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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Asma: tosse seca e falta de ar à noite podem ser sintomas da doença

Poluição, pelos de animais, cheiro forte, emoções intensas e até atividade física podem desencadear os sintomas da asma - Camila Rosa/VivaBem
Poluição, pelos de animais, cheiro forte, emoções intensas e até atividade física podem desencadear os sintomas da asma Imagem: Camila Rosa/VivaBem

Tatiana Pronin

Colaboração para o UOL VivaBem

25/12/2018 04h00

A asma, também chamada de bronquite asmática ou alérgica, é uma doença pulmonar crônica caracterizada pela inflamação das vias aéreas, principalmente dos brônquios (tubos que levam ao ar para dentro dos pulmões) e bronquíolos (ramificações que levam aos alvéolos pulmonares).

Prevalência

O problema afeta pessoas de todas as idades, mas na maioria das vezes tem início na infância. A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que atualmente existam 235 milhões de pessoas com asma no mundo. No Brasil, estima-se que a asma acometa 10% da população geral ou 20% das crianças e adolescentes.

Segundo a Asbai (Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia), a condição é responsável por 2.000 mortes por ano, ou cerca de três ao dia. Só no SUS (Sistema Único de Saúde), é responsável por uma média de 350 mil internações ao ano. Porém, esse número vem diminuindo graças a fatores como maior nível de informação e adesão aos tratamentos preventivos.

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O que acontece

As vias aéreas são tubos que levam o ar para dentro e fora dos pulmões. Em indivíduos com asma, essas estruturas ficam inflamadas, ou seja, inchadas. A consequência é que o espaço para a passagem de ar diminui. Os especialistas chamam o fenômeno de broncoespasmo, ou seja, a contração dos brônquios. É como se o organismo identificasse algo perigoso no ar e desencadeasse uma reação automática para impedir a inalação dessa substância.

Sintomas

As manifestações da asma variam de pessoa para pessoa, e uma crise também pode ser diferente da outra. Em geral, os sintomas incluem:

- Falta de ar ou dificuldade para respirar;
- Sensação de aperto no peito ou peito pesado;
- Chiado no peito (que pode parecer com um assobio);
- Respiração ofegante;
- Tosse (em geral seca);
- Cansaço.

Os sintomas costumam piorar à noite ou de madrugada, pela manhã ou com a prática de atividade física. Embora a falta de ar e o chiado no peito sejam mais associados à doença, algumas pessoas podem ter a tosse seca como única manifestação da asma.

Asma ou bronquite?

Popularmente os dois termos são utilizados como sinônimos, mas existem diferenças entre eles. Bronquite é o termo genérico utilizado para descrever qualquer quadro de inflamação dos brônquios. Mas é possível ter uma bronquite aguda (que dura apenas alguns dias) por causa de uma infecção viral ou bacteriana ou uma bronquite crônica provocada, por exemplo, pela exposição prolongada ao cigarro. Nesse último caso, as células do pulmão são progressivamente danificadas.
Já a asma é um quadro crônico com períodos de exacerbação e melhora. Enquanto a tosse da bronquite é mais produtiva, ou seja, tem mais catarro, na asma costuma ser seca. Os tratamentos da asma e da bronquite podem ser diferentes - no primeiro caso, a resposta aos broncodilatadores (as famosas "bombinhas") é alta.

Causas e fatores de risco

As causas exatas por trás da doença ainda não são claras, mas os especialistas acreditam que a asma seja provocada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Veja alguns fatores que aumentam a predisposição à doença:

- História familiar;
- Infecções virais nos primeiros anos de vida;
- Exposição a grandes quantidades de alérgenos;
- Exposição a agentes irritantes como poluição do ar, fumaça de cigarro ou substâncias tóxicas no ambiente de trabalho.

Uma das teorias existentes para explicar a ocorrência da asma alérgica é a "hipótese da higiene": as preocupações existentes com a limpeza e a menor exposição das crianças a terra e sujeira teriam diminuído a frequência de infecções na primeira infância, afetando o modo como o sistema imunológico se desenvolve.

Gatilhos

Cada indivíduo pode reagir a uma ou várias substâncias diferentes. Os gatilhos mais comuns para uma crise de asma são:

- Ácaros (organismos que se alimentam de restos de pele e mofo e costumam se acumular em colchões, travesseiros, bichos de pelúcia, carpetes, tapetes, papéis e estantes) e suas fezes;
- Fungos (micro-organismos que se proliferam facilmente quando há umidade e calor e costumam habitar o sistema de ar condicionado, paredes, livros e fendas);
- Pólen (minúsculos grãos produzidos por flores e plantas que são carregados pelo vento);
- Animais de estimação (pelos, pele e secreções dos bichos podem provocar alergias);
- Fezes de barata;
- Infecções virais (alguns vírus são mais propensos a deflagrar asma, como os da gripe e do resfriado comum e o vírus sincicial respiratório);
- Fumaça de cigarro;
- Poluição ambiental;
- Exposição ao ar frio e seco;
- Cheiros fortes;
- Atividade física;
- Emoções intensas;
- Certos medicamentos.

Agravantes

- Rinite alérgica;
- Sinusite crônica;
- Doença do refluxo gastroesofágico;
- Obesidade;
- Apneia do sono.

Tipos de asma

Existem diversas formas de asma, mas, de modo geral, a doença é dividida em asma alérgica e não alérgica. Cerca de 80% dos casos em crianças e mais da metade em adultos têm a ver com a exposição a algum alérgeno. Boa parte dos pacientes com esse tipo de asma também possui rinite. Já a asma não alérgica é mais frequente em adultos e costuma ser deflagrada por exercícios, estresse, ar frio ou seco e é mais relacionada a obesidade.

Em relação à gravidade, a asma pode ser classificada como: intermitente, persistente leve, persistente moderada ou persistente grave.

Diagnóstico

A asma é diagnosticada principalmente pela análise dos sintomas, histórico pessoal e familiar. A confirmação pode ser feita com um exame de espirometria, no qual o paciente faz expirações forçadas e os fluxos são medidos no computador e comparados à média da população com o mesmo sexo, idade e altura. Testes alérgicos (de sangue ou de pele) ajudam a verificar a natureza alérgica da asma e identificar as fontes da reação.

Tratamento

A asma é uma condição que varia muito entre um paciente e outro e também varia ao longo do tempo. Por isso, a abordagem deve ser individualizada. A maioria dos asmáticos é tratada com um medicamento de controle, que tem o objetivo de evitar crises de asma, e outro de alívio, apenas para quando há piora dos sintomas. A comunicação frequente com o médico permite o ajuste do tratamento de acordo com a necessidade de cada um.

Tratamento farmacológico

Veja os principais tipos de remédios utilizados:

Broncodilatadores: derivados da adrenalina, têm efeito rápido e relaxam os músculos dos brônquios, permitindo a passagem do ar. Existem três tipos disponíveis: beta-2-agonistas, anticolinérgicos ou xantinas. Podem ser administrados com inalador ou nebulizador, exceto pelas xantinas, que são encontradas para administração via oral. Existem broncodilatadores de curta e de longa duração, mas esses remédios agem apenas nos sintomas e não na inflamação, que é a causa da doença. Têm como principal efeito indesejável o aumento dos batimentos cardíacos e tremores nas extremidades. Exemplos: fenoterol salbutamol, brometo de ipratrópio e teofilina.

Corticosteroides: são anti-inflamatórios hormonais indicados quando a crise não melhora apenas com os broncodilatadores. Nas crises, podem ser administradas por injeção, comprimido ou xarope. Os efeitos colaterais podem incluir aumento do peso, imunidade reduzida ou problemas de crescimento em crianças, o que pode ser evitado com indicações apenas por curtos períodos. Ex: prednisona.

Corticosteroides inalatórios: as famosas "bombinhas" revolucionaram o tratamento da asma e têm poucos efeitos colaterais importantes, ao contrário dos corticoides ingeridos. São administrados em spray ou pó (com inalador), com pouquíssima absorção sistêmica, diminuindo muito os efeitos colaterais no uso contínuo. Ex: fluticasona, budesonida, mometasona e ciclesonida.

Antileucotrienos: atuam de forma mais restrita na inflamação, bloqueando uma substância chamada leucotrieno. Podem ser administrados em forma de sachês ou comprimidos mastigáveis.

Imunobiológicos: medicamentos injetáveis indicados apenas para os casos mais graves, que não respondem bem ao tratamento convencional, o que corresponde a cerca de 5 a 10% dos pacientes.

Mitos que atrapalham o controle

Infelizmente, muitos pacientes resistem em usar os medicamentos na frequência indicada pelo médico por temerem efeitos colaterais. Isso dificulta bastante o controle da doença, e pode levar a complicações graves. Veja alguns mitos comuns sobre o tratamento da asma:

1. "Bombinhas" viciam
As "bombinhas" são os recipientes utilizados para armazenar os medicamentos inaláveis (broncodilatadores ou corticoides). Essas substâncias não causam dependência, como muita gente acredita. Os sintomas tendem a voltar quando a ação termina, por isso, quando o paciente precisa usar muito o broncodilatador, é sinal de que a doença está mal controlada e é necessário ajustar o tratamento de manutenção.

2. Inalação faz mal ao coração
Os novos broncodilatadores inaláveis, bem como melhores dispositivos e técnicas de aplicação, melhoraram muito a ocorrência de taquicardia (coração acelerado) logo após o uso. Hoje esse efeito colateral é mais brando e temporário. É importante lembrar que a asma não controlada é que faz mal ao coração, já que pode prejudicar o aporte adequado de oxigênio para o organismo.

3. Corticoide inalável é perigoso
Justamente por ser inalável, o produto permite o uso de doses muito pequenas, o que torna a medicação segura, inclusive para crianças, idosos, gestantes e diabéticos. Os efeitos colaterais mais comuns são rouquidão, pigarro e monilíase oral (sapinho). Enxaguar a boca com água (sem engolir) após a inalação ajuda a evitá-los.

4. Corticoide inalável impede a criança de crescer
Estudos comprovam que a asma descontrolada afeta mais o crescimento das crianças do que o possível efeito colateral desses medicamentos.

Tratamento não farmacológico

Como em todo tipo de doença crônica, o tratamento da asma vai além da prescrição dos medicamentos. Os aspectos abaixo são fundamentais para o controle das crises:

Educação: o paciente e sua família devem receber todas as informações necessárias e tirar todas as dúvidas que surgirem, para o controle adequado da asma.

Controle ambiental: deve-se evitar os gatilhos das crises, como a exposição a determinadas substâncias, como o fumo, a alérgenos ou produtos químicos. O tabagismo também deve ser evitado.

Atividade física: a prática regular ajuda muito no controle da asma, por isso deve fazer parte do plano de tratamento quando a doença estiver estável. Nos casos em que as crises são deflagradas pela atividade física, a indicação é usar o broncodilatador um pouco antes. É sempre recomendável se exercitar com acompanhamento de um profissional habilitado.

Vacinação: as imunizações ajudam a evitar infecções respiratórias como a gripe, que deflagram ou agravam a asma.

Outras alergias: rinite alérgica a dermatite atópica e eventuais alergias alimentares devem ser controladas também.

Outras doenças: o tratamento adequado de condições como obesidade, sobrepeso, refluxo e apneia do sono podem ter forte impacto no controle da asma.

Suporte emocional: ter uma doença crônica grave é sempre um fator de estresse porque envolve preocupações e uma série de cuidados. Contar com a ajuda de amigos, de um terapeuta e/ou de outras pessoas com asma podem ser medidas que ajudam no enfrentamento da doença.

Quando ir ao hospital

A asma pode ser uma emergência médica, por isso é importante ficar atento aos seguintes sinais:

- A falta de ar impede as atividades, e até usar o inalador fica difícil;
- Há dificuldade para falar ou terminar uma frase;
- Os sintomas retornam pouco tempo depois de usar do broncodilatador;
- O cansaço está acima do normal;
- As unhas e/ou os lábios estão azulados.

Como ajudar um familiar com asma

Suporte prático e emocional é fundamental para os pacientes, principalmente crianças e adolescentes. O incentivo ao estilo de vida saudável e à correta adesão ao tratamento fica mais fácil quando a família está envolvida. Funcionários da escola devem ser bem informados sobre o plano de tratamento, e ajustes podem ser necessários no ambiente ou, no caso dos adultos, no trabalho. Vale lembrar que o uso dos medicamentos inaláveis envolve uma série de cuidados de aplicação e higiene, que devem ser seguidos à risca pelo paciente e seus cuidadores.

Tem cura?

Os especialistas preferem não falar em cura, mas certos pacientes podem apresentar remissão espontânea ou induzida pelo tratamento. Estudos indicam que cerca de um terço das pessoas que têm asma na infância deixam de ter na idade adulta. Como a predisposição ainda existe, não é possível prever se os sintomas voltarão um dia ou não. De qualquer forma, o tratamento adequado da asma permite que se tenha uma qualidade de vida igual à de qualquer pessoa saudável.

Fontes: Flávia Velasco, pneumologista da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT); Marcelo Vivolo Aun, diretor da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai); Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (asbai.org.br); Ministério da Saúde; Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH); Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (sbpt.org.br)

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