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Oclusão vascular: limitar fluxo sanguíneo ao treinar funciona? É perigoso?

Sem orientação, bloquear o fluxo sanguíneo ao levantar peso pode ser perigoso - iStock
Sem orientação, bloquear o fluxo sanguíneo ao levantar peso pode ser perigoso Imagem: iStock

Diana Cortez

Colaboração para o UOL VivaBem

18/02/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Método que restringe o fluxo sanguíneo durante o treino tem atraído quem busca hipertrofia
  • A técnica antecipa a fadiga muscular, exigindo menos peso e repetições no treino
  • Pesquisas mostram que o treinamento de oclusão vascular não garante maior ganho de massa que o treino "convencional"
  • Se feito sem orientação ou com acessórios inapropriados, o método pode trazer prejuízos à saúde

Na busca por um corpo malhado, muitas pessoas investem em diferentes técnicas e modalidades com o objetivo de otimizar os resultados dos exercícios físicos. E uma opção que vem sendo divulgada e praticada cada vez mais por quem quer músculos aparentes é o treinamento com oclusão vascular, ou Kaatsu Training.

Apesar de o assunto te começado ganhar mais destaque nas academias por aqui recentemente e ser uma novidade para muitas pessoas, trata-se de uma técnica desenvolvida na década de 1960 pelo cientista do esporte e fisiculturista japonês Yoshiaki Sato. 

Como funciona

Na prática, o método sugere realizar exercícios de hipertrofia (a famosa musculação) com câmaras pneumáticas de pressão controlada posicionadas junto às axilas e abaixo dos glúteos. Elas fazem o papel de "garrotes" que restringem o fluxo sanguíneo parcialmente para os braços e as pernas durante o exercício, reduzindo a oxigenação nos membros e criando um estresse metabólico por conta de substâncias produzidas com o exercício.

Esse processo promove a adaptação das células que ativam as fibras musculares, gerando o crescimento dos músculos e também o ganho de força. "O mesmo acontece em um treinamento convencional de hipertrofia. A diferença é que a técnica antecipa a fadiga necessária para os músculos se desenvolverem, exigindo menos repetições e bem menos peso durante o treino: entre 20% e 40% da carga máxima que o atleta consegue suportar, explica Cauê La Scala Teixeira, professor de educação física, especialista em fisiologia do exercício e treinamento de força, professor na Faculdade de Praia Grande e autor do livro Treinamento de Força com Oclusão Vascular (ed. Lura).

É eficiente?

Mas ainda há muita discussão sobre a eficácia da técnica e o protocolo ideal a ser seguido mesmo com diversos estudos e mais de 1500 publicações sobre o tema: "Algumas pesquisas mostram que, ao treinar até a fadiga, o resultado será igual independente da carga usada, havendo ou não a oclusão vascular", explica Paulo Gentil, mestre em educação física, doutor em ciência da saúde e professor na UFG (Universidade Federal de Goiás).

Uma revisão de estudos sobre o assunto feita por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) em 2018 comparou os resultados do treino tradicional de hipertrofia com o treinamento de oclusão vascular e mostrou que os resultados em relação ganho de massa muscular são iguais para ambos. Mas, no quesito força, o método tradicional ainda apresenta melhores resultados.

Para pessoas com condições de realizar um treino convencional, o treinamento com oclusão não vale a pena. Ele não vai trazer nenhum benefício adicional" Paulo Gentil, doutor em ciências da saúde

No entanto, a técnica se mostra interessante para aquelas que possuem algum tipo de limitação para suportar cargas pesadas nos treinos. É o caso de pacientes que possuem alguma condição ortopédica, como artrose, ou que estejam em reabilitação por conta de algum tipo de lesão, fratura ou cirurgia. "Nesses casos, a prática também se mostra capaz de acelerar a recuperação, além de minimizar a perda de massa muscular", fala Teixeira. 

Riscos e limitações

Outro ponto sensível do método é em relação aos possíveis riscos e efeitos colaterais, que podem ser desde um simples formigamento e hematomas na pele até um quadro de trombose e embolia pulmonar, mesmo que as chances desses dois últimos sejam bem reduzidas --abaixo de 0,055% segundo um estudo realizado no Japão em 2006.

Gentil alerta que ninguém deve usar elásticos ou qualquer outro material para bloquear o fluxo sanguíneo: "Pode ser uma experiência perigosa, com riscos de danos no tecido muscular e também no sistema circulatório se a pessoa obstruir demais a passagem do sangue", finaliza.

A técnica exige o uso de um equipamento específico que possibilite regular a pressão o tempo todo, além de acompanhamento de profissionais qualificados e experientes. Mais: não pode ser feita por qualquer um.

"Justamente por restringir o retorno venoso, a prática é contraindicada para portadores de doença vascular periférica e a qualquer pessoa que tenha uma condição não controlada, como diabetes, hipertensão ou ainda pacientes com histórico de AVC (acidente vascular cerebral) ou alguma doença cardíaca", alerta Teixeira.

No Japão, já é comercializado um sistema computadorizado de controle da pressão com câmara inflável integrado. No entanto, o custo para outros países ainda é muito alto. No Brasil, existem adaptações similares a um aparelho de aferir pressão analógico que possibilita ao profissional de educação física monitorar a restrição sanguínea durante a atividade física.

"Mas esse equipamento não é prático, uma vez que é preciso ter dois profissionais para acompanhar a pressão durante o exercício, um em cada membro do atleta", finaliza Gentil. 

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