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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Já pensou em deixar de seguir algumas pessoas nas redes? Pode te fazer bem

No entanto, vale prestar atenção no que incomoda você nessas pessoas e entender os sentimentos por trás disso - iStock
No entanto, vale prestar atenção no que incomoda você nessas pessoas e entender os sentimentos por trás disso Imagem: iStock

Bárbara Stefanelli

Colaboração para o UOL VivaBem

10/04/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Deixar de seguir as pessoas com uma vida social perfeita nas redes sociais pode evitar sentimentos negativos a respeito da própria vida
  • No entanto, é muito importante entender por que as postagens daquelas pessoas incomodam e se aproximar desses sentimentos
  • Lembre-se também de que a vida real das pessoas nem sempre corresponde ao que elas mostram na internet

Já aconteceu de alguém que você segue nas redes sociais começar incomodar tanto, a ponto de você ter de deixar de seguir essa pessoa (ou pelo menos desejar isso)? Seja por desavenças políticas, estilos de vida completamente diferentes, excesso de fotos de criança ou de viagens ou simplesmente por pura inveja, este "unfollow" (expressão inglesa que significa "deixar de seguir") pode ser libertador. Inclusive, muitos influenciadores digitais têm incentivado esse comportamento, principalmente para perfis de pessoas que expõe vidas perfeitas.

Pois saiba que, quando bem pensada, a decisão pode ser bastante benéfica para sua saúde emocional. "É muito importante que as pessoas desenvolvam a consciência de com que elas se conectam na vida", afirma Cristiano Nabuco, psicólogo do PRO-AMITI (Programa Ambulatorial dos Transtornos do Impulso) do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo) e blogueiro do UOL VivaBem.

De acordo com o profissional, por mais que as pessoas já saibam que muito do que é postado nas redes sociais acaba sendo "envernizado", elas acabam ficando emocionalmente incomodadas vendo o feed dos outros. "Isso reflete uma premissa básica do cérebro: tendemos a seguir tudo aquilo que deu certo".

Nabuco lembra que, antigamente, as tribos humanas tinham a figura do macho alfa, aquele que caçava e protegia a comunidade. "Quando você entra em uma rede social e segue 5 mil pessoas, você verá 5 mil machos alfa. Seu cérebro fica mal, porque entende que só você não é um, só você não consegue ser bem-sucedido", explica o especialista.

Como lidar, então, com a seleção natural das redes?

Influenciadora Nath Araújo ilustrou uma receita para ser saudável nas redes sociais - Nath Araújo / Instagram @nanaths - Nath Araújo / Instagram @nanaths
Influenciadora Nath Araújo ilustrou uma receita indicando o unfollow como uma forma de ser saudável nas redes sociais
Imagem: Nath Araújo / Instagram @nanaths
Para Flora Victoria, especialista em psicologia positiva e presidente da SBCoaching (Sociedade Brasileira de Coaching), é da natureza do ser humano essa necessidade de se sobressair. "Isso vem da sobrevivência da espécie. Você precisa ser melhor, é instintivo". Portanto, é natural surgirem comparações com toda essa exposição que ocorre online.

A comparação, no entanto, age de forma diferente em cada um. Enquanto uns se sentem mal com o sucesso do outro ("a grande maioria", de acordo com Flora), outros se inspiram, pensando que também podem chegar lá. "As pessoas que são felizes ou estão se sentindo bem não se incomodam com o que está acontecendo à sua volta. O grande problema é quando quem está se comparando não tem autoestima ou percepção sedimentada de seu próprio valor", diz a especialista.

Observe o que o incômodo diz sobre você e suas emoções

O botão de unfollow é livre e pode ser usado a qualquer momento. A questão é ver quantas pessoas você terá de deixar de seguir até olhar se existe algo maior por trás do incômodo. Uma, duas, três pessoas, tudo bem. Mas quando esse hábito se torna recorrente é porque, provavelmente, você não está se fazendo a pergunta correta: "Por que eu me sinto mal quando vejo alguém que considero melhor que eu?".

O ideal é que deixar de seguir seja uma sugestão, mas nem sempre o caminho. Nesses casos, é importante olhar para dentro e se entender, ter coragem de ver seus incômodos de uma forma honesta. Depois disso, é hora de buscar descobrir suas forças e talentos, porque este é um dos caminhos para aumentar a autoestima.

E lembre-se: a régua das pessoas que estão muito envolvidas nos meios virtuais é muito alta, pois sempre está todo mundo muito feliz, viajando ou apaixonado. "Mas em vez de se incomodar com isso, pare para se concentrar na sua próxima viagem, naquela que você pode fazer uma vez por ano", aconselha a presidente da SBCoaching.

Nabuco ressalta que existe uma personalidade tecnológica que assumimos quando estamos no mundo online, que tem algumas de nossas características, mas não corresponde a personalidade verdadeira.

Eles deixaram de seguir pessoas e hoje se sentem melhor

Escolher seus seguidores a dedo pode até ser uma maneira de poupar seu tempo e ser mais produtivo. Foi o que decidiu Felippe Fidelis de Paiva, 38, coach de propósito, ao ver que estava seguindo mais de 2.000 pessoas.

Fui me perguntar porque eu seguia aquelas pessoas e o que eu queria delas. Percebi que tinha muita coisa desconectada com o meu momento de vida" Felippe Fidelis de Paiva

"E toda vez que faço uma limpa no meu Instagram, percebo uma melhora dentro de mim, porque os conteúdos que aparecem passam a ser mais relevantes. É muito mais leve e gostoso [ficar na rede social]. E também se reflete em menos tempo que eu passo na rede social", acrescenta Fidelis.

Muitas vezes, no entanto, esse unfollow pode ter um preço alto, principalmente quando é um conhecido, como familiar, chefe ou amigo próximo. Mas até nesses casos dá para dar um jeitinho, só silenciando as publicações (veja, por exemplo, como fazer isso com os stories do Instagram). Foi o que fez Lorena*, 39, barista, ao ver o overposting das fotos de viagem de uma amiga com o namorado.

"Assumo que pode ter sido um recalque meu. Mas aquele bombardeamento estava ficando muito chato e virou até papo entre nossos amigos. Então, silenciei os posts dela. Aí um dia nos encontramos e passamos horas juntas. Foi maravilhoso. Na vida real, ela é ótima e não preciso lidar com aquela persona da internet."

Já Natasha*, 30, jornalista, fez o mesmo com um amigo por que não concorda com suas posições políticas, mas deseja preservar a amizade na vida real. "Não o sigo mais no Facebook, mas sigo sendo amiga dele na rede social e pessoalmente e sinto muito carinho, mesmo sem concordar com suas posições. Não saber o que ele pensa sobre alguns assuntos me ajuda continuar com essa convivência".

*Os nomes foram alterados a pedido das personagens.

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