Água gelada fecha veias do coração e provoca infarto?

Renata Turbiani
Imagem: Priscila Barbosa/UOL VivaBem

Você já deve ter visto nas redes sociais ou em algum grupo da família no WhatsApp um texto alertando que a água gelada é extremamente prejudicial à saúde. Ele diz que a bebida "fecha" quatro veias do coração, causa ataque cardíaco, "prende" a gordura no fígado e afeta as paredes internas do estômago e do intestino, inclusive originando câncer.

Ficou assustado? Mas será que alguma dessas informações é verdadeira? Nenhuma. Aliás, nem mesmo aquela velha história de que água gelada, ou qualquer líquido em temperatura mais baixa, provoca gripe, resfriado e dor de garganta procede --o que acontece, nestes casos, é que eles podem piorar o quadro se a pessoa já estiver com o agente causador, normalmente um vírus, instalado.

Por que água gelada não faz mal ao coração

Segundo os especialistas, a água gelada não influencia em nada o fluxo das artérias coronarianas. Ou seja, ela não tem capacidade de comprimir ou entupir as veias e nem acarreta infarto.

Alguns dos principais fatores de risco para essa e outras doenças cardiovasculares são tabagismo, sedentarismo, obesidade, má alimentação, colesterol alto, hipertensão, diabetes, estresse e histórico familiar. Em alguns casos, processos inflamatórios, como gripe e enterovirose, também são o gatilho.

Vale salientar que, apesar de incomum, algumas pessoas apresentam sensibilidade à água gelada. Dessa forma, quando a ingerem, pode ocorrer um estímulo do nervo vago (ou pneumogástrico), provocando queda de pressão e dos batimentos cardíacos e sensação de tontura e mal-estar.

Água gelada prende gordura no fígado?

Mais uma informação infundada do texto sobre a água gelada é a de que ela "prende" gordura no fígado. Grande bobagem, e por dois motivos. O primeiro é a que a bebida nem passa por este órgão ao ser tomada --seu percurso natural é atravessar o esôfago e o estômago e ser absorvida pelas paredes do intestino delgado, de onde segue pela corrente sanguínea até chegar aos rins.

O segundo é que a esteatose hepática, patologia conhecida popularmente como gordura no fígado, é resultante de fatores que nada têm a ver com a água, seja ela da temperatura que for. Eles são divididos em alcoólicos (consumo excessivo de álcool) e não alcoólicos (obesidade, sedentarismo, aumento de triglicerídeos, má alimentação, uso incorreto ou exagero de determinados medicamentos como corticoide e estrógeno, diabetes, colesterol alto, hipertensão e inflamação crônica do fígado).

O líquido prejudica o estômago?

Quando se trata do estômago, não existem comprovações de que a água gelada cause problemas crônicos ou graves. A exceção fica por conta de uma reação gástrica aguda possível de ocorrer ao se consumir algo muito frio ou quente. Mas este desconforto é momentâneo e nada prejudicial.

Dentre as doenças que afetam as paredes do órgão, destaque para gastrite e úlcera gástrica, sendo que ambas podem ser causadas pela bactéria H. pylori (Helicobacter pylori) ou alimentação inadequada, estresse, abuso de remédios --em especial anti-inflamatórios -- e álcool.

O líquido afeta o intestino e causa câncer?

No caso do intestino, mais uma vez não há nada que mostre que a água gelada seja prejudicial. Muito pelo contrário. É sabido que o líquido (em qualquer temperatura) melhora o seu funcionamento, pois auxilia na lubrificação das paredes intestinais e na movimentação do bolo fecal, evitando a constipação.

Falando especificamente sobre câncer, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) diz que os principais fatores relacionados ao maior risco de desenvolver a doença são idade igual ou acima de 50 anos, excesso de peso, tabagismo, consumo abusivo de álcool e alimentação não saudável, pobre em frutas, vegetais e outros alimentos que contenham fibras. Ou seja, água gelada não passa nem perto da lista de coisas associadas ao surgimento de tumores.

Benefícios da água

A água constitui cerca de 70% do corpo humano e participa de todos os processos de funcionamento do organismo. Dentre as suas funções estão distribuir os nutrientes para os órgãos, regular a temperatura corporal, eliminar toxinas e, como já informado, estimular o trânsito intestinal.

Independentemente da temperatura em que é consumida, ela é fundamental para manter pele, cabelo e unhas bonitos e saudáveis, evitar inchaços, prevenir problemas renais, facilitar a digestão e melhorar a circulação sanguínea. O ideal é ingerir, diariamente, 30 ml por quilo de peso. Por exemplo: uma pessoa de 70 quilos precisa beber 2,1 litros por dia --mas esse valor pode ser maior ou menor conforme nível de atividade física, alimentação, temperatura ambiente etc.

8 sinais de que você bebe menos água do que precisa

A ingestão de água é vital para o funcionamento do nosso corpo. Então, confira, a seguir, uma lista dos sintomas mais comuns relacionados à falta de água no organismo. Fontes: Luiza Savietto, médica nutróloga de SP, e Marcio Krakauer, diretor da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional SP). Por Marcelle Souza, colaboração para o VivaBem.DiVasca/VivaBem
Nosso cérebro é um dos órgãos que mais demanda água e a desidratação pode causar dor de cabeça e tontura. Isso acontece por várias razões. A explicação mais comum é que, quando há pouco líquido, ocorre uma contração dos vasos do cérebro, que gera uma sensação dolorosa. Além disso, sem água suficiente, algumas substâncias não estão diluídas, e o rim não consegue eliminá-las de uma maneira eficazDiVasca/VivaBem
É um dos sinais mais eficientes de que você precisa ingerir mais água: urina amarelada escura e com odor mais forte que o normal. Isso acontece por conta da concentração mais alta de ureia, que é a forma que o corpo tem de eliminar as proteínas ingeridas. Caso não beba água o suficiente, o corpo retém o líquido que está armazenado e reduz a eliminação de água pelos rinsDiVasca/VivaBem
Assim como a urina, isso também pode acontecer com o suor quando você toma pouca água. A explicação é a mesma do item anterior: quanto menos diluídas estão as toxinas que devem ser liberadas pelo corpo, mais forte será o odor do seu suorDiVasca/VivaBem
Muita gente não faz essa relação, mas aumentar a ingestão de água pode ser um ótimo remédio para quem sofre de prisão de ventre. Isso acontece porque os movimentos peristálticos, realizados de modo involuntário pelo tubo digestivo, dependem da hidratação. Assim, o bolo alimentar será transformado em bolo fecal com mais facilidade e chegará ao reto para ser eliminado na forma de fezesDiVasca/VivaBem
Esses são considerados sintomas tardios da baixa ingestão de líquidos. A água participa de diversas reações químicas no organismo e cada setor vai "reclamar" da sua maneira. Se o sistema nervoso é afetado, você pode ter um sintoma emocional, porque algumas proteínas não estão sendo quebradas pela água (hidrolisadas)DiVasca/VivaBem
Assim como outras partes do corpo, os músculos precisam de bastante água para funcionar de modo adequado. Isso porque a contração muscular exige um certo equilíbrio da concentração de minerais, e água é elemento central para que algumas reações químicas aconteçam no corpo. Sem líquido suficiente, o resultado pode ser o aparecimento de cãibrasDiVasca/VivaBem
Por essa você não esperava, mas muita vontade de comer doce pode ser uma estratégia do seu corpo para dizer que você precisa de água. Isso acontece porque quando a água está carregada de glicose ou sódio, sua entrada é facilitada nas células. Sabe quando o médico diz para a criança desidratada tomar soro caseiro? É pensando nessa "mãozinha" que o sal e o açúcar dão ao organismoDiVasca/VivaBem
Pode parecer óbvio, mas nem todo mundo presta atenção nos sintomas da sede. Pele e boca secas são sinais tardios, mas significam um forte indício de que você precisa aumentar a ingestão de líquidosDiVasca/VivaBem

Fontes: Agnaldo Piscopo, cardiologista e diretor do Centro de Treinamento em Emergências da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo); Carlos Frederico Porto Alegre, professor da pós-graduação em gastroenterologia na PUC- RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), professor da Universidade Estácio de Sá e membro titular da SBGRJ (Sociedade de Gastroenterologia do Rio de Janeiro) e da FBG (Federação Brasileira de Gastroenterologia); e Fausto Nakandakari, otorrinolaringologista do Hospital Sírio Libanês.

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