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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Dor nos rins: quais as causas? Beber bastante água evita problema?

As dores nos rins geralmente são causadas por obstáculos (pedras) que dificultam a drenagem da urina - Camila Rosa/VivaBem
As dores nos rins geralmente são causadas por obstáculos (pedras) que dificultam a drenagem da urina Imagem: Camila Rosa/VivaBem

Cristina Almeida

Colaboração para o UOL VivaBem

20/11/2018 04h00

O consumo adequado de líquidos é importante para evitar problemas nos rins

Junto ao cérebro, coração, fígado e pulmões, os rins integram o grupo de órgãos mais importantes para a nossa sobrevivência. Talvez isso explique a intensidade com a qual eles se manifestam quando algo não vai bem.

Uma vez detectado algum problema no sistema urinário, a mensagem é clara: você sente uma dor aguda na parte inferior das costas, e ela é tão forte e constante que fica impossível de ignorá-la. Nessas horas, a melhor saída é ir direto para o pronto-socorro.

Antes de saber quais são as principais causas da dor nos rins, é preciso esclarecer onde se localizam essas estruturas e quais suas funções. Situadas ao lado da coluna vertebral, eles têm a forma de um feijão e medem de 10 cm a 12 cm de comprimento.

Os rins se conectam por meio de artérias e veias aos vasos sanguíneos mais importantes do seu corpo —a artéria aorta e a veia cava — e também se ligam à bexiga por meio de um tubo fino chamado ureter.

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Qual a função dos rins?

Agora vejamos como é que os rins trabalham. Todos os dias, tudo o que você come e bebe gera um lixo (toxinas) que vai direto para o sangue. Os rins, juntamente com o fígado, são encarregados de limpar (filtrar) toda essa sujeira. Para executar essa tarefa, eles são dotados de minúsculos filtros (néfrons). Todos os fluídos extras são expelidos na urina).

Enquanto a faxina é feita, os rins também regulam a quantidade de substâncias como o sódio, dosam o cálcio, avisam o corpo sobre a produção de células sanguíneas (hemoglobinas) encarregadas de espalhar o oxigênio pelo corpo e ainda controlam a pressão.

O que gera a dor

Apesar de a filtragem e a drenagem serem as funções mais importantes dos rins, o que geralmente se relaciona com a dor nos rins é uma atividade menos nobre: a produção da urina.

Para descartar o que não serve, os órgãos têm canais que se confluem —formando o ureter — e drenam, por meio de contrações musculares, o xixi até a bexiga. Quando falamos em dor nos rins ou cólica renal, ela se relaciona à dificuldade de levar a urina para a frente.

Causas comuns e incomuns

Quase sempre, o desconforto está associado a um bloqueio. A urina que devia descer pelo ureter fica parada (estase) e, conforme o xixi continua sendo produzido, gera inchaço e mal-estar. As principais obstáculos para a drenagem da urina são as pedras ou cálculos, formados pela concentração de substâncias como cálcio, ácido úrico etc.

O problema é mais comum entre os homens: um em cada 10 terá uma crise de cólica renal ao longo da vida, enquanto as mulheres serão afetadas em uma proporção de uma em cada 35.

É importante salientar que as pedras podem estar nos rins sem que a pessoa sinta dor alguma. Porém, ao eliminá-las, os órgãos sofrem uma pressão para forçar a passagem pelo ureter. É aí que aparece o desconforto intenso.

Mas há outros fatores que levam à dor nos rins:

- Pielonefrite É uma infecção causada por bactéria que se instala na bexiga e avança até alcançar os rins. A dor é aguda, o quadro é grave e pode até levar a uma septicemia (infecção generalizada do sangue). Nesse caso, a dor renal é mais contínua e está associada à febre e à perda de apetite. Nos casos de uma infecção de urina, acompanhada de dor lombar forte, é preciso investigar.

- Endometriose Quando a doença se localiza próxima ao canal por onde passa a urina, ele se estreita, dificultando a passagem do líquido. Nessas situações, trata-se de uma obstrução que ocorre fora do canal (extrínseca) —algo pressiona a região e a dor aparece.

- Genética Algumas pessoas já nascem com uma obstrução. Isso também gera a dor.

Causas mais raras:

- Tumor renal Quando ele está em crescimento, é possível sentir uma dor leve e contínua, que aparece e desaparece. Às vezes, a sensação dolorosa é mais forte. Mas é preciso lembrar que em cada 10 pessoas, sete não sentem absolutamente nada. Em geral o problema é descoberto em um exame de rotina. A maior parte das pessoas, quando o sintoma se manifesta, verá sangue no xixi. A dor, nesse caso, só aparece nos casos mais avançados.

- Cistos hemorrágicos Na hora do sangramento, você pode sentir dor, que é confundida com dor renal, mas aparece sempre junto a uma queda de pressão e sangue na urina.

- Infarto renal Pessoas com mais idade, pressão alta, colesterol elevado e diabetes correm maior risco de ter um infarto renal. Como os rins estão conectados a artérias, uma delas pode se fechar. Isso provoca uma dor aguda que só vai passar após atendimento médico.

O que esperar da consulta

Na grande maioria das vezes, uma pessoa com dor nos rins será examinada em um pronto-socorro. Se esta é a primeira vez que isso acontece com você, saiba que é preciso observar as características da dor, isto é, entender como a sensação dolorosa se manifesta. Ser capaz de descrever o que sente para o médico ajudará a descobrir mais rapidamente o que está acontecendo.

Os especialistas revelam que muitos pacientes chegam ao consultório achando que estão com um problema renal devido a um mito popular. Basta a pessoa ter uma dor nas costas que descreve ao médico como dor nos rins. Mas, após o exame, é diagnosticada apenas uma lombalgia, ou seja, dor na musculatura lombar.

Como diferenciar a dor nos rins da dor lombar

- A dor nos rins (dor renal em cólica ou cólica renal) aparece do nada (é aguda) e vem em salvas, ou seja, é forte, melhora, depois volta. Sobe, desce e é intensa. Pode estar associada a náuseas, vômitos e sangramento na urina. Você se revira em dor e ela não passa. Nas mulheres a sensação pode irradiar até a vagina; nos homens, até os testículos.

- Dor lombar (ou lombalgia) aparece de vez em quando e pode ser uma sensação de peso, pontada ou queimação. A mais comum é em pontada. É mais fraca e quase sempre está associada ao movimento. O incômodo é mais forte ao abaixar ou ao fazer as atividades do dia a dia.

Exames que o médico pode pedir

Depois de ouvir a história do paciente e examinar seu corpo, o primeiro exame que o médico pode pedir é um ultrassom para investigar a existência de uma pedra. Mas o teste que define a localização e o tamanho do cálculo é a tomografia computadorizada.

Ainda deve ser feito um exame de urina que, em 90% dos pacientes com cólica renal, está alterado e revela a presença de sangue que não pode ser visto a olho nu.

Como é o tratamento

Quando se confirma a cólica renal, geralmente o paciente está no hospital e a primeira providência é controlar a dor. Para isso, o tratamento indicado é o uso de analgésicos e anti-inflamatórios.

Para quem busca uma solução caseira, os especialistas dizem que, infelizmente, não há nada a ser feito. Um banho de banheira ou uma compressa quente aliviam, mas só por pouco tempo.

Como prevenir a dor nos rins

A causa mais comum das cólicas renais são as pedras, e algumas providências reduzem as chances de uma recaída. A orientação geral, que serve para todo tipo de cálculo, é tomar bastante líquido.

Existe até uma fórmula para saber a quantidade ideal para você. Basta multiplicar 30 ml pelo total de seu peso. Por exemplo, se você pesa 70 kg, deve tomar 2,1 litros (30 ml x 70 kg =2,0 litros).

Outra boa forma de saber se você está se hidratando corretamente é observar a cor do seu xixi. Se ele estiver claro na maior parte do tempo, está tudo certo. Mas se for amarelo escuro ou laranja, é sinal de que você está bebendo pouca água.

Evite bebidas que ajudam a formar pedras

A pergunta que vem em seguida é: mas nessa conta entra somente água ou podemos incluir todo tipo de líquidos? A resposta é sim, podemos considerar tudo! As únicas exceções são as bebidas que ajudam a formar as pedras. Então, evite consumir em excesso:

  • Refrigerantes;
  • Isotônicos;
  • Chá-preto.

Alguns alimentos e nutrientes podem promover ou inibir a formação de pedras. Quando identificada a origem ou uma tendência ao cálculo, a dieta deve ser personalizada, mas ela sempre será uma grande aliada do combate à dor nos rins.

Entre os nutrientes que levam à formação de cálculos temos o cálcio em excesso ou a sua falta, ácido úrico, oxalato, excesso de proteínas e sódio. Como fatores que inibem sua produção contamos com o citrato, magnésio, potássio, além da ingestão adequada de cálcio, fibras, bem como líquidos para manter a urina clara.

Regras gerais da nutrição para todo o tipo de cálculo

- Consuma menos proteína e menos sódio: para isso, retire o sal da mesa, controle o consumo de carnes e evite ao máximo os embutidos (linguiças, salsichas etc.), enlatados e alimentos industrializados.

- Aumente a ingestão de fibras: frutas, hortaliças, legumes, leguminosas e cereais integrais são boas fontes da substância.

Se o médico já identificou o cálculo que está causando a dor nos rins (veja abaixo os tipos mais comuns), controle o consumo de alimentos, de acordo com cada tipo:

Pedra de cálcio

  • Ingira a quantidade ideal do mineral: 1000 mg a 1200 mg por dia. Leite e derivados, vegetais verde-escuros (rúcula, couve, espinafre) e peixes são boas fontes do nutriente;
  • Atente-se à boa ingestão de água;
  • Modere a ingestão de oxalato (veja abaixo).

Oxalato

  • Evite comer espinafre, beterraba, oleaginosas, chocolate, chá-preto;
  • Controle o consumo de vitamina C. A ingestão de altas doses dela aumenta o risco de cálculos de oxalato;
  • Capriche na hidratação.

Ácido úrico

  • Fuja de alimentos ricos em purinas como miúdos e carne vermelha em excesso;
  • Evite bebidas alcoólicas, sobretudo a cerveja;
  • Reduza o consumo de frutose (açúcar contido nas frutas).

Aposte em alimentos protetores:

  • Tomar duas a três xícaras de café ao dia reduzem o ácido úrico;
  • Vitamina C em baixas doses (até 500 mg) também controlam o ácido úrico;
  • Coma mais banana, que é rica em magnésio e evita ou reduz a formação dos cristais de oxalato de cálcio;
  • Aposte em sucos cítricos diluídos em água (limão, acerola) para aumentar a ingestão de citrato, que inibe a produção de pedras.

Quando a dor não passa...

Se nem os medicamentos e nem as mudanças na dieta e no estilo de vida adiantarem, é possível que o seu médico sugira a remoção das pedras por meio de ultrassom ou endoscopia. Raramente se faz necessária uma cirurgia convencional.

E os casos só aumentam

A Associação Americana de Urologia (AUA, na sigla em inglês) publicou em 2014 uma guia em que relata o aumento de casos nas últimas décadas, relacionando o problema à dieta, ao avanço da síndrome metabólica —a pessoa tem pressão alta, elevadas taxas de colesterol e açúcar no sangue e excesso de gordura na linha da cintura —, doenças crônicas como o diabetes e a obesidade, além do aquecimento global e a resistência aos antibióticos. Todos esses fatores também se conectam às doenças do coração, à hipertensão (pressão alta) e ao diabetes.

Na síndrome metabólica, a questão central é a resistência insulínica, que envolve algumas questões como a menor capacidade de excreção de ácido úrico. Outra questão apontada é a alta ingestão de carboidratos, que eleva a excreção de cálcio pela urina. Contudo, ainda não se sabe o que vem primeiro: as pedras ou todas essas doenças.

Segundo o documento da AUA, a impressão que se tem é que os cálculos podem ter efeitos duradouros ou decorrem de fatores de risco cardiovascular. Saber disso, talvez, pode ajudar as pessoas a entenderem que a cólica renal seja um evento sentinela. Isso significa que a dor nos rins pode ser a ponta do iceberg de algum outro problema maior que merece ser observado.

A boa notícia é que, embora os estudos com forte evidência científica sejam poucos, eles são suficientes para garantir que as pedras podem e devem ser prevenidas. Se é assim para elas, também é para as terríveis cólicas renais.

Fontes: Alex Meller, urologista e médico assistente da disciplina de urologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp); Flavio Trigo Rocha, urologista, professor livre-docente de Urologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU-SP); Isolda Prado, médica nutróloga da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

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