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Negligência com a osteoporose está prejudicando idosos nos EUA

Paul Rogers/The New York Times
Imagem: Paul Rogers/The New York Times

Jane E. Brody

Do New York Times

20/02/2018 15h43

Uma "tempestade perfeita" ameaça comprometer o progresso feito na proteção da saúde dos ossos da população. À medida que o contingente de pessoas com mais de 50 anos aumenta, um número menor de adultos com risco avançado de perda óssea e fraturas está se submetendo a testes de densidade óssea, o que resulta em uma diminuição nos diagnósticos e no tratamento da osteoporose, mesmo para quem já teve alguma fratura.

Se não houver uma reversão rápida nessa tendência, dando mais educação para as pessoas com osteoporose e para seus médicos, os resultados podem ser devastadores e vão gerar uma epidemia de ossos quebrados, visitas aos consultórios médicos, admissões a hospitais e casas de saúde e até mesmo mortes prematuras. Hoje, várias pessoas com risco de fraturas e, frequentemente, seus médicos não conseguem avaliar de maneira adequada os benefícios de se tratar ossos frágeis contra os perigos raros, mas amplamente divulgados, dos medicamentos que os preservam, segundo os especialistas.

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Uma consequência séria parece já ter acontecido: a estabilização e possível reversão nos números de uma década e meia de declínio nas fraturas de quadril entre mulheres na menopausa, segundo um estudo de todas as pessoas do sexo feminino que estão no Medicare [sistema de saúde dos Estados Unidos destinado a pessoas de idade igual ou maior que 65 anos] e foram hospitalizadas com fratura de quadril devido à osteoporose entre 2001 e 2015.

Os dados revelaram um declínio constante de fraturas de quadril entre mulheres de 65 anos ou mais, no Medicare, de 931 a cada 100 mil em 2002 para 730 a cada 100 mil em 2015. Mas, a partir de 2012, a taxa, ajustada para idade, de repente se estabilizou. Se o declínio tivesse continuado, estima-se que 11.464 mulheres a menos teriam quebrado o quadril entre 2012 e 2015, relataram os pesquisadores no periódico Osteoporosis International em dezembro.

"Cerca de 80% dos pacientes com fratura no quadril nunca são tratados, embora quase todos tenham osteoporose e corram o risco de sofrer outra fratura no mesmo local", disse em uma entrevista E. Michael Lewiecki, diretor do Centro de Pesquisa Clínica e Osteoporose Novo México e principal autor do estudo.

Apesar de os remédios que fortalecem os ossos terem mostrado que são capazes de reduzir os riscos de uma segunda fratura de quadril, um estudo com 22.598 pacientes descobriu que o uso de drogas diminuiu de "um número já pequeno de 15% em 2004 para um mínimo de 3% no último trimestre de 2013", escreveu em 2016 Sundeep Khosla, especialista em ossos da Clínica Mayo, no periódico Journal of Bone and Mineral Research. Ele comparou a situação a não tratar pacientes com pressão alta ou colesterol elevado depois de um ataque do coração. Chamando de "uma crise no tratamento de osteoporose", Khosla disse: "Apesar do desenvolvimento de vários medicamentos efetivos para prevenir fraturas, muitos pacientes, mesmo aqueles que precisam de tratamento com certeza, não estão recebendo prescrição de remédios contra a osteoporose ou, quando recebem, recusam-se a usá-los".

O problema não é trivial, tanto para os pacientes quanto para a sociedade. Considerando apenas as fraturas de quadril, dependendo de como são tratadas, a média de custos médicos diretos para um período de seis meses vai de US$ 34.509 a US$ 54.054, a maior parte pago pelo Medicare, segundo escreveram os autores do estudo. A cada ano, mais de 300 mil pessoas acima de 65 anos, três quartos delas mulheres, são hospitalizadas por causa de fraturas no quadril.

Os custos pessoais são ainda maiores. Cerca de 20% a 30% dos pacientes morrem durante o período de um ano depois de fraturarem o quadril, segundo os pesquisadores. "Daqueles que sobrevivem, vários não conseguem atingir o nível de independência de antes da fratura. Cerca de 50% dos pacientes com fraturas no quadril nunca poderão andar sem assistência, e 25% precisarão de cuidados em longo prazo", escreveram os estudiosos.

osteoporose - iStock - iStock
Com a osteoporose, os ossos se tornam frágeis e quebradiços
Imagem: iStock

O número de fraturas de quadril também diminui

Vários fatores podem ter contribuído para a tendência de diminuição no número das fraturas de quadril que acabou em 2012, segundo Ethel Siris, coautora do novo estudo e diretora do Centro de Osteoporose Toni Stabile do Centro Médico da Universidade Columbia, em Nova York.

"A população pode estar ficando mais saudável, as pessoas estão se exercitando mais e talvez tomem mais cuidado com quedas", sugeriu ela em uma entrevista.

Um fator mais provável, no entanto, segundo Siris e outros coautores, foi o lançamento, em 1995, do medicamento Fosamax, um bisfosfonato que diminui a velocidade ou previne a perda de densidade óssea, resultando em ossos mais fortes.

O Fosamax agora está disponível com o nome genérico de alendronato e, após seu lançamento, surgiram vários outros remédios capazes de promover ossos mais fortes. No entanto, afirma Siris, "Há claramente uma lacuna no tratamento. As prescrições diminuíram, e mesmo quando oferecemos medicamentos às pessoas que correm riscos, elas se recusam a tomá-los".

Milhões de pacientes que poderiam se beneficiar dos medicamentos que preservam os ossos agora têm medo de usá-los. O temor provavelmente surgiu depois de campanhas de marketing agressivas e por causa de médicos que prescreveram os bisfosfonatos para todos os pacientes nos estágios iniciais de perda óssea, uma condição chamada de osteopenia, com o tratamento continuando por anos, muito além do que hoje é considerado apropriado. Então, no começo dos anos 2000, algumas notícias surgiram ligando o uso extensivo de bisfosfonatos com dois problemas ósseos incomuns: uma fratura de fêmur bastante rara e uma condição ainda mais rara chamada osteonecrose da mandíbula. O medo de sofrer essas complicações resultou em mais de 50% de declínio no uso de bisfosfonatos entre 2008 a 2012, afirma Khosla.

Ao mesmo tempo, o reembolso do Medicare para testes de densidade óssea foi fortemente reduzido, e os médicos que os faziam em consultórios privados passaram a não poder mais pagar por eles, o que limitou o acesso do paciente, o diagnóstico e o tratamento da perda óssea séria, apesar das importantes melhorias nas diretrizes dos tratamentos.

Nas mais de duas décadas desde que os bisfosfonatos foram lançados, "aprendemos muito sobre como tratar e quem tratar", afirma Khosla. A osteopenia não é mais uma condição que garante o uso de medicamentos a não ser que outros fatores indiquem que o paciente tem um risco significativamente aumentado de quebrar um osso importante.

Os pacientes devem ser tratados se suas medidas de densidade óssea indicarem osteoporose no quadril, na coluna e no antebraço, dizem os especialistas. Mas mesmo se os testes indicarem apenas osteopenia, diz Siris, "os pacientes devem ser considerados como tendo osteoporose se já sofreram uma fratura não traumática no quadril, na coluna, no ombro ou na pélvis e algumas vezes no pulso ou se têm uma pontuação alta o suficiente no FRAX", uma calculadora online que estima o risco de quebrar o quadril ou outro osso importante nos próximos dez anos.

Ela dá um conselho em três partes: "Tomar remédios quando for apropriado, ingerir a quantidade certa de cálcio e vitamina D e não cair".

"O tratamento deveria ser individualizado. Cada paciente é diferente, com diversos históricos familiares, fatores de risco, velocidade da perda óssea e preocupações pessoais. Se o foco é o paciente com maior risco de fratura, a evidência é clara de que os benefícios dos remédios ultrapassam muito os riscos", afirma Khosla.

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