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Francês é preso por alimentar filhos só com refrigerante; veja riscos

Os meninos tinham três e quatro anos de idade - iStock
Os meninos tinham três e quatro anos de idade Imagem: iStock

Gabriela Ingrid

Do UOL VivaBem, em São Paulo

25/10/2018 20h33

O pai de dois meninos, um de três e outro de quatro anos, foi condenado a três meses de prisão na França por alimentá-los com refrigerante. A notícia, repercutida pela AFP nesta quinta-feira (25), levantou dúvidas sobre os possíveis malefícios do consumo exagerado da bebida, principalmente por crianças.

No caso dos meninos franceses, o mais velho teve sete dentes arrancados em consequência do excesso de açúcar. O mais novo praticamente não fala. Ambos estão sob os cuidados de famílias de acolhimento, que iniciaram uma alimentação com carne e verduras.

Apesar de espantoso, o caso é um espelho exagerado da situação alimentar de muitas crianças brasileiras, de acordo com Denise Hernandez, nutricionista e presidente do CRN3 (Conselho Regional de Nutricionistas).

Um estudo realizado pela Pesquisa Nacional em Saúde e divulgado em 2015 pelo IBGE, por exemplo, revelou que quase um terço das crianças (32,3%) com menos de dois anos toma refrigerante ou suco artificial. 

E esse é um dos motivos para o aumento da obesidade infantil, que entre 1975 e 2016 saltou de 0,93% para 12,7% entre os meninos; e de 1,01% para 9,37% entre as meninas; segundo pesquisa publicada no periódico The Lancet.

Mas os malefícios das bebidas açucaradas vão além do ganho de peso e o consumo excessivo do produto pode trazer outros problemas em longo prazo. 

Hipertensão, cirrose e câncer

O açúcar em excesso e o sódio dessas bebidas parecem prejudicar o tônus das veias sanguíneas e desequilibrar os níveis de sal no organismo, causando alterações na pressão. Um estudo conduzido pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e publicado em 2010 no periódico Circulation revelou que, se os bebedores assíduos de refrigerante tomassem uma lata a menos ao dia, poderiam diminuir a pressão sistólica em 1.8 mmHg em 18 meses.

Além disso, assim como o que ocorreu com o garoto francês, os açúcares e os ácidos presentes na composição dos refrigerantes podem corroer o esmalte dos dentes, levando à sensibilidade e podendo ainda causar gengivite e cáries.

A gordura no fígado, que pode evoluir para cirrose, também está na lista de malefícios. Isso porque o açúcar ingerido é armazenado pelo fígado e, depois, liberado na corrente sanguínea em forma de ácidos graxos, que nada mais são do que células de gordura. Nosso corpo absorve os ácidos graxos em vários órgãos, como o próprio fígado e os vasos sanguíneos. Tem mais: pesquisas indicam que o consumo diário destas bebidas pode aumentar em até 20% o risco para infartos.

Sobre o câncer, a principal ligação é indireta, pois a obesidade, que costuma acompanhar o consumo frequente das bebidas açucaradas, está associada a pelo menos 13 tipos de tumores. Mas há também uma relação direta, pois uma das consequências da ingestão elevada de açúcar é um processo inflamatório constante nas células que facilitaria o desenvolvimento dos cânceres.

Solução está em casa

No caso dos irmãos que eram alimentados quase exclusivamente com refrigerante, confirmou-se que o pai não sabe ler, escrever ou contar e não percebia a gravidade da situação. "A França é um dos países que tem menos obesidade. Mas esse senhor não tinha conhecimento. No Brasil não é diferente. Os pais não sabem que faz mal e, pela facilidade, dão aos filhos, que amam açúcar", diz Hernandez.

Para contornar o problema, a nutricionista ressalta que é necessário educar os pais urgentemente. "Desde que foi lançado o guia alimentar, nosso lema é comer comida de verdade, priorizar o consumo de frutas, legumes e verduras, sucos de frutas naturais, sem adição de açúcar." Segundo ela, alimentar-se de forma saudável é mais fácil do que as pessoas pensam. Mas, para isso, esse conhecimento deve ser espalhado.

No país, porém, o consumo de bebidas açucaradas está relacionado não só a uma disparidade de preços entre alimentos saudáveis (mais caros) e industrializados (mais baratos), como também por uma questão de status.

"Isso vem da mídia, que dá a impressão de que consumir esses produtos são como uma afirmação social. Mas, apesar de serem saborosos, são ricos em conservantes, gordura e açúcares. As pessoas não têm a real dimensão do quão nocivos eles são."

Não é fácil, mas é importante falar que essas bebidas fazem muito mal. "Que pai não quer ver o filho saudável? Uma criança obesa tem dificuldade de caminhar, de fazer atividade, fora colesterol, triglicérides. Quando você mexe na emoção e sensibiliza um pai, torna-se mais fácil. Essa conscientização existe, mas numa camada rica da sociedade. Precisamos universalizá-la", conclui a nutricionista.

Fontes: Denise de Augustinis Noronha Hernandez, nutricionista e presidente da atual gestão do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS.

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