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"Método para tratar dor crônica fez me sentir caminhando em nuvens"

Paul Rogers/The New York Times
Imagem: Paul Rogers/The New York Times

Jane E. Brody

DO NYT, em Nova York

02/11/2017 10h57

Após sessões de duas horas concentradas primeiro em consciência corporal e, depois, em retreinar movimentos no Instituto Feldenkrais, em Nova York, compreendi o que significava experimentar a incrível leveza do ser. Depois de liberar --ainda que temporariamente-- a tensão muscular que agrava a minha dor nas costas e no quadril, eu me senti caminhando em nuvens.

Há muito tempo evito escrever acerca desse método de debelar a dor, porque achava que fosse algum tipo de papo furado sem base científica. Como eu estava errada!

O método Feldenkrais é uma entre as várias técnicas de movimento cada vez mais populares, semelhante à técnica Alexander, que tentam integrar melhor as conexões entre corpo e mente. Ao se tornar consciente de como o organismo interage com seus arredores e ao aprender como se comportar de um jeito menos estressante, é possível abandonar padrões habituais de movimento que causam ou contribuem para a dor crônica.

O método foi desenvolvido por Moshe Feldenkrais, médico israelense, engenheiro mecânico e especialista em artes marciais, depois que uma lesão no joelho ameaçou deixá-lo incapacitado de andar. Valendo-se de seus conhecimentos da gravidade e da mecânica do movimento, ele desenvolveu exercícios que ajudam a ensinar ao corpo formas mais fáceis e eficazes de se movimentar.

Procurei o instituto a pedido de Cathryn Jakobson Ramin, autora do recém-publicado livro "Crooked" (torto, em tradução livre para o português), que detalha a natureza e os resultados de praticamente todas as abordagens atuais para tratar a dor nas costas, problema que me aflige mais ou menos (recentemente tem sido mais) há décadas. Como ela mesma se beneficiou com o método, Ramin tinha bons motivos para crer que ele poderia me ajudar.

No livro, ela conta a experiência de Courtney King, que começou a sentir espasmos paralisantes nas costas por volta dos 30 anos. King fazia aulas de dança uma vez por semana e praticava ioga, por isso acreditava que o estresse dessas atividades pudesse estar causando a dor. Contudo, após várias sessões de Feldenkrais, ela disse a Ramin: "Vi que a dor tinha mais a ver com a forma como eu me movimentava todos os dias."

Com apenas uma sessão, entendi o que ela quis dizer. Quando decido caminhar ereta e fluidamente, sentar reta, cozinhar relaxada e sem pressa, não sinto dor. Os movimentos repetitivos, lentos e suaves que pratiquei durante uma aula em grupo de Feldenkrais ajudaram a fomentar a consciência de como uso meu corpo em relação ao meu ambiente, e consciência é a primeira etapa para mudar o comportamento de uma pessoa.

Um problema comum pelo qual costumo ser culpada é utilizar músculos pequenos para realizar atividades destinadas àqueles responsáveis por tarefas pesadas, resultando em dor e fadiga indevidas.

A aula em grupo, chamada consciência através do movimento, foi acompanhada por uma sessão individual de integração funcional com um terapeuta que me ajudou a libertar músculos e articulações rígidas que limitavam meus movimentos, aumentando o desconforto. Ao usar a manipulação suave e movimentos passivos, o terapeuta individualizou sua abordagem às minhas necessidades particulares.

Método ajuda a reprogramar o cérebro

O objetivo final das duas sessões é retreinar o cérebro --estabelecer novos percursos neurais que resultem em movimentos simples, fáceis, efetivos fisiologicamente e confortáveis. Embora o método Feldenkrais tenha sido desenvolvido em meados do século XX, desde então neurofisiologistas demonstraram a plasticidade do cérebro, sua capacidade de formar novas células, de se reorganizar e, na verdade, aprender jeitos novos de fazer as coisas.

A beleza das aulas de Feldenkrais é que elas são relativamente baratas (aulas em grupo variam de US$ 15 a US$ 25, as sessões individuais ficam entre US$ 100 e US$ 200), sendo potencialmente acessíveis para praticamente todos. Existem mais de sete mil professores e instrutores em 18 países, incluindo um grande número de profissionais nos Estados Unidos. Não existem limitações de idade, força, nível de condicionamento físico e estado de bem-estar para participar. Os exercícios são lentos, suaves e ajustáveis a qualquer coisa que o aflija. Seus efeitos calmantes combatem o estresse resultante de músculos contraídos, rigidez e dor.

Instrutores de Feldenkrais como Marek Wyszynski, diretor do centro nova-iorquino, geralmente começam a vida profissional como fisioterapeutas. Depois fazem três anos de estudos para receberem o diploma do método.

Wyszynski diz que começa observando como o paciente se senta, fica em pé e caminha de uma forma que podem causar ou colaborar para sua patologia, quer seja uma hérnia de disco, artrite, dor no ombro ou articulações desgastadas. Segundo a observação astuta de Feldenkrais, "se você não sabe o que está fazendo, não pode fazer o que deseja", os pacientes recebem uma experiência sensorial nítida de como sua postura e comportamento contribuem para sua dor e limitações físicas.

Por exemplo, algumas pessoas podem usar força excessiva, ranger os dentes, segurar o fôlego ou se apressar, provocando tensão muscular indevida e estresse ósseo. Anos atrás, percebi que minhas dores de cabeça frequentes resultavam do hábito inconsciente de apertar a mandíbula quando me concentrava intensamente em tarefas como costurar ou cozinhar. Os instrutores de Feldenkrais não dão fórmulas de comportamento adequado; em vez disso, eles se valem da capacidade do paciente de se autodescobrir ou autocorrigir.

Quando estão cientes dos hábitos contraproducentes, os alunos têm a oportunidade de experimentar movimentos, posturas e comportamentos alternativos e, por meio da prática, criar novos hábitos com menor probabilidade de causar dor.

Wyszynski me disse que existem mais de mil aulas de Feldenkrais disponíveis, a maioria envolvendo ações cotidianas como se esticar, levantar de uma cadeira, se virar, se curvar e caminhar.

Como engenheiro mecânico e médico, Feldenkrais sabia que a função do esqueleto humano era acomodar os efeitos da gravidade para permanecer ereto. E ele queria que as pessoas chegassem a isso da forma mais eficaz possível.

Usando dois cilindros altos de espuma, um sobre o outro, Wyszynski demonstrou um princípio norteador do método Feldenkrais. Quando o cilindro superior estava centrado sobre o inferior, ele ficava no lugar sem ajuda. Porém, quando não estava, ficando alinhado na borda do cilindro inferior, ele caía. Se, em vez de cilindros, fossem partes do esqueleto humano formadas por músculos enrijecidos e tortos, eles teriam de impedir a queda do paciente.

Nas palavras de Wyszynski: "A boa postura permite que o esqueleto contenha e apoie o corpo sem gastar energia desnecessária apesar da força da gravidade. Entretanto, com a postura ruim, os músculos desempenham uma parte do trabalho dos ossos e, com pouco suporte do esqueleto, eles precisam permanecer contraídos para impedir a queda do corpo".