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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Por que nos tratamos tão mal? Veja como ser mais gentil consigo mesmo

Tratar mal a si mesmo influencia em como os outros vêem você - iStock
Tratar mal a si mesmo influencia em como os outros vêem você Imagem: iStock

Amanda Massarana

Colaboração para o UOL VivaBem

01/05/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Muitas pessoas tem um discurso consigo mesmo de culpa e acusação, o que pode prejudicar como essa pessoa se apresenta aos outros
  • Tratar a si mesmo mal pode até mesmo prejudicar o desempenho da pessoa no trabalho e em relacionamentos
  • Para começar a se tratar melhor é importante observar o próprio discurso e buscar ajuda se necessário

Pense em como você enxerga os seus amigos, pessoas queridas da sua vida. Qual a imagem que tem deles? Provavelmente aparecerão na sua cabeça muito mais elogios do que críticas. Agora tente fazer esse exercício pensando em você. Está sendo igualmente generoso a seu respeito ou faz mais o tipo carrasco de si mesmo?

Em momentos comuns do dia a dia, é possível encontrar situações em que somos extremamente duros com nós mesmos: se algo fugiu do controle, foi porque "eu não faço nada certo"; se alguém brigou com você, é porque "ninguém gosta de mim mesmo"; se o relacionamento não foi pra frente, é porque "eu não sou uma boa pessoa".

Muitas pessoas não conseguem perceber suas próprias qualidades, ou pelo menos não da mesma forma com que veem as outras pessoas. Difícil saber como essa autodepreciação começa, principalmente porque não há como determinar o quanto do que a gente é vem de dentro de nós mesmos e o quanto vem de fora, por influências externas. "Nada é absoluto, nada é só o que o sujeito traz, nem nada é só o que vem de fora. Você é aquilo que você faz com o que você herdou", afirma a psicóloga Solange Emilio, professora do curso de Psicologia da Universidade Anhembi Morumbi.

Por que você deveria se tratar como um amigo?

Ao se tratar e se ver dessa maneira negativa, isso acaba sendo exteriorizado. "A tendência é que, se a pessoa se vê assim, ela muitas vezes se posiciona assim na vida, ela se mostra para o mundo dessa forma, já se desqualificando. E, ao se desqualificar pro outro, ela poderá receber um retorno negativo, o que vira um ciclo vicioso", conta Emilio. "Ela não mostra o melhor que tem, mostra o pior, e fica reconhecida pela falha. Então, não consegue se manter em um emprego, ir em encontros, se acha feia, desinteressante, acha que ninguém vai valorizá-la", completa.

A somatória dessas situações vão "confirmando" para a pessoa o que imaginava dela mesma, fazendo com que, em casos mais graves, ela comece a se isolar, podendo até desenvolver alguma patologia.

"O principal prejuízo disso tudo é o sofrimento, já que sustentar essas crenças negativas tem um custo psicológico muito alto, gera um desconforto e uma insegurança muito grande", ressalta o psicólogo André Rabelo, pesquisador de pós-doutorado da Universidade de Brasília.

Em alguns casos, esse tipo de pensamento pode até atrapalhar o desenvolvimento e o potencial que a pessoa tem dentro dela. Rabelo conta que pode ocorrer uma "profecia autorrealizadora", na qual a pessoa tem uma crença de incompetência e acha que nada que faz é suficiente. No ambiente de trabalho, por exemplo, o indivíduo já prevê alguma falha em si mesmo e, pensando nisso, fará algo abaixo do esperado e será levado ao meu resultado negativo. "Se eu acho que farei besteira, acabo me esforçando menos, peço menos ajuda, acabo me sabotando sem perceber, me encaminhando para esse resultado", destaca o especialista.

Como começar a se tratar melhor

O pensamento que logo vem a nossa cabeça ao nos depararmos com alguém que não está sendo tão gentil consigo é: "não diga isso, você precisa se amar, tenha calma". O problema é que isso não funciona, porque a pessoa não tem esse comportamento porque quer, não é algo necessariamente racional ou deliberado. Ao oferecer ajuda, é preciso acolher essa pessoa e a forma como ela consegue se sentir naquele momento e então entender como ajudar.

Algumas pessoas podem ter esse comportamento querendo ganhar um elogio ou outras porque de fato acreditam que não têm nada bom para mostrar. Isso é construído ao longo de toda uma vida, desde pequeno. "Ao identificar esse comportamento, o melhor é oferecer escuta, dar um retorno verdadeiro e empático do que pensa sobre a pessoa", diz Emilio.

Por outro lado, se essa questão vem de algum lugar íntimo e interno, é importante pedir a ajuda de um psicoterapeuta. "Essa mudança de crença é um processo difícil já com o acompanhamento profissional, sozinho é mais difícil ainda", explica Rabelo. Ele aponta que, no geral, bons hábitos, como praticar a autocompaixão, manter bons relacionamentos, boa alimentação, sono, são fatores básicos que contribuem para uma melhora.

5 frases que você poderia evitar no seu dia a dia

Ao evitar essas frases, você passa a ser mais gentil consigo mesmo, o que pode amenizar esse desconforto. Porém, vale lembrar que a ajuda de um profissional é sempre bem-vinda e que esse tipo de cuidado, por si só, pode não surtir na solução absoluta da questão.

1. Eu faço tudo errado sempre
Todo mundo erra em graus diferentes, mas o que vale é absorver as lições que tiramos desses erros e seguir em frente.

2. Ninguém nunca vai conseguir gostar de mim
Quem primeiro precisa te amar é você mesmo. Só assim estará pronto para que os outros te amem em sua completude.

3. Sou muito burro
Se está insatisfeito com o seu desempenho, seja no trabalho ou na faculdade, pense no que pode fazer para mudar isso. Peça ajuda.

4. Eu não vou conseguir
Esse tipo de sentimento tem a capacidade de nos paralisar e não conseguir ver em perspectiva no que, de fato, estamos errando.

5. Eu sou uma péssima pessoa
Você tem todo o direito de estar insatisfeito consigo mesmo, mas qual o próximo passo então? Por que está se sentindo assim? Mergulhe em seus sentimentos e se dê outra chance.

Fontes: André Rabelo, psicólogo e pesquisador de pós-doutorado da Universidade de Brasília; Solange Emilio, psicóloga e professora do curso de Psicologia da Universidade Anhembi Morumbi; Eduardo Gontijo, psicólogo, psicanalista e professor de Ética na Especialização em Neuropsicologia da (FCMMG) Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.

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