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Em SP, Schwarzenegger assiste apresentação de pole dance de brasileira cega

deficiente visual faz apresentação de pole dance na feira de nutrição ?Arnold Classic South América?, em SP - Debora Mesquita/Divulgação - Debora Mesquita/Divulgação
Jessica durante sua apresentação
Imagem: Debora Mesquita/Divulgação

Angélica Banhara

Colaboração para o UOL

22/04/2017 16h20

Este sábado (22) foi um dia mais do que especial para a estudante Jessica Pereira, 26, de Limeira (SP). Ela fez uma apresentação de pole dance (aquela dança na barra vertical), no Arnold Classic South America, feira multiesportiva que acontece em São Paulo até domingo (23), e teve como espectador ninguém menos do que o astro Arnold Schwarzenegger, o idealizador do evento mundial. Detalhe: Jessica é cega.

"Já estava ansiosa antes por conta da apresentação em um evento tão grande. Quando soube que Schwarzenegger veio para me ver, quase desmaiei", falou. "Achava que, se desse sorte, teria de correr atrás dele para tirar uma foto. Nunca imaginei que ele ainda subiria no palco para me abraçar", disse, emocionada.

Jessica nasceu cega, filha do meio de uma família de mais quatro irmãos que enxergam. "Meus pais me apoiaram e sempre fiz algum tipo de atividade física. Comecei com atletismo e corrida. Corri durante dez anos. Fiquei sabendo sobre o pole dance por uma matéria com a professora Amanda Zabin, em um jornal, e quis conhecer a modalidade. Então procurei a Amanda", contou Jessica. Isso foi dois anos atrás.

Método próprio

A professora nunca tinha trabalhado com deficientes visuais. "Procurei na internet sobre alguma metodologia para ensinar pole para pessoas com esse tipo de deficiência, mas, como não encontrei nada, resolvi desenvolver minha própria metodologia ", contou a instrutora.

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Imagem: Debora Mesquita/Divulgação
"A Amanda faz o movimento, eu coloco a mão para sentir o que ela está fazendo. Ela me explica, eu faço e ela me corrige", falou Jessica. "Quando a Jessica me toca, explico que é o braço direito, a perna esquerda. Ela entende tudo muito bem ", disse a professora.

Amanda já tinha trabalhado na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e se sente realizada ensinando deficientes: gostaria inclusive de ampliar sua atuação com esse foco.

Falta de solidariedade

E o que levou Jessica a praticar o pole? Simples assim: "Nunca tinha imaginado que existisse uma barra em que as pessoas pudessem se pendurar e virar de ponta-cabeça. E sempre gostei de experimentar coisas diferentes."

Apesar das dificuldades encontradas para cursar uma escola regular, Jessica terminou o ensino médio e agora faz curso técnico de nutrição.

"Infelizmente não consegui arrumar um emprego ainda, mas detesto ficar parada, então, vou estudar e praticar esportes." Hoje, a maior dificuldade que Jessica enfrenta é a falta de solidariedade no dia a dia. "É muito difícil quando saio sozinha, para andar na rua, de ônibus. As pessoas não ajudam, não têm paciência. Tem gente que briga, que não entende o problema do outro", contou.