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Quão seguros são os suplemento alimentares?

Entenda melhor em que situações eles devem ser consumidos - iStock
Entenda melhor em que situações eles devem ser consumidos Imagem: iStock

29/10/2018 18h15

O relato de um americano que acabou precisando de um transplante de fígado após ingerir cápsulas de chá verde tem levantado um debate sobre suplementos alimentares.

Jim McCants, do Texas, tomava o suplemento de chá verde havia dois ou três meses quando ficou doente. A preocupação gira em torno de um ingrediente potencialmente tóxico chamado epigalocatequina-3-galato (EGCG), composto natural com propriedades antioxidantes mais abundante no chá verde, as catequinas. É possível que a substância cause danos em alguns casos, seja por conta de fatores genéticos ou circunstanciais --se for ingerida em jejum, por exemplo.

Quais são os riscos dos suplementos em geral --e até que ponto eles de fato funcionam? 

No caso de McCants, quando começou a tomar as cápsulas, ele só esperava obter benefícios para sua saúde. Mas, ao que tudo indica, o suplemento acabou gerando uma lesão hepática grave e a necessidade de um transplante de fígado de urgência.

Especialistas dizem que casos como o de McCants são "extremamente incomuns". Os produtos aprovados e vendidos por empresas respeitadas são quase sempre seguros, desde que as instruções dos fabricantes sejam seguidas, dizem os médicos.

Mas não devemos supor que os suplementos alimentares não têm o potencial de causar danos, de acordo com Wayne Carter, da Universidade de Nottingham, na Inglaterra. Se você tomar em quantidade acima dos níveis recomendados, haverá riscos.

Embora em muitos casos o excesso de um suplemento possa ser eliminado pelo organismo, existe o potencial de algumas substâncias serem tóxicas --particularmente para o fígado, órgão responsável por processar as toxinas das substâncias que consumimos.

"Acho que muitas vezes as pessoas pensam: 'isso me faz bem, então se eu tomar mais, vai ser ainda melhor'", avalia Carter. "Mas há riscos."

Carter adverte, por exemplo, contra tomar suplementos indiscriminadamente e diversos ao mesmo tempo.

Às vezes, os suplementos podem interagir entre si, de modo que um reforce os efeitos de outro. Se eles tiverem nutrientes semelhantes, é possível que você esteja ingerindo doses excessivas de uma determinada substância.

Além disso, alguns indivíduos podem ter uma capacidade menor de metabolizar certas substâncias de forma eficaz, o que também pode influenciar a maneira como elas nos afetam.

"O alerta em relação ao consumo de suplementos é que ele pode ser seguro para a população em geral, mas não para todos individualmente", acrescenta o especialista.

Mas se esses são os riscos potenciais, quais são os benefícios para a saúde?

Para as crianças

Suplementos - iStock - iStock
Imagem: iStock

Existem suplementos amplamente reconhecidos por especialistas que podem beneficiar toda a população.

O serviço público de saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) recomenda às mulheres que planejam ter filho e àquelas que já estão grávidas tomar um suplemento de ácido fólico até a 12ª semana de gravidez para prevenir a malformação congênita do feto.

A vitamina D também é recomendada para bebês, crianças com idade entre um e quatro anos e pessoas que não pegam sol.

A falta de vitamina D, que sintetizamos principalmente a partir do sol, pode levar a deformações ósseas, como o raquitismo, em crianças. Nos adultos, pode causar um distúrbio chamado osteomalácia, que provoca dor nos ossos.

"Há 100 anos, a maioria das crianças tinha raquitismo em Londres. Isso foi praticamente erradicado com a prática de dar às crianças um suplemento de vitaminas", diz Benjamin Jacobs, pediatra do Royal National Orthopaedic Hospital, em Londres.

Uma injeção de vitamina K também costuma ser aplicada em bebês nas primeiras 24 horas de vida, para evitar uma doença sanguínea rara, porém grave.

Ciência em evolução

Suplementos de ômega 3 - iStock - iStock
Imagem: iStock

Jacobs afirma que os suplementos também são importantes para quem precisa fazer dietas restritivas ou tem alergia. Os especialistas dizem que os veganos, por exemplo, podem precisar tomar um suplemento de vitamina B12, que só é encontrada em alimentos de origem animal.

Contudo, não há evidências tão claras de que outros suplementos tragam benefícios para a maioria das pessoas.

De acordo com o NHS, a maior parte da população não precisa tomar outros suplementos e pode obter todas as vitaminas e minerais que necessita, com exceção da vitamina D, a partir de uma dieta balanceada.

Os benefícios das cápsulas de óleo de peixe, suplemento vinculado à melhora da saúde cardiovascular e ao aumento da função cerebral, tampouco são conclusivos.

Uma recente revisão de artigos clínicos descobriu que a evidência de que as cápsulas de óleo de peixe protegem o coração é pouco consistente.
Sam Jennings, diretora da Berry Ottaway & Associates Ltd, consultoria que trabalha com fabricantes de suplementos, observa que a nutrição é "uma ciência em constante evolução, e estão sempre surgindo dados novos".

"O que ficou claro é que, com os suplementos, os benefícios nem sempre são óbvios para todas as pessoas, porque isso vai depender da formação de cada indivíduo e dos benefícios que podem obter ao consumir um nutriente adicional de algum tipo", acrescenta.

Carter aconselha que, antes de tomar um suplemento, as pessoas procurem que tipo de evidência científica respalda seus supostos benefícios e verifiquem se há advertências sobre o composto.

Recomendações antes de tomar suplementos

  • Compre suplementos de fornecedores reconhecidos, pois devem ter passado por rigorosas checagens de segurança.
  • Verifique se foram realizados testes clínicos com uma parcela da população semelhante à sua (em termos de idade, sexo, etc.).
  • Confira as advertências. Por exemplo, pessoas com problemas cardíacos devem checar se o suplemento não faz mal ao coração.
  • Tenha cuidado ao tomar vários suplementos ao mesmo tempo.
  • Tome apenas as doses recomendadas.

Fonte: Wayne Carter, Universidade de Nottingham.

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