Boatos prejudicam a cobertura da vacina do HPV no Brasil, diz pesquisadora
A Austrália pode ser o primeiro país a erradicar o câncer do colo do útero. A boa notícia foi anunciada pela Sociedade Internacional de Papilomavírus. E o que fez com que o país reduzisse o número de casos? Foi a vacinação contra o HPV.
O país ofertou a vacina gratuitamente a partir de 2007 para meninas de 12 e 13 anos. Com o passar do tempo, eles ampliaram para os meninos, além de mulheres de até 26 anos. O resultado disso foi que a taxa de HPV entre mulheres de 18 a 24 anos caiu de 22,7% para 1,1%.
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“A Austrália conseguiu vacinar mais de 80% das meninas e mulheres e dos meninos. E isso fez com que reduzisse em 90% todas as infecções pelos quatro tipos de vírus presentes na vacina, 90% da redução de verrugas genitais e 70% da redução de lesões precursoras do câncer de colo de útero”, destaca Luisa Villa, pesquisadora científica do ICESP, professora da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do Instituto do HPV.
Villa deixa claro que é possível que todos os países alcancem o mesmo feito que a Austrália. Mas isso só será possível com a ampla adesão à vacina, como aconteceu lá. E, para isso, é preciso conscientizar não só a população, mas também a classe médica. Vale ressaltar que a vacina é oferecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para meninas de 9 a 14 anos e para meninos de 11 a 14.
Mitos criaram desconfiança em torno da vacina
Villa relembra que o início da vacinação no Brasil começou com altas taxas de cobertura (de mais de 90%). No entanto, foram reduzidas para 40% depois do caso das meninas de Bertioga que tomaram a vacina e teriam ficado com dificuldade para andar.
“Esse fenômeno foi estudado para identificar se isso aconteceu por conta da vacina, se foi algum lote ou até erro na hora de dar a injeção. Tudo foi analisado e três dias depois concluíram que o caso não tinha nada a ver com a vacina. Foi uma condição passageira e psicológica”, explica.
Mas o boato já tinha se alastrado e a vacina recebeu o rótulo de “não segura”, o que fez com que os pais não vacinassem os filhos. “Existe uma documentação clara da OMS (Organização Mundial de Saúde) atestando sobre a segurança da vacina. O que aconteceu foi uma sugestão coletiva que é muito mais presente nas meninas do que nos meninos”, explica.
Pais não recebem orientação médica
Além do medo de a vacina não ser segura, os pais também não recebem a orientação de vacinar seus filhos. “Muitos médicos falam para esperar a menina chegar aos 15/16 anos e isso não é o indicado”, explica Villa.
Primeiro, porque o melhor é imunizar quem ainda não iniciou a vida sexual e nem foi exposto ao vírus. “Com 15/16 anos ela pode não ter feito sexo com penetração, mas sexo oral. E o HPV pode ser transmitido dessa maneira”, destaca.
Sem contar que quanto mais jovem, melhor é o sistema imunológico para produzir anticorpos. “A vacina é muito mais imunogênica, ou seja, dispara mais anticorpos nas crianças e adolescentes do que nos adultos. Isso é um fenômeno do nosso sistema imune. Quanto mais jovem, mais potente ela é”, fala.
Villa explica que é por isso que a nossa resposta imunológica é maior na infância e uma série de vacinas são recomendadas nessa fase da vida. No caso do HPV, a professora deixa claro que não existem estudos que atestem que a vacina seja ministrada em crianças de quatro ou cinco anos, por exemplo. “Não se sabe se vacinar tão cedo influencia na eficácia da imunização. Por isso, ficamos com o que é comprovado, que é a faixa etária disponibilizada hoje no Brasil.”
Importância da imunização
Para Villa, é importante que as campanhas de vacinação sejam divulgadas, já que só com a taxa de cobertura mais elevada é possível diminuir o número de infecções pelo HPV e quem sabe chegar a taxas como a da Austrália.
“Uma manchete como essa (da Austrália) é ótima para mostrar os resultados tão positivos da vacinação. E eu tenho certeza que isso vai estimular mais pessoas a buscarem os postos de saúde para se imunizar”, afirma.
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