Topo

O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Disfunção erétil afeta metade dos homens após os 40 anos; veja causas

A disfunção erétil pode ser causada por fatores físicos e psicológicos  - Camila Rosa/VivaBem
A disfunção erétil pode ser causada por fatores físicos e psicológicos Imagem: Camila Rosa/VivaBem

Tatiana Pronin

Colaboração para o UOL VivaBem

08/01/2019 04h00

Entenda as causas, tipos, como evitar e tratar a disfunção erétil, problema que afeta muitos homens

A ereção é um sistema engenhoso que depende do sistema nervoso, da circulação sanguínea e de várias estruturas na região do pênis. O centro do órgão sexual masculino, da base à glande, é formado pelos corpos cavernosos, que são duas espécies de cilindros interconectados que funcionam como câmaras, e um terceiro cilindro que envolve a uretra e se chama corpo esponjoso.

Como ocorre a ereção

Após um estímulo erótico que envolve qualquer um dos sentidos, o cérebro envia sinais nervosos para a região peniana, o que gera um grande influxo de sangue na região do pênis. À medida que os corpos cavernosos se enchem, o corpo esponjoso se expande e o pênis se alonga. Por um sistema que se assemelha a uma válvula, o sangue é aprisionado nas câmaras, o que garante rigidez suficiente para a penetração. Após a ejaculação, o fluxo de sangue diminui, o sistema de válvula se abre e a estrutura se torna flácida de novo.

Veja também

Para que esse processo ocorra de maneira satisfatória e consistente, são necessárias terminações nervosas que tragam o estímulo, artérias capazes de se dilatar e trazer o sangue com alto fluxo, e corpos cavernosos relaxados o suficiente para ativar esse sistema de válvula.

Essa estrutura interna do pênis é uma mistura de vasos sanguíneos com células de musculatura lisa que não é controlada voluntariamente, mas que responde a estímulos, assim como a musculatura cardíaca. O óxido nítrico é o principal mensageiro químico envolvido no relaxamento dos corpos cavernosos.

O que é disfunção erétil?

A disfunção erétil (DE) é definida como a incapacidade de iniciar ou manter uma ereção suficiente para uma relação sexual satisfatória. O conceito é amplo e pode ocorrer por uma dificuldade ou falha no funcionamento de uma ou mais estruturas envolvidas. Embora muita gente utilize o termo "impotência sexual" para se referir ao problema, os especialistas evitam utilizá-lo por causa da conotação negativa que possui.

Problema é muito comum

Segundo pesquisas da Sociedade Brasileira de Urologia, cerca de metade dos homens com mais de 40 anos apresentam queixas relacionadas à ereção. Estudos norte-americanos mostram uma prevalência de disfunção erétil pelo menos leve em torno de 40% aos 40 anos e de quase 70% aos 70 anos. Para disfunção grave, as proporções são ao redor de 20% e 50%, respectivamente. Os números são parecidos no mundo todo, o que comprova que o problema é mais frequente do que se imagina.

Causas e tipos

Existem diversas classificações para a disfunção, mas a maioria dos especialistas leva em consideração três principais tipos de DE:

Orgânica Mais comum a partir dos 40 anos, envolve uma causa física. Problemas cardiovasculares, metabólicos, neurológicos, hormonais, cirurgias ou uso de certos medicamentos ou substâncias são os motivos mais frequentes por trás do problema.

Psicogênica Quando não há qualquer problema físico que explique a dificuldade, o que é mais frequente em jovens. O principal responsável por esse tipo de disfunção erétil é a ansiedade e o medo de falhar. Nesse caso, fatores psicológicos têm uma consequência física: os picos de adrenalina levam à contração das estruturas que deveriam estar relaxadas para a válvula que mantém a ereção funcionar.

Mista Quando a dificuldade envolve fatores físicos e psicológicos.

Uma das principais diferenças da disfunção erétil psicogênica e orgânica é que, no primeiro caso, a dificuldade simplesmente desaparece em certas situações. Por isso uma das primeiras perguntas que o médico vai fazer em caso de queixas é sobre as ereções não sexuais, como as masturbatórias ou as ereções noturnas e matinais, que ocorrem normalmente. Se nessas situações estiver tudo bem, é provável que a ansiedade esteja por trás do problema.

Fatores de risco

Idade: quanto maior a idade, maior a propensão à disfunção erétil.

Problemas emocionais: depressão, ansiedade, medo de desapontar a(o) parceira(o), problemas de relacionamento e estresse têm reflexo direto no desempenho sexual.

Abuso de álcool: a embriaguez pode gerar uma inibição tão grande que a ereção não se sustenta. Além disso, a desidratação resultante do consumo excessivo também pode atrapalhar a circulação no pênis.

Drogas ilícitas: embora no início a sensação seja de melhora, com o tempo ou o abuso, substâncias como cocaína, maconha e drogas sintéticas tendem a prejudicar a ereção e a libido por seus efeitos no cérebro.

Anabolizantes: o uso de esteroides em altas quantidades ou por longos períodos interfere na produção natural de testosterona.

Medicamentos: alguns remédios podem ter problemas de ereção como efeito colateral. É o caso de certos tipos de anti-hipertensivos, antipsicóticos, ansiolíticos e antidepressivos, entre outros.

Cirurgias: procedimentos como cirurgias para retirada da próstata, bem como a radioterapia pélvica, podem resultar em lesões nos nervos. Os riscos são variáveis, e muitas vezes o problema é apenas temporário.

Problemas hormonais: o diabetes pode afetar a ereção por alterar o funcionamento de artérias e nervos; níveis baixos de testosterona (hipogonadismo), hiperprolactinemia e distúrbios da tireoide também podem interferir negativamente, e devem ser tratados.

Problemas neurológicos: qualquer doença que afete o cérebro (como Alzheimer e Parkinson), a medula ou os nervos periféricos pode afetar a função erétil.
Tabagismo: as substâncias do cigarro prejudicam as artérias e a circulação sanguínea.

Pressão alta, sedentarismo, obesidade e colesterol alto: os mesmos fatores de risco para aterosclerose e doenças cardiovasculares são uma ameaça às ereções, já que gera prejuízos à circulação.

Diagnóstico

Todo homem que apresenta queixas relacionadas à ereção deve consultar o urologista. Além de avaliar os sintomas e o histórico do paciente, o médico pode solicitar alguns exames, como perfil hormonal, o ecodoppler peniano (que avalia o fluxo arterial e o funcionamento do mecanismo de válvula) e o teste de intumescência peniana noturna (com uso de um aparelho que analisa a qualidade das ereções durante a madrugada).

A disfunção erétil costuma ser um sinal precoce de doenças cardiovasculares. Homens com o problema têm risco mais alto de infarto e AVC (acidente vascular cerebral), segundo pesquisas, por isso é recomendável que uma avaliação cardiológica acompanhe o diagnóstico.

Tratamentos

O acompanhamento médico é indispensável para a investigação, diagnóstico e discussão sobre as opções mais indicadas para cada caso. As principais formas de tratamento são as seguintes:

Inibidores da fosfodiesterase 5 (ou PDE5): a sildenafila (Viagra) foi o primeiro medicamento dessa classe a ser lançado, mas existem outros, como a tadalafila (Cialis) e a vardenavila (Levitra). Alguns facilitam a ereção por períodos de cerca de quatro horas, enquanto outros podem durar até 36 horas.

Essas pílulas, que revolucionaram a vida dos homens, atuam no relaxamento da musculatura lista, melhorando o fluxo sanguíneo e a ativação do sistema de válvula no pênis. São bastante seguros e têm taxa de eficácia acima de 70%, mas podem causar efeitos colaterais como calor e rubor na face, dores de cabeça, sintomas de rinite, gastrite e alterações visuais, que melhoram conforme as drogas perdem seu efeito.

São contraindicados para homens com dores no peito durante esforço físico e usuários de remédios para o coração à base de nitratos, pois a interação medicamentosa pode provocar queda brusca de pressão arterial.

Injeções penianas: se o paciente não responde às pílulas ou não podem utilizá-las, o tratamento de segunda linha é com drogas injetadas pelo próprio usuário nos corpos cavernosos do pênis antes do sexo. São utilizadas substâncias como a fentolamina, a papaverina ou a prostaglandina. A agulha é finíssima e o procedimento, praticamente indolor. O tratamento deve ser bem orientado pelo médico, pois, apesar de seguro, há risco de priapismo (ereção prolongada e dolorosa), complicação que deve ser controlada o quanto antes para se evitar sequelas.

Bombas de vácuo: são aparelhos que promovem a sucção do pênis e aumentam a circulação de sangue temporariamente. Hoje seu uso tem sido mais indicado no processo de reabilitação de pacientes submetidos à cirurgia para câncer de próstata.

Implantes: se tudo falhar, é sinal de que houve comprometimento definitivo das estruturas que promovem a ereção. Nesse caso, os implantes são a melhor opção. Existem diversas opções disponíveis de próteses penianas (maleáveis ou semirrígidas, infláveis ou hidráulicas), que são implantadas na câmara erétil do pênis para dar a sustentação necessária para o sexo sem interferir na sensibilidade e capacidade de orgasmo. As cirurgias duram aproximadamente uma hora, com baixos índices de complicação e altos níveis de satisfação. Por ser um procedimento irreversível, é a última linha de tratamento.

Terapia: nos casos em que a disfunção erétil é psicogênica ou mista, a terapia com psicólogo ou psiquiatra especializado em sexualidade é a principal forma de tratamento. Além de ajudar homens com perfil ansioso e que se cobram muito, o acompanhamento psicológico do paciente e do casal pode ser muito útil também quando há outras causas envolvidas, já que o problema é delicado e costuma criar medos e desentendimentos entre o casal.

Mudanças no estilo de vida: prática de atividade física regular, perda de peso, interrupção do uso de tabaco e drogas ilícitas, bem como moderação no uso de álcool, são medidas que têm impacto positivo na função erétil e devem ser sempre estimuladas. Em alguns casos, apenas esse tipo de mudança é suficiente para resolver o problema.

Tratamento hormonal: indicado apenas nos casos em que a disfunção é causada por alterações na produção de hormônios.

Mudança de remédio: nos casos em que o problema é causado por medicamentos de uso contínuo, as substituições, quando possíveis, podem resolver o problema.

Remédios naturais funcionam?

A maioria dos fitoterápicos ou suplementos alimentares vendida com o intuito de tratar impotência carece de evidências científicas suficientes, segundo os especialistas. Porém, como boa parte dos casos tem origem psicogênica, acreditar que determinado produto pode funcionar pode surtir efeito para alguns homens. O ideal é procurar um urologista antes de se aventurar em qualquer tipo de tratamento, até porque muitas ervas e plantas naturais também têm efeitos colaterais importantes.

Medicamentos para ereção podem causar infarto durante o sexo?

Os estudos com as drogas mostram que o mito não procede. No entanto, disfunção erétil e problemas cardíacos podem caminhar juntos e alguns pacientes podem sofrer infartos durante a atividade sexual por causa do esforço desempenhado, independente de terem tomado qualquer medicação.

Drogas para disfunção erétil viciam?

As substâncias não causam tolerância (exigindo aumento de dose) e nem dependência química - isso é fato. Mas o efeito dos remédios é temporário. Assim, um homem com disfunção erétil de origem orgânica deverá contar com os medicamentos por tempo prolongado, ou até para sempre, porque seu problema é crônico, e não porque eles viciam.

No entanto, muitos homens utilizam esses remédios por conta própria, para garantir ou melhorar o desempenho sexual, e podem se sentir inseguros ao ficar sem eles. Como a ansiedade pode interferir na capacidade de ereção, eles ficam com a impressão de que vão precisar do remédio para sempre. É por isso que a orientação médica ou a ajuda de um terapeuta especializado é fundamental.

Como ajudar um parceiro que sofre de disfunção erétil?

É muito comum que a dificuldade de ereção seja interpretada de maneira ofensiva, como consequência de uma perda de atração ou até de um relacionamento extraconjugal. Isso só aumenta a pressão sobre o homem, gerando medo, preocupação, ansiedade e, como consequência, a probabilidade de falhar novamente. Por isso é importante que todas as pessoas tenham informação sobre a disfunção erétil —o apoio da(o) parceira(o) é fundamental para vencer o problema.

Mas o urologista Bruno Nascimento, da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo, ressalta que a compreensão deve ser mútua: "Um estudo com mulheres parceiras de homens com disfunção erétil mostrou que elas têm um índice maior de disfunções sexuais femininas, como distúrbios de lubrificação, dor e orgasmo", comenta. Ele sugere, inclusive, que elas participem e sejam ouvidas nas consultas.

Prevenção

Um estilo de vida saudável, com atividade física regular, alimentação equilibrada e o controle de fatores de risco cardiovasculares, como colesterol alto e obesidade, são todas medidas de prevenção contra a disfunção erétil.

Em circunstâncias específicas, como após o tratamento de tumores de próstata, bexiga ou reto, há protocolos seguidos pelos médicos para preservar a função erétil. Já nos casos de disfunção psicogênica, aprender a gerenciar a ansiedade, bem como investir em diálogo e intimidade com a(o) parceira(o) podem evitar que falhas eventuais se transformem em um problema recorrente.

Fontes: Bruno Nascimento, urologista membro da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo e do Departamento de Medicina Sexual e Andrologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); Jairo Bouer, psiquiatra especializado em sexualidade, biólogo especializado em evolução humana e comportamento e colunista do UOL; National Institutes of Health (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA); Sociedade Brasileira de Urologia (portaldaurologia.org.br).