializados e com açúcar refinado ficam de fora, é claro: nada disso não existia naquele tempo.

Como afeta o cocô e a evacuação: Por ser uma dieta rica em fibras, tende a manter regulares tanto o ritmo intestinal quanto a consistência do bolo fecal. O único risco de haver prisão de ventre na paleolítica é se a pessoa exagerar no consumo de carnes (muita proteína) e descuidar no de verduras e frutas (as fibras).

Como contornar o que prejudique a evacuação: Diminuindo a quantidade de carne do cardápio diário e aumentando a de verduras e frutas, além de dar uma atenção extra à hidratação.

Vai seguir uma dieta? Fale com um médico!

Depois disso tudo, vale lembrar: não se deve aderir a uma dieta sem consultar um médico - pode ser o especialista que acompanhe sua saúde rotineiramente ou um clínico geral que peça uma bateria de exames.

"É necessário checar, clinicamente, se o organismo está apto a seguir determinadas dietas. Pessoas com doenças renais não se dão bem com a low carb, porque a ingestão elevada de proteínas sobrecarrega os rins e pode levar à insuficiência renal. Alguns distúrbios hormonais podem se agravar por causa de privações alimentares. E, mesmo que a saúde pareça estar em dia, o médico sempre deve ser consultado para verificar se está mesmo", alerta Prado.

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