Topo

Guilherme Giorelli

A cura do diabetes tipo 2 com alimentação é um sonho ou realidade?

Guilherme Giorelli

17/03/2018 04h15

"A remissão do diabetes tipo 2 é possível no sistema de saúde primário –ou seja, no posto de saúde? Podemos afirmar que sim, após um ano de tratamento para o controle de peso, apenas com alimentação e atividade física, quase metade dos pacientes submetidos ao estudo apresentaram remissão de diabetes tipo 2 e ficaram livres da necessidade de usar medicação. "

As afirmações do parágrafo acima são fortes e foram publicadas na prestigiada revista The Lancet hà poucos meses.

Tal pergunta se faz necessária pois as diretrizes atuais para o manejo do diabetes tipo 2 se concentram fortemente em múltiplos tratamentos medicamentosos para reduzir o nível de açúcar no sangue e as doenças associadas ao diabetes. A dieta e mudanças no estilo de vida são abordados para controle, mas a remissão do diabetes raramente é discutida.

O estudo citado acima foi realizado na Escócia e na Inglaterra, com 298 pacientes entre 20 e 65 anos de idade, que tinham no máximo 6 anos de diagnóstico de diabetes tipo 2, sobrepeso ou obesidade (IMC de 27-45 kg / m2) e não estavam recebendo insulina.

Os pacientes foram distribuídos em 2 grupos. O grupo controle, que  recebeu o tratamento padrão recomendado pelas diretrizes atuais de diabetes e o grupo intervenção onde foi realizado um programa de gerenciamento de peso.

O programa de gerenciamento de peso foi dividido em fases:

  • Fase 1 – Substituição da dieta habitual por uma fórmula de  baixa caloria (825-853 calorias por dia durante 3 a 5 meses),
  • Fase 2 – reintrodução de alimentos durante 2-8 semanas e suporte contínuo para a manutenção da perda de peso, incluindo estratégias para aumentar a atividade física combinada com terapia comportamental cognitiva.

Na primeira fase não houve consumo de alimentos, houve substituto de refeição e sem estimulo ao exercício, enquanto na fase dois se reintroduziu os alimentos e se estimulava uma meta diária de 15.000 passos.

Ao final dos 12 meses, 68 de um total de 149 pacientes do grupo intervenção (45%), obteve a remissão do diabetes, em comparação com 6 pacientes (4%) no grupo controle.

A remissão  foi definida como hemoglobina glicada (HbA1c) inferior a 6,5%.

Em média, os participantes do grupo intervenção perderam 10 kg de peso corporal em comparação com 1 kg no grupo controle.

Os resultados mostraram que a remissão estava intimamente ligada ao grau de perda de peso e ocorreu em cerca de 9 de cada 10 pessoas (90%) que perderam 15 kg ou mais e em 73% daqueles que perderam 10 kg ou mais.

Efeitos colaterais

No geral, uma pessoa experimentou eventos adversos graves possivelmente relacionados ao tratamento (cólica biliar e dor abdominal), mas continuaram no estudo. Alguns participantes experimentaram constipação, dor de cabeça e tonturas.

Considerações importantes

Os participantes do estudo foram acompanhados por uma equipe de profissionais de saúde treinada e não apresentavam outras doenças de base importantes (ex: insuficiência renal grave, câncer, transtornos alimentares)

A maioria dos participantes eram brancos e britânicos, os achados podem não se aplicar a outros grupos étnicos e raciais, como os sul-asiáticos, que tendem a desenvolver diabetes com menos ganho de peso.

O grande desafio é a manutenção da perda de peso a longo prazo. O seguimento do estudo DiRECT continuará por 4 anos e revelará se a perda de peso e a remissão podem ser alcançadas no longo prazo .

O momento do diagnóstico de diabetes pode ser o melhor ponto para começar a redução de peso e mudanças de estilo de vida, porque a motivação do paciente geralmente é alta e pode ser aprimorada pelos profissionais de saúde. No entanto, a prevenção do diabetes tipo 2 deve ser mantida como o principal objetivo que exige tanto estratégias de nível individual como de base populacional.

Os objetivos de perda de peso fornecidos por este programa são realizáveis ​​para muitas pessoas com acompanhamento médico e multidisciplinar.

Que tal começar sua dieta e atividade física hoje? Vamos prevenir o diabetes tipo 2!

Bons treinos!

Sobre o autor

Guilherme Giorelli é nutrólogo e médico do esporte e exercício. Fellow do International College for Advancement of Nutrology e com mestrado em vitamina D, ele organiza eventos científicos, além de ministrar aulas e palestras. Atualmente é diretor do SMEERJ (Sociedade de Medicina Esportiva e do Exercicio do Rio de Janeiro). Seu dia a dia, porém, é o atendimento de pacientes em sua clínica, que buscam cuidar da saúde por meio da alimentação e do exercício.

Sobre o blog

Este blog é para discutir, sob a ótica da nutrologia e da medicina do esporte, qual o impacto da alimentação sobre o nosso organismo, quais as suas relações com o exercício e como a suplementação pode ajudar. Afinal, todo dia existem novos artigos sendo publicados, novas verdades para serem aprendidas ou questionadas. A ciência nunca está parada, nem você deve ficar.