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"Éramos duas jovens esperando para ver quem morria primeiro"

Alin Gragossian/BBC
Imagem: Alin Gragossian/BBC

George Pierpoint - BBC News

16/05/2019 08h42

Alin Gragossian, de 31 anos, descreve os 'arrepios' que sentiu ao ler a carta da família da doadora cujo coração salvou sua vida.

Alin Gragossian, de 31 anos, tremia ao abrir a carta da família da mulher cujo coração salvara sua vida alguns meses antes.

"Recebi um telefonema do hospital dizendo que a família da minha doadora havia me enviado uma carta. A enfermeira se ofereceu para escanear e me mandar por e-mail imediatamente, mas eu disse a ela que não. Eu simplesmente não estava pronta para ler."

Alguns dias depois, a carta chegou.

Carta BBC - Alin Gragossian/BBC - Alin Gragossian/BBC
Imagem: Alin Gragossian/BBC

Alin conta que caiu aos prantos ao ler sobre a jovem cheia de vida cuja morte salvou sua vida.

"É claro que eu sempre soube que minha doadora era um ser humano, mas ler sobre ela como uma pessoa naquele pedaço de papel deixou tudo muito real de repente."

"Ficava arrepiada a cada linha. Tínhamos muito em comum."

"Éramos apenas duas mulheres jovens em diferentes unidades de terapia intensiva, esperando para ver quem morreria primeiro", refletiu Alin.

Ela publicou um texto sobre a carta nas redes sociais, prometendo fazer "bom uso" do seu novo órgão e "agradecendo do fundo do coração".

Alin Gragossian - Alin Gragossian/BBC - Alin Gragossian/BBC
Imagem: Alin Gragossian/BBC
Alin, que é da Filadélfia, é uma médica residente que trabalha com medicina de emergência e está se especializando em terapia intensiva.

"Antes disso, eu ligava para a organização responsável pelas doações depois que um paciente morria, como parte do meu trabalho. Agora, eu realmente entendo o poder que esse telefonema pode ter", afirma.

Alin já havia escrito para a família de seu doador, mas não tinha como saber se tinham lido sua carta.

Nos EUA, as informações sobre um doador só são liberadas para o paciente que recebe o órgão se a família do doador solicitar ou concordar entrar em contato.

O processo varia em todo o país, mas os centros de transplante atuam como intermediários entre as famílias doadoras e os receptores.

A Rede Unida para Compartilhamento de Órgãos (Unos, na sigla em inglês), que administra o sistema de doação de órgãos nos EUA, incentiva o anonimato em todos os casos.

Como não havia como entrar em contato com eles diretamente, ela decidiu publicar uma resposta endereçada à doadora em seu blog.

"Eu tinha muitas coisas em comum com você. Muito além do nosso tipo de sangue", escreveu.

"Nós provavelmente teríamos sido boas amigas. Mas, em vez disso, nossos caminhos se cruzaram da maneira mais estranha. No último dia da sua vida, no primeiro dia da minha vida. No pior dia da sua vida, no melhor dia da minha vida."

Alin afirma que respeita o desejo da família de permanecer anônima, e tem tomado cuidado para não revelar o conteúdo da carta.

No entanto, ela admite esperar que a família da doadora veja sua resposta e tenha uma ideia da gratidão que sente.

A postagem levou uma série de pessoas a refletir sobre a conexão entre doadores e receptores de órgãos.

Alguns pacientes que receberam transplantes disseram que estavam "com um pouco de inveja" de Alin por ela ter contato com a família de sua doadora.

Lynette Hazzard, de Nevada, sabe como é estar do lado da família do doador.

Seu filho, Justen, morreu quando tinha 20 anos.

Ele estava doente há vários anos e conversou com a família sobre o desejo de ser doador de órgãos.

O coração, o pulmão e os rins de Justen foram doados para quatro pessoas após sua morte.

Lynette escreveu para cada paciente que recebeu um órgão do seu filho.

"Demorei meses para ser capaz de escrever uma carta porque não conseguia encontrar as palavras", explicou Lynette. "Era difícil expressar quem nosso filho era em uma pequena carta."

"Eu queria ter certeza que eles soubessem o jovem amoroso, gentil e forte que ele era. Queria ter certeza que eles soubessem que ele gostava tanto de ajudar os outros, que escolheu ajudar mesmo depois de sua morte."

Para Lynette, saber que seu filho ajudou outras pessoas mantém sua memória viva.

"Sinto que ele ainda está vivo, vivendo através dos outros. Espero que cada beneficiário dê valor a cada momento de sua vida."

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