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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


Por que idosos devem (mais que todos) beber água

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Imagem: iStock

Chloé Pinheiro

Colaboração para o VivaBem

12/03/2018 04h00

De uma hora pra outra, Nirce Pinnaffi Kuvasney, na época com 78 anos, começou a ter lapsos de memória. “Nós falávamos e ela não fixava as coisas, precisávamos repetir”, conta a filha, Solange Kuvasney Marcolin, 61, coordenadora pedagógica de uma escola.

A família de São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo, já tinha um exemplo de doença neurodegenerativa em casa, o marido de Nirce, Estefano, já falecido, portador de Alzheimer. Mas, no caso dela, bastou caprichar na hidratação durante o dia para que a mente voltasse a funcionar numa boa. “O médico avisou que eles precisavam tomar água e era nítido que, quando minha mãe fazia isso, voltava ao normal gradativamente”, conta Solange.

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Hoje com 82 anos, Nirce vai para a cama com uma garrafinha ao lado e está mais atenta às goladas que dá. “Meu marido chegou a ser internado de tão desidratado, nós tínhamos que brigar com ele para que tomasse mais água, o que piorou a doença dele. Então, hoje procuro beber sempre que lembro”, conta Nirce.

Idosos sentem menos sede

O exemplo dela é apenas um de uma situação bem comum na terceira idade e que pode provocar confusão mental: a desidratação, que acontece nessa faixa etária causa, principalmente, por dois motivos. Primeiro, porque o idoso tem menos água no organismo que um adulto. “Logo, ele não só se desidrata com mais facilidade como sofre mais com os efeitos do quadro”, aponta Paulo Camiz, geriatra e professor da USP (Universidade de São Paulo).

Depois, o mecanismo que avisa que é hora de ingerir líquidos não funciona tão bem nessa fase da vida. “A pessoa esquece de tomar água não porque tem a memória ruim, mas porque não sente sede”, explica Fábio Porto, neurologista do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

Por que a confusão mental acontece?

Para manter o nível de líquidos equilibrados no corpo, o organismo usa um mecanismo chamado homeostase. "Se você bebe muita água, faz mais xixi, por exemplo e se precisa de líquidos, sente sede", explica Porto. Quem controla esses processos são células no cérebro, especialmente na região do hipotálamo, que avaliam a concentração de sais no sangue. No idoso, a homeostase ainda funciona, mas não tão bem. "Ele tem que estar já desidratado para sentir sede."

É uma via de mão dupla. O cérebro já não avisa mais que é hora de se hidratar e essa falta faz efeito justamente no órgão. É que a cabeça é um dos primeiros lugares a sentir a falta da água e, como o idoso tem menos líquidos disponíveis no organismo, ele pode apresentar sintomas como confusão mental, falta de memória e por aí vai.

Quanto tomar por dia

Idoso bebendo água - iStock - iStock
Imagem: iStock
Para idosos saudáveis, a recomendação é de 30 ml por quilo de peso corporal. Ou seja, em uma pessoa de 70 quilos, pouco mais de 2 litros ao dia são o suficiente. Mas a quantidade ideal varia muito, por isso deve ser avaliada individualmente, especialmente na terceira idade, quando tantas variantes entram em jogo.

Por exemplo, quem toma medicações para pressão alta e outras com ação diurética precisa caprichar na hidratação, pois elas fazem o corpo eliminar mais líquidos. O mesmo ocorre com moradores de regiões quentes e praticantes de atividade física.

Por outro lado, portadores de problemas nos rins devem maneirar na hidratação, daí o segredo é dividir as goladas. É o caso de Aparecida Castilho, 78, aposentada de Poços de Caldas (MG). “Eu me sentia às vezes deprimida, sem vontade de fazer nada, como se estivesse com hipoglicemia, até que notei que melhorava ao tomar água”, conta.

Como é portadora de uma doença renal, ela não pode tomar líquidos demais. “Então agora tomo pouca quantidade muitas vezes ao dia, mesmo que não sinta vontade”, finaliza.

Sintomas da secura

Sabe quando levantamos rápido em um dia quente e vem aquela sensação de fraqueza, tontura? Esse é um dos sinais mais leves de que os níveis de água estão baixando no corpo. Depois, os órgãos começam a ser afetados. “Cérebro e rins são os primeiros a sofrerem com o quadro”, conta Camiz.

Por isso, o xixi amarelo mais escuro é um indício de que é preciso correr para o bebedouro, assim como a confusão mental. Além da indisposição e desânimo descritos por Aparecida, podem ocorrer lapsos e outros problemas cognitivos, como dificuldade de raciocínio e de equilíbrio. “Não é como se a pessoa perdesse progressivamente a memória, é súbito, então a pessoa pode até achar que está tendo um derrame”, comenta Porto.

Na dúvida, converse com seu médico e, principalmente, não espere a sede chegar. Até mesmo porque, quando ela aparece na terceira idade significa que o organismo já está desidratado. “É um quadro sério que, se não tratado, pode levar ao coma e, casos mais extremos, até à morte”, alerta Camiz.  

Colaborou: Mariana Vela Reis, nutricionista do Programa de Internação Domiciliar/ Melhor em Casa da Prefeitura Municipal de Santo André (SP).