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Câncer de próstata: "Encarar a impotência sexual foi pior do que o tumor"

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Wivian Maranhão

Colaboração para o UOL VivaBem

17/11/2018 04h00

O diagnóstico de câncer de próstata com certeza foi um grande baque para o psicólogo Esmeraldo Alcântara, 54. Porém, o mais difícil foi driblar uma das consequências comuns da doença, a disfunção erétil. A seguir, ele conta sua saga para recuperar o prazer e a qualidade no sexo:

"Sou casado, tenho dois filhos e uma mulher incrível. Em 2010, durante um check-up médico anual, o resultado do exame de PSA (Antígeno Prostático Específico) apresentou uma pequena alteração. No momento, não dei muita atenção a isso, pois estava cheio de compromissos no trabalho e eles absorveram completamente meu tempo. Como me sentia bem, sempre fui saudável e fiz exercícios, acabei não me preocupando e deixei para lá. 

Um ano e meio depois, no entanto, um cansaço monstruoso chegou do nada e se tornou parte da minha rotina. Não tinha energia para absolutamente nada. Foi quando busquei um urologista que, após detectar um nível elevado do PSA, já me encaminhou para uma biópsia. Não deu outra: estava com câncer de próstata

Fiquei um tanto angustiado, sobretudo por pensar que se tivesse tomado uma providência lá atrás, os rumos teriam sido completamente diferentes. O diagnóstico não teria chegado, inclusive, em um momento tão especial da família. Minha esposa estava no final de uma gestação e não conseguiu manter a serenidade: ficou arrasada, insegura, desesperada! Nosso outro filho tinha apenas 8 anos. Já eu, por incrível que pareça, estava confiante. Meu trunfo? Duas pessoas na família também enfrentaram o tumor e tiveram êxito total. Eu me apeguei nisso e, depois de remover a próstata e a vesícula seminal, não precisei sequer fazer radio e quimioterapia. Tive sucesso total! 

Impotência sexual: minha grande inimiga

Feliz após vencer o câncer de próstata, eu mal sabia que uma longa caminhada estava à minha espera. Meu maior algoz mudou de nome em questão de dias: passou a se chamar impotência. 

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Meu casamento é maravilhoso. Somos cúmplices e atuantes em todos os aspectos. Na área sexual não é diferente. Já com nossa filha recém-nascida nos braços, minha esposa teve um papel determinante nessa nossa nova batalha. Ela me apoiou completamente e, dessa vez, com toda a confiança e serenidade que pede um cenário tão devastador para um homem. 

Foi um ano de tratamento com medicação oral sem resultados satisfatórios. Parti, então, para uma solução injetável no próprio pênis que trazia ereção imediata com a expectativa de obter um retorno definitivo. O grande problema era o valor: cerca de R$ 8 mil, a dose, que em tese, duraria no máximo 6 meses. Retomamos nossa vida sexual, foi lindo, mas pagando um preço muito alto.

    Não tive condições de usar o medicamento continuamente por muito tempo e voltei à minha busca por algo tão eficiente quanto, mas com valores mais acessíveis. 

    Já exausto --e descapitalizado --, quase me rendi ao implante peniano. Mas achei que para mim não seria bom. Ele anularia permanentemente o uso do medicamento injetável e, provavelmente, de qualquer outro tipo de tratamento que surgisse. Ou seja, uma vez com a prótese, teria de conviver eternamente com ela.

    Passados cinco anos, finalmente pago um preço justo pelo medicamento injetável. Um frasco custa em torno de R$ 300 e garante 12 aplicações (cada dose serve para uma 'noite'). Sou eu mesmo quem aplico as injeções. Tudo muito simples e rápido. O efeito leva cerca de uns 3 minutos, no máximo. Assim, eu e minha mulher resgatamos por definitivo nossa vida sexual. O melhor de tudo, sem perda de qualidade. Aliás, muito melhor do que antes. Vida que segue, maravilhosamente bem." 

    Quebrando o tabu da impotência

    Em 2018, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) estima que 68 mil novos casos de câncer de próstata ocorram no Brasil. Se diagnosticada precocemente, a chance de cura da doença é alta.

    A grande preocupação dos homens portadores de câncer de próstata, bem como dos médicos responsáveis pelo tratamento é a impotência sexual (disfunção erétil), uma das duas consequências mais comuns do pós-operatório. A outra --a incontinência urinária -- é corrigida poucos meses depois.

    Em linhas gerais, o protocolo sugere que logo após a cirurgia o paciente passe por um programa de reabilitação sexual. Na primeira etapa são prescritos medicamentos orais, que têm por função facilitar a comunicação entre o cérebro e o pênis.

    Se em um ano não houver resultado satisfatório, o médico indica a terapia injetável, como Esmeraldo usou. Nela, injeções com substâncias vasodilatoras são administradas diretamente no pênis conferindo uma ereção imediata. Por fim, a prótese peniana é a opção, neste caso definitiva e irreversível, para quem não se adaptou às anteriores. 

    É importante entender que a resposta de cada etapa é muito individual e está diretamente ligada às condições do paciente, entre elas, idade, condição física e outros problemas de saúde associados. Seu perfil também deve ser levado em consideração. Muitos casais, por exemplo, que optaram pela medicação injetável, acabaram abandonando a opção por desconforto ou por considerá-la artificial no momento da relação. Por outro lado, casais com vida sexual ativa e que demonstram um maior grau de cumplicidade e abertura entre si lidam muito bem e encontram ali a solução para a sua felicidade sexual. 

    Aos poucos, outras soluções que prometem afastar de vez o fantasma da impotência estão surgindo. Uma grande novidade é a aplicação de choques elétricos de baixa intensidade no pênis --os mesmos usados para implodir cálculos renais.

    O método já é utilizado com sucesso nos EUA e está em fase de estudos aqui no Brasil. A expectativa dessa terapia é a de melhorar não só a resposta das injeções, como trabalhar com a possibilidade de abandoná-las permanentemente. Testes demonstram que os tais choques ajudam a aumentar o crescimento de novos vasos sanguíneos, além de melhorar a vascularização do pênis. 

    Fontes: Renato Fidelis, urologista membro do Grupo de Disfunções Sexuais Masculinas do Serviço de Urologia do HC-FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e médico do Cejam (Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim); Flávio Trigo, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia -- Seccional de São Paulo, e professor do curso de pós-graduação em ciências da saúde do Hospital Sírio Libanês. 

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