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Cafeína só melhora desempenho no treino em pessoas com gene específico

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Gretchen Reynolds

Do New York Times

29/03/2018 15h47

A possibilidade de os atletas melhorarem seu desempenho com cafeína depende dos genes. Segundo novo estudo da genética do metabolismo da cafeína, atletas com uma variante particular de um gene demonstram melhoras notáveis na resistência após ingerirem a substância.

Porém, quem tiver uma variante diferente desse gene pode apresentar desempenho pior se a cafeína for ingerida antes, levantando dúvidas sobre se ela deveria ser utilizada como recurso para aprimorar a performance e sobre a ampla interação da nutrição, genética e exercícios.

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Para muita gente, a cafeína, geralmente no formato de café, é tão necessária pela manhã quanto o sol. Contudo, cada pessoa responde de uma forma a seus efeitos. Algumas ficam agitadas e mais tarde têm dificuldade para dormir. Outras podem beber a mesma quantidade de café, sentindo-se mais alertas, mas sem agitação nem problemas de sono.

A mesma gama de reações ocorre nos atletas. Em diversos estudos passados, a maioria das pessoas se exercita por mais tempo, com maior velocidade ou vigor após ingerir uma dose moderada de cafeína, mas alguns não sentem melhora ou até mesmo pioram.

Anos atrás, essas disparidades chamaram a atenção de Ahmed El-Sohemy, professor de nutrição da Universidade de Toronto, Canadá, que estuda como os genes influenciam as reações corporais a alimentos e dietas. Ele é fundador da Nutrigenomix, empresa que realiza testes genéticos ligados à nutrição.

Naquela época, outros geneticistas haviam estabelecido que uma forma específica de um gene afeta o metabolismo da cafeína. Esse gene, o CYP1A2, controla a expressão de uma enzima que afeta a quebra e a eliminação da cafeína do organismo.

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Maioria das pessoas se exercita melhor após ingerir dose moderada de cafeína, mas alguns não sentem melhora ou até mesmo pioram
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Uma variação do gene CYP1A2 faz o corpo metabolizar rapidamente a cafeína. Pessoas com duas cópias dessa variante, uma de cada um dos pais, são conhecidas como metabolizadores velozes de cafeína; a droga lhes dá um "barato" rápido e depois some. Segundo a maioria das estimativas, quase metade das pessoas metabolizam rapidamente a cafeína.

Outra variante do gene reduz o metabolismo da cafeína. Pessoas com uma cópia dessa versão e uma da metabolização veloz são consideradas metabolizadores moderados, enquanto quem tem duas cópias da variante lenta é tido, sem dúvida, como metabolizador lento. Cerca de 40% das pessoas seriam metabolizadores moderados; os outros 10% são metabolizadores lentos.

Cafeína pode retardar os esportistas que são metabolizadores lentos

Em 2006, El-Sohemy e colegas publicaram um estudo no periódico JAMA mostrando que os metabolizadores lentos apresentavam risco acentuado de infarto se ingerissem café com frequência, na comparação com pessoas geneticamente classificadas como metabolizadores rápidos de cafeína. Os cientistas ofereceram a teoria de que a droga, que pode contrair vasos sanguíneos, permanecia mais tempo no organismo, produzindo efeitos cardíacos mais duradouros – e, neste caso, indesejáveis – entre os metabolizadores lentos.

Porém, poucos experimentos mais amplos se concentraram em como as pessoas com o perfil genético CYP1A2 podem influenciar seu desempenho atlético após a ingestão de cafeína.

Assim, para o novo estudo, publicado neste mês no periódico Medicine & Science in Sports & Exercise, El-Sohemy, ao lado de Nanci Guest, pós-graduanda, e outros colegas, decidiram oferecer a cerca de cem jovens atletas masculinos interessados doses variadas da droga. O estudo foi em parte financiado pela Nutrigenomix, Coca-Cola e pelos Institutos Canadenses de Pesquisa em Saúde; de acordo com El-Sohemy, os financiadores não influenciaram os resultados.

Os cientistas tiraram amostras genéticas da bochecha dos homens, analisaram os genes CYP1A2 e, baseados em qual variante cada um deles possuía, os classificaram como metabolizadores velozes, moderados ou lentos de cafeína.

A seguir, fizeram os atletas completarem três sessões pedalando uma bicicleta ergométrica durante dez quilômetros o mais rápido possível. Antes de uma sessão, os homens recebiam uma dose pequena de cafeína (dois miligramas por quilograma de peso corporal; a quantidade encontrada em uma xícara grande). Antes da seguinte, eles ingeriram o dobro de cafeína e, antes da terceira, um placebo.

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Os resultados posteriores demonstraram que, no total, os homens tinham melhor desempenho com cafeína, especialmente após a dose maior. Contudo, há diferenças importantes segundo o tipo genético. Os metabolizadores velozes pedalaram quase 7% mais rápido após a dose maior de cafeína na comparação com o placebo. Os metabolizadores moderados apresentaram um tempo quase igual com cafeína ou placebo.

Já os metabolizadores lentos registraram o maior impacto, embora em direção negativa. Eles completaram os dez quilômetros quase 14% mais lentamente após a dose mais elevada de cafeína do que após o placebo.

Motivos ainda são uma incógnita

Ainda não está claro como a cafeína afeta positiva ou negativamente o desempenho atlético. Contudo, El-Sohemy suspeita que, como no estudo do infarto, a cafeína permanecia mais tempo nos metabolizadores lentos, contraindo os vasos sanguíneos e reduzindo o fluxo de sangue e oxigênio aos músculos cansados.

Nos metabolizadores velozes, a droga muito provavelmente oferecia um pico rápido de energia e depois era eliminada do organismo "antes de provocar algo ruim", diz ele.

O estudo envolveu apenas homens jovens saudáveis e ciclismo. Ele não pode nos dizer se a cafeína melhora ou piora igualmente o desempenho em outros esportes. E não pode responder à grande questão de se é necessário fazer um teste genético antes de decidirmos ingerir café e começar a próxima sessão de exercícios.

O desempenho físico envolve, afinal, muitos fatores, incluindo motivação, sono, estresse, nutrição e o funcionamento de um grande número de genes, muitos ainda não identificados.

Caso você ache que o café parece reduzir seu desempenho, faça um teste genético para classificar seu gene CYP1A2 e confirmar que é um metabolizador lento. Ou não beba café antes de malhar novamente.

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