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"Fiquei 10 horas no banho e 11 dias sem comer", diz Vendramini sobre TOC

Luciana Vendramini chegou a pesar 39 kg no auge do TOC - Manuela Scarpa e Iwi Onodera/Brazil News
Luciana Vendramini chegou a pesar 39 kg no auge do TOC Imagem: Manuela Scarpa e Iwi Onodera/Brazil News

Maria Júlia Marques

Do VivaBem, em São Paulo

03/05/2018 18h24

“Cheguei a passar dez horas tomando banho, a demorar seis horas para conseguir levantar da cama e a ficar 11 dias sem comer...O TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) coloca tantas paranoias e manias na sua vida que fica quase impossível ter uma rotina, é muito ruim”, disse Luciana Vendramini nesta quinta-feira (03), durante uma palestra na Escola de Psicanálise de São Paulo, com mediação da psicanalista Débora Damasceno. 

A atriz contou que estava terminando de gravar a novela O Rei do Gado, em 1997, quando foi dar um passeio de bicicleta na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. A ideia era tomar um ar, mas o passeio não foi nada relaxante.

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“De repente tive a sensação de que algo horrível ia acontecer, muito medo, muita angústia. Minha cabeça me dizia que não podia me mexer. Sem compreender, fiquei travada ali cerca de três horas e meia, chorando e sem saber como sair”, lembrou. Foi neste instante que a apresentadora teve seu primeiro encontro com o TOC.

Quem é diagnosticado com o transtorno tem obsessões e compulsões. As obsessões aparecem como pensamentos, ideias ou imagens que brotam na cabeça e causam um incômodo enorme, como uma forte angústia –como Luciana descreveu.

“O paciente não consegue escapar, são pensamentos involuntários, espontâneos, repetitivos e que trazem sentimentos negativos”, afirmou Diego Tavares, do Grupo de Doenças Afetivas do Hospital das Clínicas.

Luciana Vendramini em foto do Instagram - Reprodução/ Instagram - Reprodução/ Instagram
"Achava que estava controlando tudo por repetir vários rituais, mas estava sem controle da minha cabeça", disse Luciana
Imagem: Reprodução/ Instagram
A mente é inundada com ansiedade, medo, mal-estar, e busca uma saída para conseguir um alívio. É aí que as compulsões aparecem: são comportamentos repetitivos que o paciente faz para se acalmar.

Sentia uma eterna insegurança, uma eterna dúvida, então ia lavar as mãos de novo, pela décima vez, para garantir que estavam limpas. Estava consciente de tudo que fazia, mas não tinha controle de nada. Ficava pensando: ‘eu que controlo a minha cabeça ou ela que está me controlando?”, explicou Vendramini. 

“É isso, o paciente tem o senso crítico, ele sabe que é um exagero, que acabou de confirmar que realmente fechou a porta, mas tem os pensamentos de que talvez esteja enganado, cria a necessidade de fazer um rito, conferir diversas vezes até que aquilo se concretize na cabeça de alguma forma”, disse Ricardo Ouchi, psiquiatra do hospital São Luiz.

Comumente, o paciente tem problemas com apenas um tema (como germes, nojos específicos, catástrofes ou preocupações constantes), mas com a evolução da doença pode ser que outros incômodos sejam somados.

“Sentia que tinha de bater a porta do carro determinadas vezes para ficar bem, e mesmo com a minha mãe dizendo que a porta ia cair, eu precisava fazer aquilo”, contou a atriz. Outro hábito era pegar o elevador sem paradas, se alguém entrasse no meio, voltava o caminho todo.

Também existia a mania de ter pensamentos positivos ao passar por uma porta. “Mas até quando atravessava pensando com amor na minha sobrinha, meu cérebro apitava: ‘será que em nenhum segundo você não pensou em algo ruim? Melhor entrar e sair novamente”, explicou. 

Luciana Vendramini, foto do Instagram - Reprodução/ Instagram - Reprodução/ Instagram
"Minha mãe chorava por não entender a necessidade de bater a porta 20 vezes. Eu precisava, é difícil de explicar, é angustiante", explicou a ex-paquita
Imagem: Reprodução/ Instagram

O TOC pode atrapalhar muito a vida 

Como tempo, os rituais eram tantos que Vendramini disse não ver mais o tempo passar, ficava só administrando as atividades. “E se alguém me impedia eu virava o Thor (personagem do filme Os Vingadores). Precisava fazer aquilo independentemente do tempo”.

Ela foi deixando de viver. “Demorava para me vestir porque tinha muitas manias. Então, comecei a andar só de lençol. Também tinha rituais para me alimentar e, para evitar o estresse, parei de comer. Fiquei 11 dias sem me alimentar, meu pai ameaçou chamar a ambulância e notei como estava fora de controle”. A atriz afirmou que chegou a pesar 39 kg no auge da doença. 

Após cinco anos, com a ajuda de amigos e da família, a atriz buscou ajuda profissional e alcançou o equilíbrio. “Relutei a tomar o remédio, mas quando comecei foi maravilhoso. Hoje continuo me medicando, com doses baixas, e tenho o controle. Consigo fazer minha vida andar, consegui refletir e questionar as minhas obsessões e manias, e com esse combo, remédio mais terapia, eu vivo muito bem”.

Segundo ela, não há segredo, o foco precisa vir de três frentes: “Primeiro, a família. Parentes têm que estar preparados para entender que é uma condição e não birra. Depois, remédio! Em terceiro lugar, deixe o tabu de lado e entre na terapia: não precisa ter vergonha, buscar ajuda é essencial”, concluiu.

Os médicos também recomendam terapia e medicação, já que não há cura do TOC, apenas o controle. Os remédios são os mesmos usados em alguns casos de depressão e costumam aliviar a ansiedade. Assim, quando as obsessões aparecem, elas não causam tantas consequências.

A terapia mais indicada é a comportamental, que ajuda a lidar com os pensamentos e expõe gradualmente o paciente aos medos e a mostrar que ele consegue encará-los.

Caso você acredite que tem TOC e está buscando ajuda, saiba que há um ambulatório especializado em tratamentos do transtorno com vagas em São Paulo. Entre em contato por e-mail com o Pró-TOC, do Hospital das Clínicas: protoc.projeto@gmail.com.

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