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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


'Passei dez anos escondendo que sofro de psicose'

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

18/09/2018 16h49

Luke Watkin estava na escola, sozinho no corredor, quando ouviu um barulho estranho pela primeira vez.

"Ouvi um barulho que pareceu o freio de um trem, seguido por um ruído de metal. Era algo completamente fora do comum. Foi um choque, algo que eu não pude entender e processar", diz.
"Essa experiência foi aterrorizante."

Aquele foi o primeiro contato de Luke com um problema chamado psicose. Ele tinha 12 anos.

Luke conta que, de ouvir barulhos, passou a escutar palavras, o seu nome e, eventualmente, frases inteiras. "Como se alguém estivesse tentando falar comigo."

Os principais sintomas de psicose são alucinações e delírios. O problema pode ser causado por uma doença mental específica, como esquizofrenia, distúrbio bipolar e depressão severa.

A psicose também pode ser desencadeada por uma experiência traumática, estresse, drogas, álcool, ser efeito colateral de uma medicação ou sintoma de um tumor cerebral.

A importância de um diagnóstico precoce

Embora não seja tão comum como depressão, afetando menos de uma pessoa a cada 100, os especialistas dizem que é importante reconhecer os sintomas da psicose cedo, para que o tratamento seja mais eficaz.

Pessoas com psicose têm mais risco de ferir a si mesmas ou cometer suicídio. A ONG Rethink Mental Ilness (Repensando a Doença Mental, em português) fez um levantamento com 4 mil pessoas e descobriu que mais da metade acreditava que não seria capaz de reconhecer os primeiros sintomas desse problema.

A preocupação é que a falta de informações generalizada faça com que jovens não procurem ajuda cedo- os primeiros episódios de psicose costumam ocorrer entre as idades de 18 e 24 anos.


Sintomas da psicose

Alucinação: quando uma pessoa ouve, vê, sente, cheira ou prova coisas que não estão, de fato, ali

Uma alucinação comum é ouvir vozes

 Delírios: Quando uma pessoa tem fortes crenças que não são compartilhadas pelos outros

Um delírio comum é uma pessoa acreditar que existe uma conspiração para prejudicá-la

Fala rápida e repetida

Fala confusa: por exemplo, quando uma pessoa muda de um tópico para outro no meio de uma frase

Perda repentina da linha de raciocínio, provocando uma pausa abrupta na conversa ou atividade

Luke tentou conversar com um professor na época da primeira crise. "Fizeram eu sentir que se tratava de algo sobre o qual eu não deveria falar."

Então, ele decidiu "ser forte, ignorar o que estava acontecendo e seguir em frente".

Luke não falou mais sobre o caso até abandonar a universidade, no terceiro ano. Ele diz que era difícil para a sua família identificar o que estava realmente acontecendo.

"Eles achavam que eu estava muito quieto, porque era a forma que eu encontrei para lidar (com o problema). Eu me escondia no meu quarto, ou focava em alguma outra coisa e tentava ficar longe das pessoas. Meus pais acharam que eu era assim, uma criança quieta."

Mas, na universidade, ele passou a não conseguir esconder a psicose em meio à vida universitária. Luke trancou os estudos e, pouco depois, perdeu contato com a família, que não foi informada de que ele havia deixado a faculdade.

"Quando chegou ao pior estágio da minha doença mental eu desapareci", conta.

"Depois de sumir, ficou claro para a minha família que algo estava errado. Eles, então, perceberam que eu não estava frequentando a universidade. Esse foi o primeiro passo para que procurasse ajuda. Eles me questionaram e foram muito compreensivos e carinhosos."

O tratamento

É recomendável que qualquer pessoa que esteja vivenciando sintomas de psicose procure um médico imediatamente. O tratamento envolve uma combinação de medicamentos para controlar a doença, terapias psicológicas e apoio familiar.

"Hoje em dia, se eu estou tendo um dia ruim não consigo evitar contar isso para todo mundo. É uma mentalidade completamente diferente da que eu tinha antes, quando eu tinha medo de falar sobre o assunto."

Agora, Luke tem 26 anos e está ajudando no apoio a jovens que passam pelo mesmo problema. Ele afirma ver uma mudança na forma como as pessoas encaram a psicose.

"Eu acho que a cada dia as pessoas sentem menos a necessidade de esconder a psicose. É muito mais fácil falar sobre o assunto do que tratá-lo como um tabu. (A psicose) é algo que simplesmente acontece com as pessoas."