Ele ficou cego e chegou a 120 kg, mas venceu a depressão e virou um Ironman
O triatleta Anderson Roberto Duarte, 38 anos, realizou um grande sonho em sua vida de atleta amador: no último domingo (27), em Florianópolis (SC), ele completou o Ironman, competição com aproximadamente 3,8 km de natação, 180 km de bicicleta e 42 km de corrida.
Anderson é cego desde os 25 anos e perdeu completamente a visão por conta de uma rara síndrome, a de Von Hippel-Lindau, que afeta uma a cada 39 mil pessoas no mundo. Logo que descobriu o problema ele ficou muito abatido, se tornou sedentário e chegou a pesar 120 kg. Mas sua vida começou a mudar em 2005, quando voltou para o esporte e conheceu seu braço direito, o treinador Guilherme Rodrigues. A parceria entres os dois dura anos e eles cruzaram juntos a linha de chegada do Ironman Floripa, em 11 horas e 51 minutos.
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"Passei 2 anos na escuridão e quis me matar"
Anderson contou que sempre gostou de praticar esportes e fazia natação antes de ficar cego. Sua saúde começou a piorar em 2000, após ser vítima de um assalto e viver momentos de muita tensão.
"Um grupo me levou o carro, documentos e muito da minha saúde. Passei a ficar estressado por pouco e tinha medo de sair de casa. A coisa piorou quando 30 bandidos cercaram a empresa em que eu trabalhava e começaram a gritar meu nome. Entrei em pânico."
A situação fez com que ele começasse a beber e fumar cada vez mais, além de andar armado. "A paranoia de um novo assalto sempre vinha na cabeça." De repente, Anderson começou a sentir tonturas e ter a vista embaçada. "O problema foi se tornando cada vez mais frequente e pensei: não pode ser só estresse ou fruto da minha imaginação. Fiz alguns exames e descobri que tinha contraído a síndrome chamada de VonHippel-Lindau, que ocorre devido ao crescimento anormal de vasos sanguíneos em determinadas partes do corpo."
Primeiro, a doença levou sua visão do olho esquerdo. Poucos meses depois, a do direito. "Nesta época, eu estava cada vez mais gordo e desanimado. Até pensei em me suicidar."
Anderson conta que passou dois anos na escuridão total, cego e trancado em casa. Até que resolveu agir e voltar a viver. "Peguei uma bengala e aprendi a me localizar nos lugares, a usar minha memória construída das coisas que conhecia. E, enquanto me adaptava, recebi um convite para experimentar a natação paraolímpica."
Um tumor na cabeça o levou ao triatlo
Com o retorno às piscinas, ele perdeu bastante peso e passou a competir pelo Clube Vasco da Gama em muitos torneios no Brasil e no exterior. "Estava feliz com a vida nova que levava, com minha esposa Karina e minha filha Julia, que nasceu em 2007. Ser cego já não era um problema para mim."
Só que sua rotina de treinos na natação teve de ser interrompida por causa de um tumor do tamanho de uma bola de golfe no cérebro, que o impediu de seguir competindo. Após uma operação para remover o problema, ele queria se movimentar, fazer exercícios, mas ainda não podia nadar --pois a água poderia atrapalhar a recuperação da cirurgia. Então, começou a pedalar e correr. Pronto, estava aberta a porta para o triatlo entrar em sua vida.
"Conheci o Guilherme, que desde então tem sido meu braço direito e um parceiro muito importante. Quando dividi com ele que eu tinha o sonho de completar um Ironman, ele topou o desafio e fizemos um ano e meio de preparação para chegar a Florianópolis."
"Quando alguma pessoa fala que não consegue fazer algo, eu sempre pergunto: mas você já tentou? Olhe no espelho e se enxergue. Você pode e consegue
Anderson Duarte
O desafio de competir em dupla
Guilherme, que é educador físico e diretor de uma assessoria esportiva, gosta de deixar claro que o atleta é Anderson, e que entra nas competições para fazer a prova do parceiro, não a própria.
“Este foi meu terceiro Ironman e eu estava tranquilo. Minha única preocupação era de 'quebrar' no meio da prova e prejudicar a realização do sonho que o Anderson carregava há tanto tempo”, destaca o treinador.
O companheirismo da dupla é um fator determinante em uma competição que dura tantas horas e desgasta muito o corpo. No ciclismo, o movimento das quatro pernas precisa ser coordenado, já que eles usam uma bike adaptada de dois lugares, com o treinador liderando e dando todas as instruções para Anderson sobre curvas, ladeiras, descidas, quando é hora de fazer força etc.
A parte mais tensa para a dupla --e a maioria dos triatletas -- foi a corrida. A partir do quilômetro 15, Anderson, que nunca havia corrido a distância de uma maratona (42,195 km), começou a reclamar de dores nas pernas e esgotamento. Na base da conversa e de um ritmo cadenciado, Guilherme o incentivou a chegar até os 25 km, mesmo com as queixas aumentando. “Esses 10 km nos exigiram muito, mas quando superamos a turbulência passamos a correr relaxados e motivados para vencer os 17 km que ainda restavam”, relembra Guilherme.
E assim, quando já era noite em Florianópolis, após quase 12 horas nadando, pedalando e correndo, Anderson e Guilherme cruzaram a linha de chegada, com o triatleta cego em êxtase por ter realizado um grande sonho. “Era um grande desafio na minha vida, e vencê-lo me faz pensar que um dia vou competir no Mundial de Ironman, em Kona (Havaí), onde o triatlo nasceu.
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