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Crianças expostas ao cigarro podem ter câncer, catarata e até artrite

ClarkandCompany/Istock
Imagem: ClarkandCompany/Istock

Jane E. Brody

Do New York Times

20/09/2018 12h05

Adultos que querem evitar exposição ao fumo passivo têm opções. Eis algumas das minhas estratégias: não permito que fumem na minha casa e no meu carro, não tenho amigos ou familiares próximos que fumam, caminho à frente de fumantes ou cruzo a rua para evitá-los, faço refeições dentro de restaurantes e seguro o fôlego quando passo por fumantes do lado de fora de lojas e prédios de escritório.

Já as crianças estão à mercê dos fumantes em suas vidas – não apenas pais e outros parentes que fumam como também babás, funcionários de creche, auxiliares do ônibus escolar e até professores.

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Embora os fumantes possam se abster de acender cigarros diante de crianças, os jovens com quem têm contato estão expostos a tóxicos prejudiciais à saúde nos poluentes residuais que ficam nos móveis, nas roupas e na pele. Se você não fuma, sei que sente o cheiro de um fumante próximo. Quer realmente essa pessoa segurando seu bebê?

Embora somente 25 por cento dos norte-americanos fumem agora, quase metade dos jovens estão cronicamente expostos ao fumo passivo e aos poluentes residuais. E, segundo especialistas, muitos deles pagam um preço elevado com sua saúde, agora e no futuro.

Os riscos do fumo passivo estão solidamente estabelecidos. Segundo a Academia Americana de Pediatria, inalar fumaça alheia é responsável, anualmente, por quase três mil mortes por câncer pulmonar e dezenas de milhares de mortes por doença cardíaca entre os não fumantes.

A fumaça do tabaco contém quase quatro mil compostos químicos, muitos dos quais são perigosos, incluindo 50 que são conhecidos por causar câncer. Bebês que moram com fumantes correm risco acentuado de síndrome de morte súbita infantil, destino de um bebê de sete meses que eu conhecia cuja mãe fumava e eu disse que o culpado era seu tabagismo.

Crianças que inalam fumo passivo têm risco elevado de desenvolver infecções nos ouvidos, tosse e resfriado, bronquite, pneumonia e cárie, afirma a Academia Americana de Pediatria. Elas são mais propensas a ofegar, ter o nariz entupido e dores de cabeça, dor de garganta, irritação ocular, rouquidão e dificuldade para se recuperar de infecções respiratórias. Também perdem mais dias de aula, oportunidades atléticas e a chance de se divertir com os amigos.

As crianças propensas à asma talvez corram o maior risco; elas têm mais ataques, mais graves, e apresentam índice mais elevado de necessitar de tratamento no pronto-socorro e de internação. Meu sobrinho foi levado às pressas para um hospital diversas vezes com ataques de asma que poderiam lhe custar a vida, mesmo assim sua mãe continuou a fumar, por vezes quando ele estava por perto.

Esses são os riscos em curto prazo. Em longo prazo, crianças expostas ao fumo passivo podem viver com pulmões mal desenvolvidos e com maior tendência a se tornar fumantes. Mesmo que nunca fumem, apresentam risco acentuado de desenvolver doença cardíaca, câncer pulmonar, catarata e até mesmo de artrite reumatoide.

Pais sensatos deveriam manter os filhos fora de qualquer ambiente em que o fumo seja permitido, mesmo que ninguém esteja fumando ali no momento. O motivo? Preocupação crescente sobre os danos potenciais provocados pela exposição à nicotina e a outros compostos tóxicos do tabaco encontrados nos resíduos poluentes que permanecem no ambiente muito depois que a fumaça some.

"Nossas descobertas indicam que as crianças carregam compostos tóxicos da fumaça do tabaco nas mãos, mesmo que ninguém ao redor esteja fumando", a Dra. E. Melinda Mahabee-Gittens e colegas da Universidade de Cincinnati escreveram recentemente em "Tobacco Control", publicação da Associação Médica Britânica.

Observando que o resíduo do fumo passivo "se acumula na poeira, nos objetos, nas superfícies da casa e na pele e roupas dos fumantes", os pesquisadores afirmam que esses compostos tóxicos do fumo no ambiente são facilmente transferidos das mãos para a boca e o corpo. As crianças, em especial as pequenas, correm um risco maior do que os adultos de desenvolver complicações com os poluentes residuais do tabaco porque passam mais tempo dentro de casa cercadas por objetos contaminados pelos compostos tóxicos.

Os pesquisadores de Cincinnati encontraram indícios de níveis elevados de nicotina nas mãos de 25 crianças pequenas quando um ou ambos os pais fumavam. As crianças tinham sido levadas ao pronto-socorro com uma doença potencialmente relacionada à exposição de resíduos da fumaça do tabaco. Aquelas expostas a esses resíduos poluentes onde moram e brincam e ao fumo passivo de pessoas que fumam ao seu redor sofrem um golpe duplo, assinalaram os cientistas.

Além disso, ainda segundo a equipe, os resíduos poluentes podem ser mais perigosos do que o fumo passivo porque contêm "compostos novos não encontrados no fumo passivo, têm diversas formas de exposição e têm uma duração muito maior da exposição".

Outro novo estudo da Universidade de Cincinnati com 7.389 adolescentes não fumantes, publicado em "Pediatrics", constatou que quem mora com um fumante e era exposto aos poluentes residuais em casa tinha maior probabilidade de apresentar problemas respiratórios e de sofrer ao se exercitar com os colegas. Eles também eram mais propensos a ofegar durante ou após o exercício. Essas crianças não tinham asma, mas se mostravam menos inclinados a se declarar com saúde muito boa ou excelente. Elas tinham maior propensão a perder aula por causa de doenças e a passar pelo pronto-socorro.

"Crianças e adolescentes expostos" a poluentes residuais do tabaco "apresentam probabilidade 3,5 vezes maior de procurar atendimento emergencial", escreveu Ashley L. Merianos, a principal autora.

Sem dúvida, os riscos mais sérios são enfrentados por crianças cujos pais continuam fumando quando elas estão por perto. O Dr. Adam O. Goldstein, especialista em medicina da família da Universidade da Carolina do Norte, campus da Faculdade de Medicina de Chapel Hill, compara esse comportamento à violência infantil. "A sociedade não tolera exposição menores a amianto, arsênico, álcool ou chumbo, mas age como se a exposição à fumaça do tabaco fosse algo diferente. É venenoso para a saúde delas. Quanto maior a dose, pior é, mas não existe nível seguro de exposição."

Em artigo publicado em "Annals of Family Medicine", ele contou um caso no qual "pelo menos dez vezes em três anos, nós orientamos a família a não fumar perto do paciente de cinco anos e sua irmã de sete anos, já que as crianças vinham repetidas vezes à clínica com infecções no ouvido, tosse, bronquite e asma". Em determinado instante, a criança menor teve pneumonia e precisou de ventilação mecânica, mesmo assim "os pais se recusavam a falar conosco sobre parar de fumar, tratamento médico para largar o vício ou em não expor os filhos à fumaça do cigarro", ele escreveu.

Em retrospecto, ele afirma que deveria ter chamado o Conselho Tutelar para relatar suspeita de maus-tratos; o fato de os pais fumarem provocava problemas físicos.

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