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Grindr, popular aplicativo gay, vai estimular usuário a fazer teste de HIV

Jack Harrison-Quintana, diretor de igualdade do Grindr, o maior aplicativo de encontros gay do mundo, em um centro comunitário LGBT - Mark Makela/The New York Times
Jack Harrison-Quintana, diretor de igualdade do Grindr, o maior aplicativo de encontros gay do mundo, em um centro comunitário LGBT Imagem: Mark Makela/The New York Times

Donald G. Mcneil Jr.

Do New York Times

28/03/2018 19h55

Em uma tentativa de reduzir a epidemia global de Aids, o maior aplicativo gay de encontros do mundo está mudando seu programa nesta semana para pedir aos milhões de usuários que façam testes frequentes de HIV.

O Grindr, que afirma ter 3,3 milhões de usuários diários de todos os países do mundo, enviará aos homens que aderirem ao serviço um lembrete a cada três a seis meses e, simultaneamente, indicará o ponto mais próximo de exame. Ele também permitirá que clínicas, centros da comunidade gay e outros sites de exames façam anúncios de graça.

A empresa está fazendo a mudança para "reduzir a transmissão do HIV e apoiar nossa comunidade – independentemente do status de HIV – para que todos tenham uma vida longa e recompensadora", afirma Jack Harrison-Quintana, diretor de igualdade da Grindr.

Especialistas em HIV saudaram o anúncio com entusiasmo. "Nossa, que genial. Uma empresa dessa magnitude fazer algo assim é revolucionário", declara Jeffrey D. Klausner, ex-diretor de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis em San Francisco, que usou o Grindr para promover os exames.

Perry N. Halkitis, reitor da Faculdade Rutgers de Saúde Pública e especialista em comportamento gay masculino, qualificou a decisão de "excelente". "Isso vai 'desmedicalizar' o exame e tirar seu estigma. Quanto mais for tratado como algo normal, mais pessoas o farão", acredita Halkitis.

Jonathan Mermin, chefe de doenças sexualmente transmissíveis e Aids do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), avalia que muitos homens que usam aplicativos de celular baseados em localização para achar outros homens nas vizinhanças em busca de sexo são considerados um grupo de alto risco de infecção.

Portanto, "todas as iniciativas eficazes de aumentar o número de testes são bem-vindas", diz ele a respeito da decisão do Grindr. "Quanto mais organizações e pessoas se envolverem nesse esforço, melhor."

O CDC recomenda que homens gays sexualmente ativos façam o teste pelo menos uma vez por ano, e que quem corre maior risco – como os com muito parceiros ou que não usam preservativos e nem tomam PrEP (profilaxia pré-exposição, na sigla em inglês), uma pílula que impede a infecção – realize testes a cada três ou seis meses.

Em alguns lugares, os exames ainda mais frequentes são a norma. No setor de cinema pornográfico da Califórnia, por exemplo, atores em filmes em que não são usados preservativos devem apresentar teste negativo a cada duas semanas.

Mais de 107 mil homens gays e bissexuais dos Estados Unidos têm HIV, mas não sabem, afirma Mermin, e geralmente há uma espera de três anos entre o dia em que são infectados e o dia em que descobrem.

Ao longo do tempo, um homem pode disseminar o vírus a dezenas de parceiros; contudo, quem fez o teste e toma remédios antirretrovirais todos os dias praticamente não corre risco de transmitir o vírus. Três anos "é tempo demais", acredita Mermin. "Fazer o exame é bom para as pessoas e uma medida de saúde pública lógica".

Klausner tem estudado usar o Grindr para distribuir testes caseiros de HIV para homens gays negros e hispânicos, o grupo de risco mais elevado dos EUA. Segundo ele, vários estudos demonstraram que lembretes por mensagem de texto ou telefone podem triplicar ou até mesmo quadruplicar a chance de o destinatário realizar o exame.

Contudo, poucos homens, assegura Harrison-Quintana, vão baixar aplicativos de saúde que os faça sentir vergonha por não terem feito um exame. "Tentamos fazer parecer convidativo", diz ele, e optou por um tom amistoso, uma cor suave, em vez da cruz vermelha, que faz as pessoas pensarem na saúde.

Halkitis prevê que aplicativos semelhantes como Scruff ou Hornet logo vão imitar o Grindr. De acordo com ele, mensagens podem ser especialmente eficazes caso apareçam em aplicativos interessantes para homens negros como Jack'd ou Adam4Adam. Para Harrison-Quintana, o Grindr veria com bons olhos a imitação e não pensaria em impedir a atitude.

O Grindr também encoraja o uso do PrEP, comprimido diário que protege contra o vírus. Desde 2016, o aplicativo envia aos usuários duas mensagens semanais solicitando que considerem o remédio, informando onde a receita pode ser obtida.

Para ajudar homens gays no Sul e em áreas rurais dos Estados Unidos, onde é mais difícil encontrar pontos de exame, o Grindr está trabalhando com o CenterLink, que representa mais de 200 centros comunitários gays do país, muitos em áreas distantes.

Adrian Shanker, fundador do centro comunitário LGBT Bradbury-Sullivan em Allentown, Pensilvânia, diz que o Grindr testou seu serviço no ano passado em sua área de Lehigh Valley, que é semirrural e enfrenta depressão econômica.

O centro de Shanker envia mensagens com a imagem de um médico perguntando a um homem: "Você fez sexo com quantas pessoas?" A mensagem promete um exame gratuito e "sem julgamentos".

Dos homens que vieram fazer o exame, 28% o faziam pela primeira vez, e 46% não o repetiam há mais de um ano. "São números muito elevados em uma população difícil de alcançar. Eu atribuo o resultado ao Grindr."

Segundo ele, 7% disseram ter vindo especialmente por causa da mensagem do Grindr. Contudo, ele suspeita que o número real seja mais elevado, porque nem todo homem quer admitir que usa aplicativos de sexo.

Harrison-Quintana diz que o Grindr enviará lembretes a usuários do mundo inteiro, mas que vai demorar para criar um banco de dados de laboratórios de exame. Por exemplo, por causa da homofobia na Rússia, Egito, Sudão e Indonésia, ele não indica nenhum local nesses países.

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