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Mãe conta como cuidar do filho com leucemia a ajudou vencer câncer de mama

Gersianni Carvalho, 42, e o filho Hugo, 16 - Arquivo Pessoal
Gersianni Carvalho, 42, e o filho Hugo, 16 Imagem: Arquivo Pessoal

Bárbara Therrie

Colaboração para o UOL VivaBem

16/06/2019 04h00

"Mãe, seu filho está com leucemia e vai precisar fazer quimioterapia". Foi dessa forma que Gersianni Carvalho, 42, ficou sabendo da doença de Hugo, quando ele tinha apenas dois anos de idade. Quase uma década depois, quando ele estava no período de remissão, a dona de casa foi diagnosticada com câncer de mama. Em depoimento ao UOL VivaBem, ela conta como foi de acompanhante a paciente, e como a experiência com o filho a motivou na luta contra seu tumor.

"Em novembro de 2004, eu descobri que o Hugo tinha leucemia, meio que por acaso. Ele bateu a testa na mesa brincando, ficou com um "galo", eu o levei ao hospital, ele fez alguns exames e foi constatado que as taxas de hemoglobina e leucócitos estavam baixas. Ele foi encaminhado ao hematologista. Nesse meio tempo, apareceram umas manchinhas esverdeadas no bumbum e nas costas. Ele repetiu os exames mais duas vezes, fez o mielograma e foi confirmado o diagnóstico de leucemia linfoide aguda.

Festa de Hugo Carvalho de 3 anos - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Festa de Hugo Carvalho de 3 anos
Imagem: Arquivo Pessoal

Eu já suspeitava que havia algo de errado, mas fiquei bastante nervosa quando ouvi a notícia da médica que foi curta e grossa: "Mãe, seu filho está com leucemia, vai precisar fazer quimioterapia, ficar internado e o cabelo dele vai cair".

Foi uma fase bem complicada, eu pedi demissão do emprego para cuidar dele, meu marido estava desempregado, o proprietário da casa onde nós morávamos pediu o imóvel após eu ter contado o problema de saúde do Hugo. Eu acho que ele ficou com medo da doença ser contagiosa.

O Hugo fez quimioterapia dos dois aos cinco anos. Ele me perguntava: "Mamãe, por que você me leva naquele lugar (hospital) todos os dias?". Eu respondia que ele precisava tomar um remedinho para ficar curado. E que se ele não fosse, eu poderia perdê-lo.

Mais de 30 crianças morreram ao longo do tratamento dele. Só em uma noite, foram cinco. Quando meu filho notava a ausência de algum colega, ele me perguntava onde estava. Eu falava que ele já tinha partido e não ia mais voltar.

Não chorava na frente dele, mas por dentro meu coração estava despedaçado

Hugo Carvalho no primeiro dia de tratamento - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Hugo Carvalho no primeiro dia de tratamento
Imagem: Arquivo Pessoal
Na frente dele mantinha o otimismo, dizia que ele ia ficar bem. Personalizava a enfermaria com palhaços, balões, fotos, colocava música. Fazia isso na tentativa de deixar o ambiente mais alegre e sem aquele ar tão pesado de hospital. Mas, por dentro, meu coração estava despedaçado, principalmente quando ele passava mal, vomitava, não comia e perdia peso.

O câncer de mama

Em 2007, o Hugo entrou em remissão da doença e eu tive a minha segunda filha, a Maria Eduarda. Passados cinco anos, em 2012, eu senti uma ardência e fisgadas na lateral do seio esquerdo.

Não dei muita importância na época, estava na correria tentando montar uma loja de informática. O incômodo persistiu mais alguns meses, fiz o autoexame e percebi um nódulo perto da axila. Na hora, veio o pensamento: "Estou com câncer".

Eu passei em uma consulta com a médica do Hugo, fiz alguns exames e biópsia confirmou que o tumor era maligno. Fiquei com medo, mas pensei: "Deus não ia permitir que eu tivesse cuidado de duas pessoas com câncer, meu filho e minha mãe, e agora me deixasse morrer dessa doença". Eu tinha esperança que ia vencer.

Fui para o centro cirúrgico, fiz a mastectomia radical com reconstrução imediata. A cirurgia durou quase 10 horas. As mudanças na minha aparência abalaram um pouco a minha autoestima, a pior parte foi ficar careca.

No dia em que meu marido raspou minha cabeça, fiquei muito triste, mas minha filha mais nova me consolou: "Mamãe, a senhora está linda do mesmo jeito". Ao total, fiz 19 sessões de quimioterapia e 25 de radioterapia.

Ver meu filho completamente curado foi o que me deu força para lutar contra o câncer de mama

Gersianni Carvalho durante tratamento de câncer de mama - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Gersianni Carvalho durante tratamento de câncer de mama
Imagem: Arquivo Pessoal
Se o Hugo, que na época era uma criança aguentou o tratamento, eu também tinha que resistir. Ele estava no período de remissão e ele poderia ter uma recaída.

Se ele precisasse de mim e eu não estivesse por perto, ele poderia ser o próximo a morrer. Eu me levantava todos os dias da cama porque tinha o objetivo de vê-lo completamente curado, foi isso que me fez querer viver.

Em 2014, eu tive alta do tratamento e, três anos depois, eu ouvi da médica a frase que esperei por uma década. O Hugo estava completamente curado da leucemia.

Foi o dia mais feliz da minha vida, meu dever estava cumprido. Eu fui de acompanhante a paciente e posso afirmar que a dor maior é ver quem você ama enfrentando um câncer do que ter a própria doença. Hoje meu filho está com 16 anos, saudável e nem lembra o que passou, mas a recordação que eu tenho daquele tempo me ensinou que nada na vida acontece por acaso. A experiência de ter cuidado dele com leucemia me ajudou na minha própria luta contra o câncer de mama. Nós dois somos vencedores".