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Não para de comer mesmo cheio? Entenda a batalha entre 2 sinais do cérebro

Dois tipos diferentes de neurônios são ativados ao mesmo tempo: um te avisa para parar de comer, e o outro para devorar tudo. O mais forte? O que quer comida, é claro! - iStock
Dois tipos diferentes de neurônios são ativados ao mesmo tempo: um te avisa para parar de comer, e o outro para devorar tudo. O mais forte? O que quer comida, é claro! Imagem: iStock

Do UOL VivaBem, em São Paulo

30/09/2018 12h23

Tem momentos na vida que você sabe que já está empanturrado de comida, mesmo assim não consegue parar de mandar para dentro tudo que aparece na mesa. Esses sinais opostos do corpo podem ser explicados por uma luta entre dois grupos vizinhos de células cerebrais, segundo novo estudo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences.

Na pesquisa, realizada em camundongos, os cientistas descobriram que essa dificuldade de por limite na comilança também está ligada ao sistema opioide do cérebro, e que se ele for bloqueado você para de comer demais

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“Nosso trabalho mostra que os sinais de saciedade, de saber que tem comida suficiente, não são poderosos o suficiente para trabalhar contra o forte impulso de comer, que por sua vez tem um forte valor evolutivo”, explicou Huda Akil, neurocientista da Universidade de Michigan (EUA).

É preciso entender o cérebro

Mesmo sendo uma resposta que não controlamos, é preciso compreender o que acontece no organismo para controlar o que ingerimos e nos afastarmos da obesidade, que aumenta o risco de desenvolver quadros perigosos como doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.

A pressão para entendermos melhor os fatores que determinam a obesidade -como o papel do cérbero na regulação da alimentação- nunca foi tão grande. Estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde) sugerem 39% dos adultos do mundo têm excesso de peso e 13% são obesos.

Para ajudar a frear o aumento dessas porcentagens, os pesquisadores se concentraram em entender o funcionamento de dois pequenos grupos de neurônios no hipotálamo, que é uma região do cérebro que tem entre suas funções o controle de “comportamentos motivados”.

Os grupos de células nervosas se chamam POMC (pró-opiomelanocortina) e AgRP (células de peptídeos relacionados à agouti), que residem em uma região do hipotálamo conhecida como Arc (núcleo arqueado).

O que de fato acontece?

Em trabalhos anteriores, alguns dos cientistas da equipe já haviam revelado que, ao receber certos sinais, os neurônios do POMC agem "como um freio" ao comer e os neurônios AgRP agem como o pedal do acelerador -especialmente quando já tinha passado muito tempo desde a última refeição.

O que ninguém sabia ainda era como esses dois tipos de neurônios interagiam. Para desvendar o mistério, os pesquisadores mapearam os sinais cerebrais em ratos.

Com os dados, foi possível notar que quando as células POMC são ativadas, as AgRP que estão próximas também começam a trabalhar. Resumindo, isso significava que o pedal do acelerador e o freio da alimentação são acionados ao mesmo tempo, e nessa briga o acelerador é quem vence.

“Quando ambos são estimulados de uma vez só, o AgRP é quem rouba o show”, concluiu Akil.

Com um método diferente, os cientistas conseguiram acionar as POMC sem ativar as AgRP, o que levou a uma rápida e significativa diminuição na alimentação dos animais. Usando uma ferramenta de visualização, também foi possível traçar um mapa dos neurônios no cérebro, assim, os pesquisadores sabiam que sempre que uma das rotas fosse ativada desencadearia sensação de saciedade ou vontade de comer.

Em um conjunto final de experimentos, a equipe revelou que ativar o AgRP também liga o sistema opioide do cérebro. E dando aos roedores o bloqueador do receptor opioide, o naloxona, a vontade de comer era controlada.

"Isso sugere que o sistema opioide endógeno do próprio cérebro pode desempenhar um papel no desejo de comer além do que é necessário", observa a professora Akil.

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