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Micropigmentação transmite hepatite C? Veja mitos e verdades da doença

Micropigmentação de sobrancelhas - iStock
Micropigmentação de sobrancelhas Imagem: iStock

Do UOL

27/09/2017 04h10

De acordo com o Ministério da Saúde, 135 mil pessoas foram diagnosticadas com hepatite C no Brasil em 2016. Ainda que não haja um surto da doença, ela preocupa os médicos por ser silenciosa e causar lesões graves no fígado, que, inclusive, podem ser fatais.

Isso acontece porque de 80 a 85% das pessoas que contraem o vírus C não conseguem eliminá-lo. Uma vez que ele se instala no fígado, inicia um processo de inflamação do órgão que evolui por décadas e modifica a “arquitetura” do órgão, levando a cirrose.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a hepatite C afeta 71 milhões de pessoas no mundo. O grande entrave ainda é o diagnóstico. “Nós precisamos achar e tratar esses pacientes o quanto antes para que eles não cheguem ao estágio de cirrose”, destaca o infectologista David Urbaez, diretor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

Mas e como se contraí o vírus? Ele tem cura? Para responder essas e outras dúvidas, o UOL conversou com Urbaez e com a infectologista Christiane Kobal, coordenadora do programa de Hepatites Virais do Estado de Goiás e membro do Comitê de Hepatites Virais da SBI. Tire as dúvidas a seguir:

Mitos e verdades da hepatite C

  • Material de manicure e pedicure sem esterilizar favorece a contaminação

    Verdade. As grandes fontes de transmissão do vírus da hepatite C são materiais que entram em contato com sangue. E quantas vezes você não teve um "bife" arrancado na hora de fazer a mão e o pé? Segundo Urbaez, os instrumentos usados no salão são como os de centro cirúrgicos e, por isso, precisam de um ritual de limpeza semelhante. Além de limpar os objetos, também é preciso desinfetar e esterilizar para garantir a segurança. Mas a medida mais segura é ter seu próprio kit de manicure na hora de ir para o salão de beleza.

  • Hepatite C pode ser transmitida por tatuagem ou micropigmentação

    Verdade. As agulhas descartáveis diminuíram a transmissão de hepatite C nos estúdios de tatuagem e salões que fazem maquiagem definitiva e micropigmentação, mas ainda há um problema: a tinta. Christiane explica que de nada adianta a agulha ser estéril, se a tinta usada para fazer o procedimento for coletiva. Isso porque a agulha que teve contato com o sangue pode transmitir o vírus para a tinta. O correto é que cada cliente tenha um kit de agulha e tinta individuais para esses procedimentos.

  • É transmitida pelo beijo ou no sexo?

    Mito. Um beijo "normal" não transmite hepatite C e, para que isso aconteça, seria necessário ter algum ferimento na região, para que pudesse haver troca de sangue. Ainda que o vírus C não seja sexualmente transmissível, os infectologistas recomendam uso do preservativo para evitar a contaminação por outros vírus, como HIV e hepatite B.

  • Dor de cabeça, boca amarga e barriga estufada são sintomas de hepatite C

    Mito. A doença é silenciosa e não tem qualquer sintoma, o que faz com que muitas pessoas só descubram que estão infectadas após 30/40 anos de o vírus estar em atividade no corpo. E aí os sintomas que aparecem não são mais da hepatite, mas sim da hepatopatia avançada. O problema é que, quando essas manifestações surgem, é porque a doença já está em um estado avançado. Sangramento digestivo, icterícia, ascite (acúmulo de líquido no interior do abdome), edema nos músculos inferiores e aumento das mamas nos homens são alguns sinais de que o fígado não está mais funcionando da forma que deveria. Esse estágio da doença só é tratado por meio de transplante.

  • Qualquer médico pode prescrever o exame de hepatite

    Verdade. Inclusive, a Sociedade Brasileira de Infectologia faz campanha para estimular que outras especialidades, como endocrinologistas, ginecologistas e etc., prescrevam o exame que não precisa de nenhum preparo para ser realizado. Caso o resultado seja positivo para o vírus C, é preciso fazer um exame para avaliar se o vírus ainda está ativo no organismo.

  • A hepatite só afeta o fígado?

    Mito. Como o vírus da hepatite C está no sangue, ele não se aloja apenas no fígado. Ele pode aumentar o risco de diabetes, pois ao ficar no pâncreas, altera a produção de insulina. Ele também pode ir para o rim e provocar insuficiência renal, bem como aumentar o risco de doenças cardiovasculares, provocando um infarto. Por isso, é importante fazer o diagnóstico precoce para iniciar rapidamente o tratamento.

  • A doença não tem cura

    Mito. Ainda que esse mito ronde a própria classe médica, os especialistas da SBI garantem que os medicamentos disponíveis no mercado são capazes de eliminar o vírus do organismo do paciente. As chances de cura são altas, de 95 a 99%, e isso faz com que a OMS (Organização Mundial da Saúde) e os principais órgãos de saúde sonhem com a possibilidade de eliminar o vírus.

  • O tratamento da hepatite provoca queda de cabelo

    Mito. No passado, de fato, os medicamentos no tratamento da hepatite C eram ruins para os pacientes. Além de ter que tomar injeções por um ano, um dos efeitos colaterais era a queda dos cabelos. No entanto, o tratamento evoluiu e agora são comprimidos que precisam ser tomados por três meses.

  • O diagnóstico precoce de hepatite C salva vidas

    Verdade. De acordo com os infectologistas, o diagnóstico precoce da doença é importante para o paciente, pois ele pode buscar o tratamento adequado para se curar o vírus. Quando a doença é descoberta em estágio avançado, o vírus já pode ter causado a cirrose, lesões graves no fígado, que é um processo irreversível e que pode até evoluir para um câncer.