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Comer pouca proteína na gestação eleva risco de câncer de próstata no filho

O índice de descendentes afetados por tumores na próstata foi de 50% - iStock
O índice de descendentes afetados por tumores na próstata foi de 50% Imagem: iStock

Do VivaBem

01/08/2018 12h59

Filhos de mães alimentadas com uma dieta pobre em proteínas durante o período de gestação e lactação correm risco consideravelmente maior de desenvolver câncer de próstata ao envelhecer. A conclusão é de um estudo feito com ratos no Instituto de Biociências (IBB) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu. Os resultados da pesquisa, apoiada pela FAPESP, foram divulgados no periódico The Journals of Gerontology.

O experimento consistiu em alimentar fêmeas prenhes com uma ração contendo apenas 6% de proteína. O alimento normalmente oferecido a ratos de laboratório tem entre 17% e 23% desse nutriente. “Dados da literatura indicam que o porcentual mínimo necessário para a rata levar a gestação sem problemas é 12%”, afirma Luis Antonio Justulin Junior, professor do IBB-Unesp e coordenador do estudo.

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As fêmeas prenhes incluídas na pesquisa foram divididas em três grupos. O controle recebeu a ração padrão, com pelo menos 17% de proteína, durante toda a gestação e 21 dias após o nascimento --período de lactação.

A partir do desmame, os filhotes foram alimentados com a dieta padrão. Na avaliação feita quando a prole completou 540 dias de vida, quando já são considerados ratos velhos, os pesquisadores não observaram nenhum caso de tumor prostático no grupo controle.

Mas uma grande parte dos filhotes das fêmeas que receberam a ração com 6% de proteína durante a gestação desenvolveu câncer de próstata. Mesmo recebendo uma dieta padrão após o desmame, assim como as mães, na avaliação dos 540 dias, 33% dos descendentes machos haviam desenvolvido o tumor.

No grupo três, exposto à dieta hipoproteica durante todo o período de gestação e também de lactação, o índice de descendentes afetados por tumores na próstata foi de 50%.

Experimentos com ratos feitos na Unesp-Botucatu mostram que a restrição proteica intrauterina induz desequilíbrio nos níveis de hormônios sexuais, o que parece favorecer surgimento do tumor em animais de idade avançada - Divulgação/Agência FAPESP - Divulgação/Agência FAPESP
Experimentos com ratos feitos na Unesp-Botucatu mostram que a restrição proteica intrauterina induz desequilíbrio nos níveis de hormônios sexuais, o que parece favorecer surgimento do tumor em animais de idade avançada
Imagem: Divulgação/Agência FAPESP

Explicação está nos hormônios

Os pesquisadores ainda coletaram sangue dos filhotes machos nos dias 21 e 540 após o parto. Eles observaram que, em comparação ao grupo controle, havia um desequilíbrio na relação entre os níveis de hormônio feminino e masculino.

Enquanto o macho controle apresentava 15 picogramas (pg) de estrógeno no dia 21, o animal submetido à restrição proteica durante a gestação e lactação apresentava 20 pg. Já no dia 540, a diferença foi ainda maior: 14 pg no controle contra 35 pg no restrito. Além disso, no dia 540, a alta no hormônio feminino estava associada a uma baixa na testosterona, o principal hormônio masculino.

A hipótese que os pesquisadores agora tentam comprovar é que a exposição desse animal de idade avançada aos níveis hormonais alterados favorece a carcinogênese, ou seja, o desenvolvimento tumoral.

“Nós observamos isso na próstata, mas há outros estudos mostrando correlação entre o baixo peso no nascimento induzido por restrição nutricional intrauterina e alterações nos níveis de insulina, maior incidência de síndrome metabólica e doenças cardíacas”, diz Justulin.

*Com informações da Agência FAPESP.