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O que acontece com o seu cérebro quando você está apaixonado?

O cérebro tem um papel importante na paixão - iStock
O cérebro tem um papel importante na paixão Imagem: iStock

Gabriela Ingrid

Do UOL VivaBem, em São Paulo

12/06/2019 04h00

Resumo da notícia

  • A paixão ativa o mecanismo de prazer e recompensa, semelhante ao que ocorre com quem tem dependências químicas
  • O cortisol, hormônio do estresse, aumenta, enquanto a serotonina, a da tranquilidade, diminui. Você fica preocupado e ansioso
  • Quando o relacionamento amadurece, a obsessão diminui. Após um ano, o crescimento neural retorna a um estágio normal. É a paixão virando amor

Lá em 1991, Zezé Di Camargo e Luciano já cantaram a bola de qual é a sensação de estar amando: "Eu sou o seu apaixonado de alma transparente, um louco alucinado meio inconsequente, um caso complicado de se entender". E é difícil de entender mesmo. O coração dispara, dá um frio na barriga, perdemos a concentração e capacidade de raciocinar, só pensamos na pessoa. O corpo fica uma bagunça, quase como se estivesse doente... de amor. Mas quem está por trás disso tudo não é o coração, e sim o cérebro.

A atração é um fenômeno que existe em todas as espécies e é essencial para a reprodução, mas a paixão é um sentimento único do ser humano, porque temos um sistema cognitivo mais complexo, ou melhor, sentimos e pensamos sobre essa atratividade. Apesar de brilhante, essa racionalidade é justo o que atrapalha as pesquisas sobre o lado científico do amor e da paixão, afinal, são coisas subjetivas.

Entretanto, os cientistas analisaram os cérebros de indivíduos que se diziam apaixonados e chegaram a conclusões importantes de como esse órgão funciona quando o coração amolece por alguém, da fugaz paixão ao amor duradouro.

Paixão e outras drogas

Na fase inicial da paixão, o cérebro funciona como se você estivesse viciado em alguma droga. Em um estudo realizado por pesquisadores do departamento de psicologia da State University of New York e publicado em 2005 no periódico Journal of Neurophysiology, pessoas que tinham acabado de se apaixonar por alguém fizeram exames de ressonância magnética. Ao analisarem as imagens, os cientistas descobriram que entre as áreas com maior atividade estavam as de recompensa.

Zezé Di Camargo e Luciano cantavam o amor em 1991 - Reprodução - Reprodução
Zezé Di Camargo e Luciano cantavam o amor em 1991
Imagem: Reprodução
Essas regiões são as mesmas ativadas em situações de vício. É lá que o neurotransmissor dopamina é liberado para outras partes do cérebro, disparando uma sensação de prazer. O uso de drogas como nicotina, heroína, cocaína, álcool --insira aqui também o nome da pessoa amada -- é tão prazeroso para o corpo que você sente a necessidade de buscá-lo de novo.

É muito semelhante à ativação neurológica causada pela dependência química. Causa necessidade, desejo, abstinência de quem está longe. Por isso que quando estamos apaixonados temos vontade de estar com a pessoa o tempo todo Roger Taussig, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Louco alucinado

Você já deve ter reparado que no auge da paixão ficamos um pouco loucos, sem controle dos pensamentos, sentimentos e de nossas ações. Isso ocorre porque o córtex pré-frontal, área relacionada à racionalidade e que controla a impulsividade, é inibido, fazendo com que o "louco alucinado" tenha comportamentos sem pensar nas consequências da atitude.

Além disso, estudos já mostraram que o córtex suprarrenal começa a liberar cortisol, o hormônio do estresse. Isso ativa o sistema simpático, responsável pela frequência cardíaca aumentada, pelos arrepiados, a sensação de nervoso e o frio na barriga.

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A paixão provoca comportamentos semelhantes aos de quem tem transtorno obsessivo compulsivo
Imagem: Getty Images

Enquanto o estresse aumenta, a calma diminui. A serotonina, que traz tranquilidade e bem-estar, é reduzida. "Essa combinação de cortisol alto e serotonina baixa provoca um pensamento recorrente na pessoa amada que às vezes é parecido com TOC (transtorno obsessivo compulsivo)", diz Julio Pereira, neurocirurgião da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Você fica preocupado o tempo todo, ansioso porque o crush não respondeu sua mensagem no Whatsapp (imagina quando não visualiza? É quase um infarto), ou seja, fica com medo da perda.

Que se chama amor

Apesar de ser uma confusão prazerosa, a paixão dura de um a dois anos. Após um ano, por exemplo, o crescimento neural retorna a um estágio normal, o cérebro volta a produzir serotonina e, por isso, um sentimento de confiança começa a fazer parte do relacionamento.

Além disso, após algum tempo descontrolado, o cérebro começa a soltar hormônios relacionados à formação de vínculos duradouros, como a oxitocina, também liberada no parto ou no sexo, e a angiotensina, também encontrada na gestação.

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Mesmo quando vira amor, os neurotransmissores da paixão circulam pelo cérebro
Imagem: iStock

É o amor que está no ar, formando relações mais duradouras. Mas apesar de menos intenso, o amor também tem seus impactos no cérebro. Mesmo quem se relaciona há muitas décadas pode ter ativação do sistema de recompensa. "Por exemplo, pessoas que praticam a mesma atividade física há anos ainda têm uma sensação de prazer em fazer aquilo, mas não de forma tão eufórica", diz Pereira.

O neurologista conta que quando você olha para um foto da pessoa amada, os mesmos neurotransmissores da paixão são liberados, mas em outras partes do cérebro, principalmente as relacionadas à memória, como o hipocampo.

É aí que a paixão se transforma em algo maior. Como aquela dupla sertaneja bem explicou: "É o amor que derrubou a base forte da minha paixão e que fez eu entender que a vida é nada sem você".

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