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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Novo projeto norte-americano visa impedir as doenças de se manifestarem

Jovanmandic/IStock
Imagem: Jovanmandic/IStock

Anahad O'Connor

Do New York Times

29/10/2018 10h44

Um dos fatos mais preocupantes sobre o tratamento do câncer é que muitas vezes ele começa quando já é tarde demais: estudos mostram que um número alarmante de casos tratáveis é diagnosticado nos estágios avançados da doença.

Há muito tempo isso incomodava o Dr. Sam Gambhir, pesquisador da Universidade de Stanford, que perdeu o filho adolescente para a doença, em 2015. Ele queria saber se havia alguma maneira de detectar o mal antes que as pessoas adoecessem.

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"Nessa área, geralmente encontramos problemas muito tempo depois que as pessoas apresentam os sintomas. Raramente algo é detectado logo no início", disse ele.

Agora, Gambhir lidera um grande estudo que busca compreender melhor a transição da saúde normal para a doença. O estudo, denominado Projeto Baseline, pode levar à identificação de novos marcadores no sangue, fezes ou urina de pessoas saudáveis que ajudam a prever câncer, doenças cardiovasculares e outros problemas.

É um esforço conjunto entre as universidades Stanford e Duke e a Verily, empresa de ciências biológicas de propriedade da Alphabet, empresa-mãe do Google. Os pesquisadores estão recrutando dez mil adultos em todos os Estados Unidos, que serão examinados nos mínimos detalhes e monitorados intensivamente por pelo menos quatro anos.

Muitas das pessoas que ingressam no estudo são adultos saudáveis, o que difere dos ensaios médicos tradicionais, que em geral se concentram em pessoas que já estão doentes. Outra diferença fundamental é que os pesquisadores estão coletando uma quantidade surpreendente de dados médicos sobre seus sujeitos: analisando microbioma, sequenciando genoma, sujeitando-os a uma variedade de exames e avaliando sua saúde cognitiva. E estão também equipando-os com uma nova tecnologia da Verily que registra padrões de sono noturno e monitora ritmos cardíacos e atividade física.

Em outra atitude incomum, os pesquisadores do Projeto Baseline estão compartilhando os resultados da pesquisa com os participantes, desde a quantidade de placa ou cálcio encontrada nas artérias até as cepas bacterianas que habitam seus órgãos.

Porém, alguns especialistas se preocupam, achando que fornecer dados médicos detalhados a adultos saudáveis poderia conduzir a problemas novos. O Dr. Eric Topol, professor de Genômica do Instituto de Pesquisa Scripps, na Califórnia, advertiu que a enorme quantidade de testes, exames e outros "interrogatórios minuciosos" poderia revelar detalhes que causariam ansiedade desnecessária. "Às vezes, isso pode levar as pessoas a fazerem exames injustificáveis, que poderiam até ser prejudiciais", disse ele.

Topol está envolvido em um estudo semelhante, chamado All of Us, financiado pelo Instituto Nacional de Saúde, que está construindo um "banco de dados biológico" de informações de saúde coletados de um milhão de americanos. Os pesquisadores pretendem retornar dados genéticos e alguns outros resultados para os participantes, mas estão procurando a melhor maneira de fazer isso.

"Esse é o novo desafio no mundo democratizado da pesquisa médica. Sou realmente a favor, mas gera uma nova questão ao lidar com resultados inesperados que são difíceis de interpretar", disse Topol.

Os pesquisadores do Projeto Baseline estão percebendo isso. Eles dizem que descobrem e prontamente alertam os participantes de doenças com potencial letal que possam ter passado despercebidas, como câncer e aneurismas aórticos, para que possam procurar cuidados médicos adequados. Mas alguns também ficaram assustados com achados inócuos, como uma radiografia do tórax que revelava pequenos nódulos nos pulmões, geralmente benignos, que, com uma pesquisa na internet podem ser interpretados como cancerígenos, disse Charlene Wong, pesquisadora do projeto.

"Para a maioria dos nossos participantes, não será câncer, mas ainda estamos no processo de trabalhar com eles para descobrir se podemos lhes passar esses dados da maneira correta, para minimizar a ansiedade que possam causar", disse ela.

O Dr. Ken Mahaffey, também pesquisador do Projeto Baseline e cardiologista em Stanford, disse que ele e seus colegas têm "uma responsabilidade social, moral e ética para que tudo dê certo, para que possamos compartilhar os resultados com os participantes de maneira que eles possam compreendê-los, e ajudá-los a buscar seus próprios médicos".

Apesar da ansiedade que pode gerar, muitas pessoas gostaram de receber tais dados. Estudos como o Projeto Baseline são especialmente atraentes para o chamado movimento Quantified Self, a comunidade cada vez maior que rastreia todos seus dados biométricos com aplicativos de smartphones, aparelhos de alta tecnologia e testes de saúde diretos ao consumidor. Cerca de duas mil pessoas se inscreveram no projeto até agora, e outros milhares se registraram como possíveis voluntários, que podem ser chamados caso o estudo se expanda para mais centros médicos.

Embora tenha havido uma abundância de estudos longitudinais no passado, muitos dos maiores e mais importantes não eram muito diversificados. O famoso estudo do coração Framingham, que começou em 1948, por exemplo, foi no geral focado em adultos brancos. O Dr. Svati Shah, professor adjunto de medicina da Duke, disse que o Projeto Baseline está recrutando muitos negros, hispânicos, asiáticos e de outras etnias para que o estudo possa descobrir diferenças nos fatores de risco de doenças entre pessoas de diferentes origens.

Isso inclui gente como Rosa Gonzalez, 57 anos, enfermeira que vive em Concord, Carolina do Norte. Gonzalez, que é mexicana naturalizada americana, entrou no estudo no início deste ano e incentivou pelo menos uma dúzia de amigos e conhecidos latinos a se juntarem a ele também.

"Outros estudos apresentam dados e falam sobre os latinos, mas não contam com eles na pesquisa. Estou tentando dar um exemplo para que outros latinos vejam que é bom participar, para que possamos ter dados que mostrem como somos iguais ou diferentes", disse ela.

Gambhir disse que a ideia do projeto surgiu em 2013, quando os executivos do Google o procuraram e disseram que queriam fazer um estudo de referência sobre a saúde humana. Ele propôs um estudo para encontrar marcadores precoces de câncer em pessoas saudáveis.

"Acreditamos que se tivermos mais informações sobre o seu corpo antes que você fique doente, então teremos uma chance muito melhor de prevenir ou pelo menos detectar as coisas mais cedo", disse ele. O Google gostou da ideia, mas sugeriu ampliar o escopo para incluir outras doenças.

A Verily não quis dizer o quanto investiu no Projeto Baseline. A empresa está apostando em várias áreas de cuidados de saúde, incluindo o desenvolvimento de lentes de contato e sensores em miniatura que monitoram os níveis de açúcar no sangue, para que pacientes com diabetes possam controlar melhor a doença.

Além de compartilhar resultados com os voluntários, o Projeto Baseline promove eventos e seminários on-line em que os participantes do estudo podem fazer perguntas aos pesquisadores e lhes dar sugestões. "Essa não é uma pesquisa que está acontecendo em segredo. Pessoas de todos os níveis fazem parte deste movimento ", disse a Dra. Jessica Mega, médica chefe da Verily.

tanto periféricos quanto centrais para a complexa experiência da dor crônica na lombar", concluiu Suri. 

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