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"Um mergulho tirou meus movimentos, mas a mente segue ativa e sem limites"

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Claudia Rato

Colaboração para o VivaBem

12/08/2018 04h00

Eric Chaim, 36, ficou tetraplégico e viu sua vida virar do avesso após um acidente na piscina. A seguir, ele conta como superou a depressão, aceitou sua condição, passou a desenvolver softwares, sites e dar aulas de programação:

“Sempre fui extremamente ativo e independente. Saía com meus amigos, trabalhava como vendedor, estava sempre em festas, viajava... Enfim, levava uma vida social bem agitada até que um dia, numa fração de segundos, viu tudo desmoronar.

Tinha 26 anos quando uma piscina mudou minha história. Havia passado um fim de semana perfeito num sítio e já estávamos de malas prontas para voltar para casa. Mas resolvi dar um último mergulho ali, sem saber quer era o último mergulho da minha vida. Pulei do parapeito lateral e me acidentei.

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Eu não sentia nada, fiquei totalmente paralisado. Somente meus olhos tinham movimento. Entrei em desespero. Aliás, um grande desespero. Na hora, passou tudo pela minha cabeça: o que iria fazer para viver, comer, trabalhar, me locomover? O que seria de mim dali para a frente? Por que comigo? Por que não terminar logo com isso?

E assim fui vivendo os primeiros dias e meses dessa agonia, com poucos avanços. No começo, não queria ver ninguém, nem saber de nada, mas minha mãe, minha guerreira, que nunca desistiu de mim, me deu forças e coragem para recomeçar minha vida

Passados oito meses do acidente, vi que faltava informação sobre os direitos de um deficiente. Descobri que não era uma dificuldade só minha e passei a encarar meu problema como motivação para ajudar as pessoas. À medida em que me informava, passava tudo adiante e isso me estimulava. Comecei a me sentir útil, querendo fazer mais.

Desse sentimento brotou uma força maior, também inspirada na minha mãe, que já realizava uma ação voluntária em seu emprego antes do meu acidente. Com outros voluntários, ela juntava latas de alumínio e trocava por cadeiras de rodas a quem precisasse.

Daí pensei: se eles fazem isso, a gente também pode fazer. Adaptamos a ideia e iniciamos o Trabalho de Formiguinhas. Começamos com um bazar de roupas e depois passamos a juntar e a vender latinhas e lacres. Com o valor arrecadado, compramos cadeiras de rodas, andadores, fraldas, enfim, o que fosse necessário e acessível dentro do arrecadado. Nossa atividade cresceu e hoje temos uma média de seis voluntários.

Pequenos avanços? Para mim foram grandes progressos

Tudo isso me impulsionou a enfrentar as dificuldades e ver que era possível retomar a vida. E assim fui encarando os primeiros anos dessa minha nova realidade. Na época da lesão eu não equilibrava a cabeça e o tórax. Com o passar do tempo, consegui sustentação de pescoço. Hoje, aos 36 anos, tenho um pouco mais de equilíbrio de tronco, leves movimentos de ombro e consigo mexer um pouquinho um dos braços --pode parecer algo pequeno, mas para mim foi um grande progresso. Sei que já atingi o meu máximo nessa evolução e que só avançaria com um tratamento de células-tronco. É triste, pois sei que o Brasil ainda está muito longe desse avanço! Mas a vida está ai e não posso parar.

Meus movimentos estão comprometidos, mas minha mente não. Ela vive inquieta, querendo sempre algo a mais, então, procuro o que fazer

Como sempre gostei de computador, busquei informações que pudessem me ajudar. Fazendo terapia ocupacional no Instituto Lucy Montoro, conheci um software gratuito, o Head Mouse, que serve para qualquer sistema operacional Windows e que me abriu uma janela para o mundo.

Por meio de uma webcam, esse programa mapeia o meu rosto e mexe o mouse conforme faço os movimentos com a cabeça. Minha boca e meus olhos funcionam como cliques. Com isso, passei a interagir com as pessoas, a desenvolver sites, aplicativos para celular, enfim, a me sentir vivo e ver que tudo é possível se a gente tiver vontade e acreditar.

No começo não foi fácil essa adaptação, mas para quem teve que se adaptar a tantas outras mudanças, não foi tão complicado.

Consegui fazer algumas permutas de serviços, a começar com a minha nutricionista. Pagava minhas consultas com desenvolvimento de projetos. Fiz para ela um site e administrei suas redes sociais. Esse trabalho chamou a atenção de outra pessoa da área de tecnologia, que me convidou para fazer parte de algumas atividades esporádicas, sempre na condição de me ajudar em alguma necessidade nos tratamentos. Também fui orientador voluntário de alunos na criação de projetos para aplicativos. Tanto essas ações, quanto o Trabalho de Formiguinha me impulsionam cada vez mais a seguir em frente.

Não sou inválido

Desde que me acidentei, me aposentei por invalidez. É uma palavra que eu não gosto muito de usar, afinal de contas, não me acho uma pessoa inválida, mas é denominação que nos dão. É uma pena. Pena também a forma burocrática como o sistema vê o aposentado.

Eu até conseguiria fazer algo rentável, mas temporário, porque preciso ter alguém comigo o tempo todo para poder me alimentar e me ajudar em tudo. Para isso, conto com um serviço "home  care"  24 horas, porém, o atendimento vale somente para dentro de casa, o que me limita a fazer qualquer atividade externa.

Ou seja, por mais que eu tivesse um emprego, esse teria que ser dentro de casa e me garantir estabilidade total, porque eu entraria na chamada "desaposentadoria", ou seja, caso eu perdesse esse emprego, não conseguiria me aposentar novamente. É um mínimo que recebo, mas é o que me garante algo no dia a dia.

Antes de terminar, dois recados

Quando eu não tinha a lesão, jamais pensava que algo poderia acontecer comigo, e aconteceu. Então, o que eu digo é para sempre ter cuidado com as brincadeiras. Às vezes, uma coisa simples pode ter uma consequência bem extensa, como foi no meu caso, que foi um pulo na piscina.

E para quem está na mesma situação que eu, tenha calma, respire fundo. Busque informações sobre tratamentos e seus direitos. Vá atrás do que dá prazer a você. Não é fácil, mas somos capazes de passar por tudo isso!”

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