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Malefícios do estresse podem ser transmitidos de pai para filho via esperma

Ser uma pessoa estressada por ser pior do que pensávamos. - iStock
Ser uma pessoa estressada por ser pior do que pensávamos. Imagem: iStock

Do VivaBem, em São Paulo

23/05/2018 13h01

O acúmulo de estresse gera problemas de sono, pode afeta o coração e até causar depressão. Mas você já havia pensado que os prejuízos trazidos pela tensão excessiva são capazes de influenciar a saúde e o comportamento de seus filhos? Um trabalho feito em ratos mostrou que pelo menos alguns dos efeitos do estresse podem ser transmitidos, sim, para a prole por meio de mudanças induzidas pelo ambiente nos níveis de miRNA do esperma --um tipo de regulador gênico.

Esse novo estudo epigenético levanta a possibilidade de que o mesmo aconteça em humanos, ao mostrar pela primeira vez que os níveis dos mesmos dois miRNAs de espermatozoides mudam em homens e camundongos expostos ao estresse. Nos ratos, os efeitos negativos do estresse foram transmitidos aos filhos.

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O estudo foi publicado na revista Translational  Psychiatry e levanta a possibilidade de que parte da vulnerabilidade das crianças se deva à herança do tipo lamarckiano, derivada das experiências de seus pais. O biólogo francês Jean-Baptiste Lamarck acreditava que mudanças no ambiente causavam mudanças nas necessidades dos organismos que ali viviam, causando alterações no seu comportamento.

A parte humana do estudo utilizou o questionário de Experiências Adversas da Infância (ACE) como um indicador do trauma da primeira infância dos homens. O questionário do ACE Study incluiu 10 perguntas com respostas sim ou não sobre as experiências de uma pessoa até os 18 anos de idade, falando sobre abuso físico, verbal ou sexual e negligência física ou emocional.

Outras questões diziam respeito aos membros da família. Quatro ou mais respostas sim aumentavam significativamente o risco de futuros problemas de saúde mental e física. De acordo com um resumo de pesquisa da Child Trends, publicada em 2014, uma parcela considerada alta (10%) da população reporta pontuações iguais ou acima dessa nota de corte.

Os miRNAs constituem um novo tipo de regulador gênico, onde cada miRNA controla um conjunto distinto de genes. Até recentemente, acreditava-se que os espermatozoides dos pais contribuíam apenas com o DNA para o óvulo da mãe após a fertilização, mas novos dados em ratos indicam que os espermatozoides também contribuem com miRNAs que influenciam a próxima geração.

A expressão do miRNA do esperma em humanos é conhecida por ser afetada por fatores ambientais, como tabagismo e obesidade, mas nenhum trabalho em humano até o momento havia documentado os efeitos do estresse.

Poder sobre próxima geração

O novo estudo descobriu que entre 28 voluntários caucasianos do sexo masculino, a expressão de dois miRNAs de espermatozoides altamente relacionados, miR-449 e miR-34, foi inversamente proporcional aos escores da ECA nos homens. Homens com o mais extenso abuso precoce (escores mais altos da ECA) tiveram uma redução de até 300 vezes nos dois miRNAs espermáticos em comparação com os homens com menos abuso.

"Este é o primeiro estudo a mostrar que o estresse está associado a níveis alterados de miRNAs de espermatozoides em humanos. Atualmente, estamos estabelecendo um novo estudo maior em homens, além de experimentos adicionais em ratos que poderiam dar mais apoio a ideia de que as mudanças no esperma, de fato, contribuem para uma elevação dos distúrbios relacionados ao estresse através das gerações", disse David Dickson, primeiro autor do estudo.

"Olhando para o futuro, poderemos descobrir uma maneira de restaurar os baixos níveis de miRNA encontrados em homens expostos a traumas extremos, porque as mudanças epigenéticas, como as diminuições induzidas pelo estresse na expressão do miRNA, são reversíveis, diferentemente das mudanças genéticas, que alteram a sequência do DNA ", acrescentou.

Por exemplo, a obesidade tem mostrado alterar os níveis específicos de miRNA nos homens, enquanto a cirurgia bariátrica e a subsequente perda de peso podem reverter as mudanças. Além disso, já foi possível reverter os efeitos negativos do estresse em camundongos ao longo das gerações, expondo os ratos a um "ambiente enriquecido" que envolve extensas interações sociais, exercícios e oportunidades para explorar seus arredores.

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