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Compulsão alimentar durante a noite? Pode ser culpa dos hormônios

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Roni Caryn Rabin

Do New York Times

14/02/2018 10h27

A maioria das pessoas que faz dieta sabe: seguir à risca um regime para perder peso fica mais difícil com o passar dos dias. Mas, para aqueles que cedem à gula e assaltam a geladeira durante a noite e culpam a falta de força de vontade, um novo estudo sugere que o problema pode ser um complexo conjunto de hormônios que controlam a fome e os sinais de saciedade.

O pequeno estudo foi feito com 32 homens e mulheres obesos, metade dos quais habituados à compulsão alimentar, e sugere que os hormônios da saciedade podem estar baixos durante a noite, ao mesmo tempo em que os hormônios da fome aumentam, podendo subir ainda mais em situações de estresse. Os cientistas descobriram que, durante a noite, os que sofrem de compulsão alimentar podem estar particularmente suscetíveis às flutuações desses hormônios reguladores de apetite.

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“Há mais oportunidades de comer no começo da noite, mas o estudo mostra que as respostas hormonais estão programando as pessoas para comer mais tarde”, disse Susan Carnell, professora assistente de Psiquiatria e Ciências Comportamentais na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, e principal autora do estudo junto com Charlotte Grillot, da Universidade do Estado da Flórida, nos EUA. Não está claro se esses padrões precedem e causam a compulsão alimentar ou se são condicionados pelos hábitos alimentares do indivíduo, disse Carnell. Mas, de qualquer forma, “você pode ficar preso nesse ciclo”.

O estudo é um lembrete importante da miríade de fatores que contribuem para o ganho de peso, e que culpar e humilhar as pessoas por causa disso é inapropriado, disse Kelly Costello Allison, diretora do Centro de Peso e Distúrbios Alimentares da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, que não participou da pesquisa.

“Há muito preconceito e julgamento em relação às pessoas que estão acima do peso, dizendo que a culpa é delas, ou que são preguiçosas, ou que não têm força de vontade suficiente. No fim, as compulsões se dão por motivos diferentes, e alguns deles realmente dependem desses marcadores biológicos”, disse Allison.

As novas descobertas foram publicadas no International Journal of Obesity em dezembro. São feitas referências a trabalhos anteriores, incluindo um estudo de 2013 de Harvard com pessoas com peso normal, que descobriu que o ritmo cicardiano tem um papel na regulação do apetite, e que os picos de fome ocorrem a noite e, paradoxalmente, o apetite pela manhã é o mais baixo, apesar do jejum noturno.

A pesquisa ajudou a explicar por que tanta gente pula o café da manhã, apesar das evidências mostrarem que consumir a maioria das calorias no início do dia é o ideal para controlar o peso e manter o metabolismo saudável.

“A fome noturna pode ter sido uma adaptação evolutiva que nos ajudou a passar a noite. Por milhões de anos, não tínhamos acesso à comida nesse período, e talvez não conseguiríamos nos alimentar assim que acordássemos de manhã”, disse o Dr. Satchidananda Panda, professor de Estudos Biológicos do Instituto Salk, em San Diego. Na era moderna, com o fácil acesso à comida a qualquer momento do dia ou da noite, esse traço de evolução pode estar retrocedendo, levando à perda do controle e à fome noturna.

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O estresse aumentou a fome em todos os participantes, mas a grelina aumentou ainda mais nas pessoas que foram sujeitas ao estresse durante à noite
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Toque de recolher pode ajudar quem tem o problema

Para esse estudo, foi pedido aos participantes que ficassem em jejum por oito horas antes de consumir uma refeição líquida de 600 calorias.

Duas horas depois, eles foram submetidos a uma situação estressante, na qual tinham que submergir a mão não dominante em água gelada por dois minutos, enquanto pensavam que estavam sendo filmados (não estavam). Meia hora depois, era oferecido um bufê de pizza, petiscos e doces.

Para medir o impacto que a hora do dia pode ter no apetite e nos hormônios que o regulam, os pesquisadores colocaram os participantes na dieta duas vezes, uma começando às nove da manhã e outra começando às quatro da tarde. Coletaram sangue para medir os níveis de hormônios e também pediram que dessem uma nota para a própria fome e saciedade usando uma escala numérica.

Todos os participantes disseram ter mais fome quando começaram a dieta à noite em comparação com a manhã. Da mesma forma, se consumissem uma refeição líquida à noite, os níveis de um hormônio chamado grelina, que deixa as pessoas com mais fome, estava mais alto, e os níveis do hormônio peptídeo YY, que dá sensação de saciedade, estavam mais baixo.

Pessoas que comem compulsivamente apresentaram níveis mais altos de grelina quando começavam a dieta à noite em comparação com o início pela manhã, enquanto os que não tem a compulsão apresentaram taxas opostas. Os comedores compulsivos também relataram sentir menos saciedade após a refeição líquida e a exposição ao estresse no período da noite.

O estresse aumentou a fome em todos os participantes, mas a grelina, o hormônio da fome, aumentou ainda mais nas pessoas que foram sujeitas ao estresse durante à noite. (Não houve grupo que não foi sujeito ao estresse para comparação.)

“Sabemos definitivamente que esse padrão das respostas hormonais aumenta o risco de comer demais à noite, e o contrário pela manhã. Isso implica que as pessoas no nosso estudo estavam mais vulneráveis para comer demais a noite”, disse Carnell. Ela sugere que aqueles que sabem que têm essa tendência façam um tipo de “toque de recolher alimentar”, definindo um horário no qual param de comer todos os dias.

Allison concordou. “Defina um horário de fechamento da cozinha. Apague a luz, afaste-se, escove os dentes e se ainda quiser qualquer coisa depois disso, tome água.”

“À noite, em particular, você está cansado, teve demandas cognitivas durante o dia, e não quer se controlar tanto, e se você tem desejo de comida, há menos distrações para ajudá-lo a resistir a esses desejos”, disse ela.

Allison e outros especialistas chamam atenção para o fato de que os níveis de hormônios respondem a padrões de alimentação e podem potencialmente ser recondicionados se as pessoas mudarem seus hábitos alimentares. Mas mesmo que seja verdade, “elas enfrentam um obstáculo ainda maior, porque têm que mudar seus hábitos alimentares primeiro e esperar que os hormônios do apetite acompanhem”, disse Courtney Peterson, professora assistente no departamento de Ciências da Nutrição na Universidade do Alabama, em Birmingham.

Allison disse: “Não é que não haja esperança para quem tem esses problemas. O estudo apenas mostra que existem diferentes pontos de partida para cada um. Alguns têm mais desafios em termos de regular a quantidade de comida por causa dessas razões biológicas”.

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