O segredo para ter um relacionamento duradouro: não culpe o outro por tudo

Uma relação madura começa quando cada um pode assumir a responsabilidade pelos seus desequilíbrios. Quanto mais você, arrogantemente, tentar dizer que o outro é que está errado, mais ele se protegerá e o contra-atacará. No entanto, quando você assume sua responsabilidade, abre espaço para a comunicação não-violenta.

Certa vez, eu li uma história de um sannyasin indiano –como são chamados os monges que renunciaram a vida material– que usava roupa laranja e já era um mestre para muita gente. Ele era muito reconhecido e famoso. Até que um dia, ele estava em um acampamento e recebeu a visita da ex-mulher. Essa visita mexeu tanto com ele, que o colocou de frente com uma verdade bem íntima: ele ainda não havia atingido a iluminação por completo.

Então, tomado de honestidade, esse homem decidiu tirar sua roupa laranja e "abdicar o lugar" de mestre. Um de seus discípulos foi questionar o porquê de sua atitude e ele respondeu: "Porque eu descobri que estou mentindo para mim mesmo. Se fiquei tão perturbado com a presença da minha ex-mulher, não estou no lugar em que acreditava estar".

Profundo isso. É uma bela história. Esse homem estava em uma posição muito alta, mas ainda tinha dentro si uma camadinha de distorção que se manifestou com sua ex-mulher. Se ele que já era quase iluminado sentiu isso, imagine nós.

Assuma suas responsabilidades no relacionamento

Somente sendo humilde de verdade é possível se comunicar sem brigas. Quando você é honesto e assume a sua parte, abre caminho para o outro assumir a dele também e se aproximar. Isso é andar em sentido à união. Mas você não deve fazer isso esperando que o outro assuma a parte dele nem criando um jogo para fazer o outro assumir a responsabilidade dele.

Maravilhoso seria se as pessoas estivessem no mesmo nível de maturidade, em que os dois, simultaneamente ou em tempos pequenos de diferença, assumissem suas falhas. Se fosse assim, a guerra estaria com seus dias contados.

Entretanto, ainda é raro que duas pessoas que estão se relacionando estejam no mesmo nível de maturidade –geralmente existe uma diferença. E quem é a pessoa que está no nível mais elevado? É aquela que assume responsabilidade. Mesmo vendo o capeta se manifestar no outro, ela olha para si e, assim, dá um passo em direção a união.

Digo ainda que, quando se pode assumir a responsabilidade verdadeiramente, assumir seus erros, também será possível colocar limites com clareza e amor.

O amor maduro faz com que você enxergue o outro objetivamente e, olhando objetivamente, você verá coisas muito lindas e coisas muito feias nele. Mas você aceita que, assim como você ainda é um ser imperfeito, o outro também é. E se a imperfeição do outro for demais para você, precisará ter a coragem de dizer: "Chega!".

Então, essa também é uma outra medida do amor maduro. Você já pode colocar limites para aquilo que te machuca de verdade no outro? Você já pode colocar limites em você mesmo pelo gosto negativo de repetir situações destrutivas? Quem é, em você, que precisa pagar o alto preço de perder a liberdade para se manter em uma relação que está te machucando?  Você já pode ser honesto de verdade consigo e com o outro?

Às vezes, você não fala a verdade, não se coloca por estar com medo –sentimento que pode estar disfarçado até de compaixão: "Eu não posso falar o que sinto para o outro, porque vou ofendê-lo ou machucá-lo". No fundo, você sente medo das consequências de ser verdadeiro, pois isso pode levar até mesmo ao fim da relação.

Aí voltamos ao capítulo da dependência, do apego. Entenda que você nunca se relaciona com uma pessoa que está manifestando uma distorção muito grande sem ter nada a ver com isso. Isso não existe! Não se engane!

Talvez você já tenha enraizado a compaixão e a capacidade de ver a luz do outro. Talvez já consiga se distanciar e ver de uma perspectiva mais consciente.

Se a relação em que você está tem um grande desequilíbrio em que vocês não conseguem ser honestos e autorresponsáveis pelos erros, é preciso estar atento para uma parte em você que ainda quer acusar, ainda quer sofrer e colocar a culpa no colo do outro.

Eu sinto que você tem a chance de olhar para essa parte em você que ainda se abala demais com as energias distorcidas do seu parceiro ou parceira e não consegue reconhecê-las em você mesmo e na necessidade de atraí-las. E aí, por mais chato que eu seja, vou ter que te dizer de novo: olhe para os seus pais! Encontre onde foi que você "aprendeu" a se alimentar da distorção do outro. Tem de ter coragem para romper com esse ciclo.

A mudança acontece pouco a pouco. Tem que ter paciência. Que o amor e a sabedoria iluminem os passos da sua jornada.