Perder muito peso com a idade não é normal: previna a desnutrição em idosos
Quando a gente fala em desnutrição, é quase automático que se associe um risco maior às crianças. O fato é que, na outra ponta, entre os idosos, o problema pode ser bem mais frequente, apesar de pouco discutido e diagnosticado.
Em todo o mundo, pesquisas mostram que o número de idosos desnutridos varia de 15% a 60%, dependendo do lugar e com quem vivem.
No Brasil, há poucos estudos sobre o assunto, entre eles está a Pesquisa de Orçamentos Familiares, de 2010, que mostrou que 9% dos idosos têm déficit de peso. A desnutrição é raramente considerada um problema médico principal e, diante disso, existe uma subnotificação de dados e são poucos os estudos que avaliam a magnitude do problema nos idosos.
Alguns sinais de desnutrição podem ainda ser confundidos com os do envelhecimento, fazendo com que o problema passe despercebido como:
- Pele pálida;
- Perda de musculatura;
- Cabelo fino.
Outro problema é que, apesar de ser um sinal de alerta, nem sempre o idoso desnutrido está abaixo do peso. Para o diagnóstico de desnutrição, um dos pontos mais significativos seria perda de peso involuntária --especialmente a velocidade e o percentual dessa perda. “Portanto, um idoso com peso normal ou até obeso pode ser considerado desnutrido, caso tenha apresentado uma perda de peso maior do que 10% nos últimos seis meses”, explica a médica nutróloga Simone Silvestre.
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Por que faltam nutrientes?
A desnutrição entre idosos pode estar relacionada à pouca variedade ou ao consumo insuficiente de alimentos. Isso favorece o aparecimento de deficiências nutricionais, como anemia e baixa de vitamina D, que são comuns na população idosa.
Uma consequência da desnutrição é que essa população fica ainda mais suscetível a doenças e quadros infecciosos. Essa ingestão insuficiente de nutrientes, de acordo com os especialistas ouvidos pelo UOL VivaBem, pode ocorrer por uma série de fatores, e um dos principais são as alterações fisiológicas.
Quando envelhecemos, há uma redução da grelina (conhecida como o ‘hormônio da fome’) e, por outro lado, há um aumento da produção dos hormônios sacietógenos. Ou seja, essas alterações acabam prejudicando o apetite e a percepção de saciedade nos idosos.
O uso de alguns medicamentos, por sua vez, pode piorar a falta de apetite e alterar o paladar. Doenças crônicas, problemas de dentição e diminuição do olfato também podem fazer com que o idoso acabe comendo menos. O próprio envelhecimento causa mudanças no trato gastrointestinal e uma diminuição da absorção de nutrientes.
Outro fator importante é que à medida que envelhecemos, perdemos massa muscular. Com menos massa, há uma redução da taxa metabólica, que é a energia que o corpo necessita para realizar suas funções básicas. Isso significa que, como o corpo gasta menos energia, manda a mensagem para o cérebro de que é preciso se alimentar em menor quantidade, afetando mais uma vez a sensação de fome.
Acontece que a falta de nutrientes prejudica a manutenção da massa muscular, o que pode aumentar as chances de queda, reduzir a mobilidade e autonomia dos idosos.
Quando se trata de desnutrição em idosos, é preciso ainda levar em consideração aspectos sociais, psicológicos e financeiros. Isso porque a depressão, o isolamento e a perda de renda na terceira idade podem acabar reduzindo a oferta e a variedade de alimentos em casa.
Não vale só chá e sopinha
Os especialistas dizem que, pelo preço ou facilidade, é muito comum que idosos substituam refeições por chá com bolachas, leite com pão ou macarrão instantâneo, que não oferecem os nutrientes necessários.
Mas o idoso precisa comer igual a todo mundo e com qualidade, incluindo legumes, verduras e também proteína, porque sem ela não há produção de massa muscular, o que já é uma dificuldade nessa faixa etária.
Pacientes com problemas neurológicos ou que tiveram um derrame, por exemplo, podem apresentar dificuldades para engolir, a disfagia. No entanto, isso não é justificativa para oferecer apenas sopas ou alimentos pastoso.
De acordo com o geriatra Carlos André Uehara, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, quando você bate a comida com água no liquidificador, acaba aumentando muito o seu volume. “Como o idoso não vai conseguir ingerir a mesma quantidade do alimento no estado sólido, cai a ingestão de nutrientes. Por isso, não recomendamos esse tipo de estratégia”, considera.
Em caso de disfagia, tosse ou dificuldade de mastigação, o médico recomenda que o idoso seja acompanhado por um profissional de nutrição e outro de fonoaudiologia, para aumentar o aporte calórico e fazer exercícios para diminuir os episódios de engasgo durante as refeições.
Além disso, ele indica diminuir as porções de comida e distribuí-las melhor ao longo do dia. Nesse caso, ao invés de apenas três refeições diárias (café-da-manhã, almoço e jantar), recomenda-se inserir alimentos nutritivos em lanches intermediários.
Em alguns casos, suplementos alimentares, de preferência indicadas por um especialista, podem ser administradas com iogurtes, sucos ou vitaminas que o idoso goste.
Fontes: Carlos André Uehara, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia; Nelson Lucif Junior, diretor do departamento de geriatria da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia); Simone Silvestre, nutróloga; Juliana Lourenço, nutricionista e mestra em Saúde Coletiva.
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