Dá para viver mais e melhor

E se em vez de lidar com os problemas da velhice a gente conseguisse desacelerar o envelhecimento?

Nathalie Ayres Do UOL VivaBem Arte/UOL

A busca pela eterna juventude e pela imortalidade está em lendas antigas da civilização. As pessoas buscam viver para sempre, ou pelo menos o máximo de tempo possível. Se hoje vivemos 40 anos a mais do que em 1900 graças aos avanços da medicina e qualidade de vida, também é verdade que hoje enfrentamos doenças que são quase sinônimos de envelhecer: diabetes, colesterol e pressão alta...

Uma das ideias dos cientistas é buscar formas de descobrir e parar o processo metabólico que nos faz envelhecer. Uma dessas vertentes é a medicina anti-aging ou antienvelhecimento. E não estamos falando do seu creme antirrugas.

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Quando (e como) começamos a envelhecer?

Envelhecemos a partir do momento em que nascemos. Mas primeiro, cada parte do corpo segue seu ciclo de desenvolvimento, o que ocorre ao longo das primeiras décadas de vida. Os ossos, por exemplo, atingem seu ápice aos 30 anos. A massa magra está no seu auge por volta dos 25 anos. De uma maneira geral, atingimos a plenitude física e mental por volta dos 30 anos e depois disso algumas funções do corpo entram em declínio.

A partir daí, as pessoas podem ter dificuldades para enxergar de perto, sofrer alguma alteração na audição, os rins vão reduzindo sua capacidade de drenar toxinas e água. E é nesse momento que algumas doenças começam a aparecer. Ao avançar pelos 60 anos de idade, nosso corpo já acumulou a "bagagem" de nosso estilo de vida, ou seja, toxinas e radicais-livres que alteram o DNA das células.

Mas mesmo sem isso, a idade é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas como hipertensão, artroses, problemas arteriais, alguns tipos de câncer, diabetes tipo 2, osteoporose, doenças cardíacas, entre outras. O Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros, parceria da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Minas Gerais com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), realizado com pessoas de 50 anos ou mais, mostrou que 70% delas possuem uma ou mais doenças crônicas.

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A medicina antienvelhecimento

Mas por que essas doenças aparecem com o avançar da idade? Existem diversas hipóteses sobre o envelhecimento. Muitas delas estão ligadas ao DNA das células e a problemas em seu uso, já que o código genético é responsável por dizer ao corpo como devem ser os tecidos e estruturas que ele está construindo.

Uma teoria diferente é a neuroendócrina, em que mudanças na secreção de hormônios do corpo é que resultam nos processos que conhecemos como envelhecimento.

Todas têm em comum o fato de que as doenças relacionadas ao envelhecimento têm o mesmo ponto de partida e que conhecendo que ponto é esse, pode ser possível tratá-lo diretamente. No entanto, esse ramo de pesquisa ainda é muito inicial e causa algumas confusões.

Uma delas é que quando falamos em anti-aging, logo se pensa em cosméticos ou até mesmo na promessa de se viver para sempre. No entanto, o que os médicos e biólogos dessa área buscam são formas de desacelerar o processo de envelhecimento do corpo, retardando diversas doenças crônicas com uma cajadada só e não uma de cada vez.

Outra confusão é achar que já existem hoje formas de retardar ou evitar o envelhecimento: até agora todos os estudos nessa área de pesquisa são iniciais --a maioria com animais ou com pessoas com alguma doença diagnosticada --, portanto nenhum tratamento comprovado cientificamente já está sendo oferecido comercialmente.

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O que a ciência tem hoje sobre o antienvelhecimento?

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    Metformina e restrição calórica

    A metformina é um remédio usado por pessoas com diabetes tipo 2. Em 2014, um estudo publicado no Diabetes, Obesity & Metabolism comparou quem a tomavam com pessoas sem diabetes e diabéticos que usavam sulfonilureia. Uma das conclusões do estudo é que o uso do medicamento trazia uma sobrevida maior aos usuários mesmo comparando com aqueles não tinham a doença. Mas esse estudo foi muito inicial. O processo que a metformina ocasiona nas células é muito semelhante à restrição calórica, quando há diminuição no total de 20% das calorias de uma dieta habitual. Quando as células são submetidas a isso, ocorre o aumento da produção de sirtuínas, ativadores gênicos que levam a autofagia, quando as células reciclam seus componentes, eliminando estruturas danificadas; e também da enzima AMP quinase, que faz com que a célula trabalhe com mais produtividade, economizando energia. Atualmente, esse medicamento está sendo avaliado em um estudo com 13 mil indivíduos saudáveis com mais de 65 anos, sendo que parte deles tomam 1.500 mg de metformina por dia e a outra metade, placebo. O estudo terá 6 anos de duração e deve ser concluído em 2022.

  • 2

    Eliminação das células senescentes

    Células senescentes são células "velhas", que não conseguem mais se reproduzir. Isso acontece porque quando há a reprodução celular, as extremidades dos cromossomos (chamadas telômeros) não são replicadas e vão se encurtando. Só que quando eles acabam, a célula entra em senescência, deixando de se reproduzir. Mas qual é o problema disso? A teoria dos cientistas é de que as células senescentes produzem substâncias que induzem o mesmo processo nas células ao seu redor. Isso faz com que os tecidos não se renovem, causando o envelhecimento e doenças crônicas. Existem uma série de tratamentos sendo estudados para eliminar então essas células. Alguns são os medicamentos senolíticos, como o dasatinibe (remédio para tratar algumas formas de leucemia) e a quercetina (um flavonoide encontrado em algumas frutas e vegetais), entre outras substâncias. Um estudo feito este ano pela Clínica Mayo com 14 pacientes com fibrose pulmonar idiopática, usando essas duas substâncias, teve resultados promissores na eliminação dessas células. Sabe-se também que as células-tronco podem inibir a produção das substâncias dessas células e com isso impedir a expansão da senescência. Em tese isso favorecia certo rejuvenescimento. Isso foi demonstrado em alguns animais, mas em seres humanos vivos nunca foi visto. Há um certo receio em fazer esse tipo de experiência, pois a células-tronco em humanos podem se transformar em qualquer tipo, inclusive uma célula cancerosa.

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    Hormônio do crescimento (GH)

    Na década de 90, o estudo "Os efeitos do hormônio do crescimento humano em homens acima de 60 anos", publicado pelo New England Journal of Medicine, com um grupo de 21 homens com idades de 61 a 81 anos, mostrou que o uso do hormônio do crescimento trouxe aumento de massa muscular e massa óssea, diminuição da gordura corporal e melhorias no aspecto da pele. Na época, o efeito "restaurador" do hormônio foi descrito como responsável por deixar a composição corporal do indivíduo mais jovem. Mas com seus autores apontaram para a necessidade de estudos com grupos maiores de pessoas e o aprofundamento dos efeitos adversos. O que estudos posteriores mostraram, porém, é que seu uso expõe as pessoas a uma série de problemas de saúde como: dores articulares, síndrome do túnel do carpo, ginecomastias (crescimento da mama nos homens), risco de desenvolvimento de diabetes, tumores, entre outras doenças. Tanto o CFM como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) condenam o uso do GH para fins da medicina antienvelhecimento.

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O futuro promete... Mas ainda é só futuro!

Esta e ainda uma nova linha da medicina e, por enquanto, nenhuma delas pode ser usada efetivamente para retardar o envelhecimento. Por isso, se você ouvir de um profissional de saúde que ele tem tratamentos que prometem acabar com o envelhecimento, não acredite! Não existe nenhuma evidência científica de que funcionem e sua prática não é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Estudos preliminares com substâncias antienvelhecimento têm sido feitos por instituições reconhecidas, como MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em tradução livre) e e Clínica Mayo, instituição sem fins lucrativos que oferece serviços médicos e pesquisas em saúde. E esses especialistas não indicam que as pessoas tentem buscar consumir por conta própria substâncias não comprovadas.

Técnicas que misturam sangue de pessoas mais velhas com a de mais novas, para retardar o envelhecimento, eram oferecidas por empresas americanas após a divulgação de alguns estudos preliminares. A FDA (sigla inglesa para Administração de Alimentos e Medicamentos) dos EUA, até mesmo emitiu um alerta de segurança, dizendo que "Não há nenhum benefício clínico comprovado na infusão de plasma de doadores jovens para curar, mitigar, tratar ou evitar essas condições e existem riscos associados ao uso de qualquer produto do plasma".

Por enquanto, as dicas de alimentação saudável, prática de exercício físico e um bem-estar mental ainda são os melhores remédios.

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