Topo

Tudo sobre Câncer

Sintomas e tratamentos da doença


Por que um tipo de câncer de pâncreas afeta apenas mulheres jovens

IStock
Imagem: IStock

Do UOL VivaBem, em São Paulo

19/10/2018 11h29

Entre várias formas de câncer de pâncreas, uma delas afeta especificamente mulheres, geralmente jovens. Como isso é possível, mesmo que o pâncreas seja um órgão com pouca exposição a hormônios sexuais?

Esse câncer de pâncreas, conhecido como "cisto mucinoso", tem estranhas semelhanças com outro câncer mucinoso, que afeta os ovários. Ao conduzir análises em larga escala de dados genômicos, pesquisadores da University of Geneva (UNIGE) e da University Hospitals of Geneva (HUG), na Suíça, em colaboração com cientistas dos Estados Unidos, forneceram uma resposta: ambos os tumores se originam em células germinativas embrionárias.

VEJA TAMBÉM:

Enquanto ainda indiferenciadas, essas células migram para os órgãos reprodutivos. No caminho, alguns podem acabar parando em outros órgãos, trazendo um risco de tumor que pode ocorrer 30 anos depois. Ao permitir uma melhor classificação desses tumores mucinosos, o novo estudo, publicado no periódico Journal of Pathology, abre caminho para uma análise mais complexa das origens dos turmores.

Os tumores mucinosos do ovário e do pâncreas afetam mulheres jovens -- entre 30 e 40 anos de idade. Eles têm a forma de um grande cisto, uma espécie de bola cheia de líquido. São raros --representam cerca de 3% dos cânceres de ovário e pâncreas -- e geralmente são tratados por cirurgia.

Descoberto no início, é possível removê-lo completamente. No entanto, em 15% dos casos, o cisto quebra antes da cirurgia; as células cancerígenas se espalham no peritônio, dando origem a metástases altamente resistentes à quimioterapia. Em tais casos, o prognóstico de sobrevida dos pacientes não excede um ano.

Uma origem comum

Por que um câncer, que não é ginecológico, é quase exclusivamente feminino? Qual é a ligação entre o ovário e o pâncreas? "É apenas durante a embriogênese (processo pelo qual o embrião é formado e se desenvolve) que esses órgãos são realmente próximos. No início da gravidez, o embrião possui células germinativas primordiais - de certa forma, precursoras de gametas, oócitos ou espermatozóides - que, entre 4 e 6 semanas de gestação, fazem uma longa migração no corpo humano. Eles passam por trás do futuro pâncreas e chegam ao contorno das gônadas, por volta da 7ª semana de gravidez. Muito provavelmente, algumas dessas células germinativas param no caminho", explica Intidhar Labidi-Galy líder do estudo.

Usando bases de dados de saúde públicas, os cientistas responsáveis desenvolveram um perfil transcriptômico --que identifica os níveis de expressão gênica em um tecido -- de células germinativas primordiais aos 6, 7, 11, 16 e 17 semanas de gestação, bem como de células tumorais e pancreáticas ovarianas e saudáveis.

Os pesquisadores então compararam esses dados, de um lado, com o pâncreas e, de outro, com o ovário, estudando para cada um desses dois órgãos o perfil de tecidos saudáveis, tumores mucinosos e outros tipos de tumores. Seus resultados são claros: em ambos os casos, o perfil transcriptômico do tumor mucinoso está longe do suposto tecido de origem (ovário ou pâncreas), mas muito próximo das células germinativas primordiais. Isso prova que esses tumores estão mais próximos das células germinativas primordiais do que do órgão em que se desenvolveram.

Paradas inesperadas durante a migração

Esses resultados indicam que a morte celular ocorrida acidentalmente durante a vida embrionária dessas mulheres podem, posteriormente, se tornar um câncer, dependendo de seus outros fatores de risco (por exemplo, tabagismo) e o local do corpo em que essas células germinativas primordiais se instalaram.

De fato, enquanto os cientistas examinaram o pâncreas e o ovário, casos semelhantes foram relatados em toda parte na linha de migração de células germinativas, particularmente no fígado ou no peritônio.

"Nossos resultados não vão alterar o tratamento cirúrgico desses pacientes, mas podem levar a refletir sobre os protocolos de quimioterapia. Esperamos identificar tratamentos que seriam eficazes”, afirma Labidi-Galy.

SIGA O UOL VIVABEM NAS REDES SOCIAIS
Facebook - Instagram - YouTube