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Câncer de mama em homens: "Levei 4 anos para saber que tumor não era acne"

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Bárbara Therrie

Colaboração para o UOL VivaBem

14/10/2018 04h00

Quando Fernando Fonseca, 34, descobriu que tinha câncer de mama, a doença já havia se espalhado para o pulmão e os ossos. O policial militar sofreu um grande choque com o diagnóstico e se apoiou na família para superar o problema. A seguir, ele conta como foi sua luta:

"Em 2013, uma lesão parecida com uma espinha surgiu no meio do peito. Não doía, mas me incomodava esteticamente. Notei que ela não desaparecia e fui a uma dermatologista. A médica disse que era uma acne e me desaconselhou a retirá-la cirurgicamente, pois disse que eu ficaria com uma cicatriz. 

Passado um tempo, essa 'espinha' aumentou e apareceram outras duas lesões: um enrijecimento da pele na lateral da minha mama direta e um carocinho no bico do mamilo. Fiquei preocupado e procurei um oncologista mastologista. Fiz uma bateria de exames que constaram uma alteração no tamanho da mama e nos linfonodos. O médico não deu nenhum diagnóstico e pediu para eu retornar em seis meses para repetir os exames. 

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Mais alguns meses se passaram e me consultei com outro dermatologista. Contei o meu caso, ele me examinou, falou que era queloide e receitou uma pomada. A essa altura eu já estava desanimado e chateado porque sabia que tinha algo de errado comigo, mas nenhum médico confirmava o que era. Tinha desistido de tentar descobrir quando apareceram vários calombinhos debaixo do meu peitoral.

Fui a uma outra dermatologista indicada por uma prima. A médica me examinou e pediu uma biópsia. O resultado apontou que tinha um tumor, mas não se sabia se era de mama ou de pele. Após vários exames, no dia 1º de agosto de 2017, fui diagnosticado com câncer de mama em estágio avançado.

Tumor se espalhou para o pulmão e ossos

Fernando com filhos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Poder ver os filhos crescerem foi a maior motivação para Fernando lutar contra o câncer
Imagem: Arquivo pessoal
Receber o diagnóstico do câncer de mama já foi difícil, e eu ainda descobri que tive metástase no pulmão e nos ossos. Foi um choque, fiquei bastante assustado.

Primeiro, entrei em um processo de negação. Depois, me revoltei com os médicos anteriores que não identificaram a doença. Fiquei inconformado por ter procurado ajuda ao perceber os primeiros sintomas e levar quatro anos para saber o que tinha. 

Achava que ia morrer e ficava pensando quanto tempo teria de vida. Minha família entrou em desespero 

Na época, eu estava com 33 anos e só pensava nos três filhos que tinha para criar: a Milena, 10 anos; o Jorge, 2; e o Matheus, 1. Tentei ser racional e me acalmar. Estabeleci que não me entregaria

Como o meu câncer de mama era metastático, os médicos optaram por não fazer a mastectomia. Eles me explicaram que o tumor poderia se espalhar ainda mais enquanto estávamos tratando apenas a mama. Recomendaram iniciar quimioterapia o quanto antes, pelo falto de ela agir em todas as células do corpo

Fiz oito sessões e foi horrível, tive vários efeitos colaterais. Sentia muita dor no corpo, dor no estômago, cansaço, náuseas, alterações no paladar. Nesse período, busquei ajuda em Deus. Procurava ser grato e ver o lado bom das coisas nas dificuldades.

Quando perdi cabelo, barba, bigode, cílios e sobrancelhas, brincava que tinha ficado mais charmoso 

Fernando com policiais - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Os amigos da polícia militar rasparam o cabelo para apoiar Fernando
Imagem: Arquivo pessoal
Meu pai, meus filhos e meus companheiros da polícia rasparam a cabeça para me apoiar e homenagear . 

Antes do câncer, eu tinha uma vida corrida. Trabalhava como policial militar no canil do Batalhão de Choque, dono de uma empresa de brindes personalizados e fazia faculdade de direito. Quase não convivia com a minha esposa, a Tharin, e com meus filhos. Fiquei um ano de licença médica e aproveitei esse período para me aproximar da minha família.

Minha maior motivação para me manter vivo é ver meus filhos crescerem e deixar um bom exemplo para eles quando não estiver mais aqui. Quero que eles se lembrem de mim como um pai íntegro e que sejam pessoas honestas, centradas e trabalhadoras. 

Voltei a trabalhar na polícia há dois meses, mas não vou mais para a rua devido às situações de estresse e de esforço físico. Agora atuo na área administrativa da PM e trabalho como autônomo, levando cães para passear. 

Fernando com esposa - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A doença fez com que Fernando se aproximasse mais da esposa e da família
Imagem: Arquivo pessoal
Para a medicina não existe cura para meu quadro. Terminei a quimioterapia, tomo medicação e a doença está controlada --não tenho mais o nódulo no pulmão. Nessa jornada, temos um único dia para morrer e todos os outros para viver. A cada dia eu tento ser um melhor marido, pai, filho, irmão e amigo. Meu maior sonho é ser avô.

A minha fé não se resume em ser curado, mas em ver que Deus é bom. Se ele quiser me levar amanhã ou se quiser me curar, é soberano para decidir. O que definir para a minha vida, eu serei grato."

Câncer de mama em homens: sintomas, diagnóstico e tratamento 

A incidência de câncer de mama em homens é baixa, cerca de 1% do total de casos da doença. As causas do problema ainda são desconhecidas, mas, em alguns casos, existem alterações genéticas que aumentam o risco de desenvolvimento da doença. O tumor é mais comum em homens com idade avançada, entre 60 a 70 anos de idade

Em geral, há aumento de volume da mama e lesão no bico da mama --como se fosse uma ferida e com saída de sangue. Os sintomas podem se manifestar como dor no bico e sensação de inchaço, endurecimento do bico e da mama e nódulo embaixo do braço (axila).

A forma mais segura de ter o diagnóstico é por meio de mamografia, ultrassonografia das mamas e biópsias. Os tratamentos nos homens são os mesmos que nas mulheres. Cirurgia, quimioterapia, radioterapia e tratamento com anti-hormônios. Tumores pequenos, com biologia favorável e ausência de comprometimento na axila, tendem a alcançar taxas altas de cura.

Fonte: Felipe Andrade, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia - Região Sudeste, e coordenador da residência em mastologia do Hospital Sírio-Libanês.

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