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Respeito e empatia: coisas simples que facilitam a interação com um autista

O autista poder ter dificuldade de comunicação e interação social - iStock
O autista poder ter dificuldade de comunicação e interação social Imagem: iStock

Claudia Rato

Colaboração para o VivaBem

30/04/2018 04h00

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio neurológico que compromete a interação social, comunicação verbal e não verbal. Por isso, para interagir bem com uma pessoa que tem a condição, é importante conhecer algumas de suas características e, principalmente, se livrar de certos preconceitos. 

"Algumas pessoas chegam e dizem: 'Seu filho é autista? Nossa, não parece, ele é tão lindo!'. É como se o autista fosse um monstro. Minha filha não é um monstro, é uma menina linda! Esse questionamento infeliz vem da falta de informação, pois tem gente que imagina que uma criança com TEA possui aparência diferente", comenta Camila Rodrigues, mãe de Allegra, de 5 anos, diagnosticada com autismo leve aos dois anos.

Outra atitude que chateia pais de filhos com autismo está relacionada diretamente a como o comportamento da criança com TEA muitas vezes é mal interpretado. Situações em que, por exemplo, a criança está aos gritos, chorando e esperneando, são encaradas como birra. No entanto, na maioria das vezes, o que ocorre são frustrações da criança diante de algum fator desconfortável externo.

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Não é birra, são crises sensoriais”, defende Cristiane Mazzitelli, mãe do adolescente Vinícius, 17 anos, TEA leve, que em sua fase infantil passou por algumas situações assim. “As pessoas comentam que o autista é birrento, mal-educado e ainda sugerem que precisamos dar algumas palmadas. Elas estão completamente equivocadas e desinformadas", diz Sara Daniela, mãe do pequeno Eli, seis anos, diagnosticado quatro anos atrás com autismo moderado.

“O mais difícil de lidar com o autista no meio social são essas frustrações e o excesso de estímulo que o ambiente pode oferecer. Criança com problema sensorial dentro de um local cheio de estímulo vai sofrer, ter uma insatisfação e, consequentemente, uma crise. Ponto. Isso é básico e deve ser respeitado”, reforça Camila.

Como identificar e interagir com um autista

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O excesso de estímulos sonoros, visuais e até olfativos pode gerar uma crise no autista
Imagem: iStock
Segundo Mirian  Revers, psiquiatra do Programa do Transtorno do Espectro Autista (Protea) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São de Paulo, é muito difícil para alguém sem conhecimento prévio identificar uma pessoa com TEA, isso porque as características podem ser variadas.

“O autismo é muito heterogêneo na manifestação dos seus sintomas. A pessoa pode parecer distante, às vezes fria, tímida, mas não há uma característica específica do transtorno”, explica Revers. Interesses restritos sobre temas diferentes e movimentos repetitivos também podem caracterizar o autismo. “Chamamos de estereotipia, que são os movimentos inexplicáveis e que não têm uma função específica. Em casos mais leves, isso acontece com menor frequência em comparação aos severos.

Evite desencadear uma crise

Quando se está ao lado de uma pessoa com autismo, é importante entender que a dificuldade dela em lidar com o excesso de estímulos pode provocar uma crise. Por isso, é sempre bom estar atento aos fatores externos e o quanto isso pode mexer com a sua sensibilidade.

“É interessante perceber como é a percepção da pessoa com autismo. Às vezes ela tem alteração auditiva, visual, tátil e ou olfativa. Se for uma hipersensibilidade sonora, ela pode se irritar com pessoas que falam alto, ou que têm um timbre de voz muito agudo ou grave. Esse incômodo também pode ser decorrente de barulhos de sirenes, fogos de artifício, buzinas, motor de carro, motos, sinal da escola, aspirador de pó, entre vários outros", esclarece a psiquiatra. 

Se for uma alteração visual, até mesmo roupas ou joias que brilhem muito podem incomodar. Conversar encostando na pessoa com sensibilidade tátil também pode provocar uma intolerância. Assim como perfume ou algum outro cheiro que podem alterar a sensibilidade do autista. "Vale ressaltar que cada caso é um caso específico”, diz Revers.

Como devo me comportar? Existe uma regra?

pai e filho com autismo - iStock - iStock
Procure sempre tentar perceber se a pessoa com autismo está recebendo bem sua abordagem
Imagem: iStock
A melhor forma de agir com um autista é exatamente igual a com qualquer pessoa: com educação, respeito e empatia.

"Se houver o mínimo de empatia, é possível observar se a abordagem está sendo agressiva ou não. Os autistas têm uma dificuldade de comunicação, de manifestar claramente o que estão sentindo. Mas se você observar sinais subjetivos como postura e movimentos corporais, é possível perceber se ele está confortável com aquela situação ou não. Assim, percebe se deve mudar a sua forma de contato e aproximação”.

Ou seja, não existe uma regrinha de comportamento para usar ao lado de uma pessoa com TEA. O importante é tentar entender como ela está recebendo a sua abordagem. Segundo a especialista, tudo varia muito de cada paciente, da sua faixa etária e do grau desse transtorno.

Às vezes, a melhor ajuda é não ajudar!

Nem sempre pais que estão com o filho em crise sensorial na rua querem ou precisam da ajuda de alguém. Eles também não têm obrigação de explicar o que a criança está passando naquele momento. “Os pais podem simplesmente querer acalmar o filho daquela situação e optar por continuar a fazer o que estavam fazendo ou ir embora."

Portanto, só ofereça auxilio se perceber que a pessoa realmente quer sua colaboração. "Às vezes, a melhor ajuda é não ajudar! Vale reforçar que o importante para quem está do lado de fora é ter empatia e sempre respeitar o desejo dessa mãe ou desse pai", orienta a psiquiatra. 

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