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Vipassana: como é a meditação em que as pessoas ficam dez dias sem falar

Rodrigo Rocha Ribeiro de Souza, 51, fez o retiro pela primeira vez em 1999. Hoje consegue meditar duas horas por dia - Arquivo Pessoal
Rodrigo Rocha Ribeiro de Souza, 51, fez o retiro pela primeira vez em 1999. Hoje consegue meditar duas horas por dia Imagem: Arquivo Pessoal

Lucas Gabriel Marins

Colaboração para o VivaBem

18/01/2018 04h15

Imagine meditar por dez dias seguidos, 12 horas por dia, sem poder conversar com ninguém, folhear páginas de um livro, ver televisão ou até mesmo mexer no celular. Essa é a proposta da Vipassana, um dos estilos de meditação mais antigos da Índia e que deu origem a outras técnicas populares no Ocidente, como o mindfulness.

O empresário Rodrigo Rocha Ribeiro de Souza, 51, fez a imersão pela primeira vez em 1999 --desde então, ele já esteve em mais de 20 cursos e conta que, com Vipassana, aprendeu a lidar melhor com as situações. “Hoje consigo viver no presente e não me preocupo tanto com o futuro." A prática vai além dos encontros e já parte do dia a dia do empresário, que medita pelo menos duas horas por dia e também organiza retiros em Curitiba, onde mora.

Já pensou ficar dez dias apenas meditando e sem falar com ninguém? - iStock - iStock
Já imaginou como seria ficar dez dias apenas meditando e sem falar com ninguém?
Imagem: iStock
Outro adepto é o escritor Yuval Harari, autor do best-seller "Sapiens: Uma Breve História da Humanidade". Todo ano, o autor faz um retiro de 60 dias. Ao site americano Vox, ele disse: "Quando você treina a mente para se concentrar em algo como a respiração, isso lhe dá a disciplina para se concentrar no que realmenre importa, conseguindo diferenciar o que é ficção criada pela mente e realidade. Foi essa contribuição que a meditação deu para minha carreira científica”.

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Como funciona a imersão?

Os retiros têm um cronograma rígido. Normalmente, são quase 12 horas de meditação por dia, intercaladas por intervalos para descanso e alimentação (vegetariana). Nas vivências, o participante deve se levantar às 4h e ir para a cama às 21h30.

Nos primeiros três dias, as pessoas praticam Anapana, que consiste em focalizar na respiração, o que acalma a mente e a deixa mais concentrada. A partir do quarto dia, inicia a técnica Vipassana, baseada na atenção às sensações do corpo, do topo da cabeça até os dedinhos do pé.

Ao iniciar a prática, a pessoa também se compromete a seguir um código de disciplina (não matar, roubar, fazer sexo, mentir ou ingerir drogas). Antes do início do curso, os pretendentes devem responder a um questionário. Pessoas fisicamente debilitadas para cumprir o cronograma ou que sofram de problemas mentais e transtornos emocionais não podem participar.

Se libertando dos padrões mentais

Inúmeras pesquisas apontam os benefícios da meditação para a saúde, a exemplo da redução do nível do estresse, combate à depressão, melhora do sistema cardiovascular e redução da insônia. Para a professora de Vipassana Macarena Infante Reñasco, mais do que qualquer coisa, a principal contribuição da prática milenar é o treinamento do cérebro.

"Se algo muito bom ou ruim acontece, geralmente reagimos sem pensar. Com isso, criamos um hábito e a mente faz você agir da mesma forma quando acontece novamente. Com Vipassana, você muda esse processo que causa sofrimento e cria um novo padrão, além de ter maior controle mental", conta.

Para o professor de psicologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Augusto Serbena, esse processo de observação das reações promove o desenvolvimento de uma consciência maior. “A medida que a pessoa percebe os padrões mentais, passa a conhecer melhor a si mesma e a identificar que é muito mais do que sentimentos e emoções”, diz.

Na neurociência, essa mudança de padrões chama neuroplasticidade. De acordo com Richard Davidson, neurocientista e fundador do Center for Investigating Healthy Minds (Centro para Investigação de Mentes Saudáveis, em tradução para o português), a prática acelera esse processo. "Nossos cérebros são constantemente mudados pelas forças ao nosso redor, mas nossas pesquisas sugerem que os meditadores conseguem fazer isso por conta própria", disse à revista Newsweek.

A meditação Vipassana, de acordo com pesquisadores do tema, existe há mais de 2.500 anos. Atualmente, o retiro de dez dias pode ser feito em cerca de 200 centros espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil.

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