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Blog do Henrique Szklo

10 coisas que você deve saber sobre listas que dizem o que você deve saber

Henrique Szklo

20/03/2018 04h00

Crédito (iStock)

1) Sejamos honestos: ninguém neste mundo tem a menor ideia do que se deve saber para conquistar o sucesso ou a felicidade, quaisquer que sejam suas definições. O que se sabe é que os dois são resultado de uma quantidade tão atordoante de variáveis, a maioria delas sequer percebidas por nós, que não é uma listinha mequetrefe com meia dúzia de obviedades que vai ser capaz de mudar a nossa vida.

2) Numa eventualidade de alguém saber alguma coisa, mínima que seja, a possibilidade deste gênio da raça entregar o seu segredo de bandeja pra você num livro ou num post de internet é menor que zero vírgula zero zero.

3) Não existe receita de bolo, quando você junta ingredientes e segue à risca o modo de preparo consagrado por toda a comunidade de banqueteiros para, uma hora depois, saborear um delicioso… ôpa, peraí, mesmo seguindo a receita à risca, tem gente que faz o bolo virar uma gororoba. E mais: a vida tem uma dinâmica furiosa e implacável. Uma mesma atitude funciona em uma ocasião e não funciona em outra semelhante. Às vezes o melhor é fazer o oposto do que o senso comum afirma. E às vezes é o oposto que dá errado. Quem sabe é o meio do caminho? Ou não?

4) Fazer listas é um artifício usado à exaustão porque traz conforto psicológico, principalmente para as pessoas que acreditam em fórmulas encantadas. Na verdade, gente preguiçosa que não quer perder tempo pensando com a própria cabeça.

5) Se você reparar, nunca, jamais estas listas sugerem ações minimamente polêmicas, controversas ou ousadas, como se para conquistar qualquer coisa neste mundo tão competitivo bastaria você seguir as regras estabelecidas, ser pragmático, ortodoxo, fazer mais do mesmo, patrocinar clichês e respeitar as tradições. Ou seja, se você quiser se destacar, aja como todo mundo.

6) Um dos maiores desatinos que costumam frequentar estas listas sem-vergonhas é a sugestão de que você não deva ter medo de alguma coisa, tipo, não tenha medo de arriscar, não tenha medo de errar, não tenha medo de acreditar nesta lista, e por aí vai. O problema é que o medo é uma ferramenta genética de sobrevivência de qualquer animal, inclusive o animal humano. Ter medo é bom, ter medo é normal. Só psicopatas não têm medo. Sem contar que não temos o menor controle. Não decidimos ter ou não ter medo. Por isso, dizer para não ter medo é mais ou menos como sugerir que a pessoa precise não respirar para ser feliz.

7) Estas listas mágicas costumam sugerir posturas a atitudes que só se adquirem com longa experiência e estudo e não com com conselhos da tia Maricota: seja organizado, seja bom de grupo, seja bom de network, seja flexível, tenha foco, seja otimista, fuja da zona de conforto, seja criativo, seja proativo, seja radioativo… em resumo: para fazer sucesso e ser feliz você não pode, em hipótese alguma, ser quem você é.

8) Você ainda está aqui?

9) Se você quer mesmo saber alguma coisa sobre algum assunto, estude e pratique. Não tem jeito. Até hoje não inventaram nada que substitua a dedicação para incrementar o conhecimento de um indivíduo, por mais inteligente que ele seja. E mesmo assim, não há nenhuma garantia de sucesso. Infelizmente não existe injeção de Jeff Bezos, que você toma e sai por aí vencendo na vida.

10) Como nenhuma lista é confiável, ignore essa também. Vou passar a bola pra você. Escreva sugestões nos comentários.

Sobre o autor

Henrique Szklo exerceu durante 18 anos a profissão de publicitário na área de criação, como redator e diretor de criação. Hoje é estudioso da criatividade e do comportamento humano, escritor, professor, designer gráfico, palestrante e palpiteiro digital. Desenvolveu sua própria teoria, a NeuroCriatividade Subversiva, e seu próprio método, o Dezpertamento Criativo. É coordenador do curso de criatividade da Escola Panamericana de Arte e sócio da Escola Nômade para Mentes Criativas. É colaborador também do site ProXXIma, tem 8 livros publicados e é palmeirense.

Sobre o blog

Assuntos do momento observados com bom humor pela ótica da criatividade e do comportamento humano. Sempre com um viés provocador e fugindo do senso comum. E que São Magaiver nos proteja!

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