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Blog do Henrique Szklo

Saiamos todos em defesa dos "coçahólics"

Henrique Szklo

06/02/2018 04h10

Crédito: iStock

Está na hora de fazer alguma coisa pelos que não querem fazer nada

Detesto trabalhar. Acho desnecessário, degradante e abominável. Um castigo divino que se abateu sobre minha cabeça. Não devo ter sido um bom menino em vidas passadas. E, como punição (veja só a tragédia pessoal) fui condenado a passar toda a minha vida adulta trabalhando para me sustentar. É triste mas não precisa chorar. Não quero sua compaixão. Sou adulto e sei muito bem o que devo fazer: nada, claro. Sou um coçaholic convicto.

Mas conheço muita gente que tem a péssima, a ultrajante mania de trabalhar obsessivamente. Me irrita de um jeito! É uma compulsão que não é sadia. Uma doença que só se cura com repouso absoluto. Gostar de trabalhar? Tenha a santa paciência. Esses indivíduos pervertidos apresentam claros sinais de insanidade. Sociopatas que além de se matar de trabalhar, ainda conseguem arranjar um tempinho para patrulhar quem não fez nada para eles. Para esses intolerantes xiitas do labor, fazer nada é crime. É por isso que o coçaholic jamais assume sua condição. Nunca sai do armário funcional com medo de não ser compreendido, de ser hostilizado, agredido. Pior: tem medo de ser descoberto e ter de finalmente trabalhar de verdade. Bate na madeira! Mas não precisa bater agora. Mais tarde.

Onde está o direito à escolha? A democracia? E curioso: o coçaholic nem minoria é. Uma imensa horda silenciosa cujo único desejo é poder viver com dignidade e conforto sem precisar pegar no batente. Será que é pedir muito?

Se você acha que nunca viu um coçaholic é porque talvez esteja trabalhando demais. Bem-feito, quem mandou? Somos muito discretos, silenciosos e inativos. Somos a favor da livre-iniciativa, mas preferimos mesmo a não-iniciativa. Tomamos 350 cafezinhos por dia e lemos todos os portais de notícias logo que chegamos ao escritório. Por isso o coçaholic é sempre muito bem-informado. Afinal, temos que ter assunto para nossas conversas intermináveis.

Somos multitelas. Nossos maiores aliados são o computador, o notebook, o tablet e o smartphone. Afinal, eles nos oferecem nossas mais importantes ferramentas de trabalho: todos aqueles games viciantes. O coçaholic joga o dia inteiro e aos olhos dos outros e principalmente do chefe ainda fica com fama de que trabalha muito. Chega mais cedo que todo mundo e vai embora mais tarde. Só pra jogar. Graças aos jogos que se disputam pela internet, a legião de coçaholics está muito mais unida, interligada, com know-how, talento e expertise, preparada para os cada vez maiores desafios.

A internet, aliás, é outra excelente ferramenta. Simulando pesquisas profissionais, podemos ficar o dia inteiro em no facebook, twitter e afins. Todo coçaholic, por definição, adora ficar na rede. Falar ao telefone ou mandar mensagens no WhatsApp também são atividades fundamentais na vida do coçaholic. Horas, horas e horas discutindo importantes, complexos e estratégicos assuntos de cunho pessoal com amigos que torcem sinceramente para que dê tudo certo. Como é importante a força dos amigos nesses momentos.

Conclamo, portanto, a todos os que têm aversão à labuta para lutar juntos pelos nossos direitos. Se bem que lutar pelos direitos dá uma preguiça danada. Vamos fazer o seguinte: vocês vão na frente que eu vou logo em seguida. Já, já.

Sobre o autor

Henrique Szklo exerceu durante 18 anos a profissão de publicitário na área de criação, como redator e diretor de criação. Hoje é estudioso da criatividade e do comportamento humano, escritor, professor, designer gráfico, palestrante e palpiteiro digital. Desenvolveu sua própria teoria, a NeuroCriatividade Subversiva, e seu próprio método, o Dezpertamento Criativo. É coordenador do curso de criatividade da Escola Panamericana de Arte e sócio da Escola Nômade para Mentes Criativas. É colaborador também do site ProXXIma, tem 8 livros publicados e é palmeirense.

Sobre o blog

Assuntos do momento observados com bom humor pela ótica da criatividade e do comportamento humano. Sempre com um viés provocador e fugindo do senso comum. E que São Magaiver nos proteja!

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