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Blog da Sophie Deram

Sabe o que emagrece? Filtrar as informações que você lê sobre nutrição

Sophie Deram

21/03/2018 04h20

Crédito: iStock

A nutrição te confunde? Eu sei, eu sei. Uma hora o ovo faz bem, outra faz mal. Num dia, a gordura é vilã; na semana seguinte, a culpa é do açúcar. E o que dizer do coitado do pão francês? Uma das maiores paixões nacionais vive sendo julgada pelo simples fato de ser produzido com farinha branca.

As pessoas ficam com a sensação de que os cientistas estão malucos e que nunca chegarão em um consenso sobre o que faz bem e o que faz mal. Isso acontece, em parte, por conta dessa tendência em se dividir os alimentos entre vilões e mocinhos. Mas você sabe de que forma eles são colocados nessas posições?

Imagine o seguinte: neste exato momento, no mundo todo, milhares de profissionais estão debruçados em pesquisas para entender melhor a interação dos alimentos com o nosso corpo. Só que muitas vezes, o resultado de estudos super restritos é divulgado como uma verdade absoluta, e não é tão simples assim.

Quem lucra com esse terrorismo nutricional é a indústria das dietas – cada vez que um alimento ou produto é divulgado como se fosse a última descoberta contra a obesidade, inevitavelmente, vende. Mas para emagrecer não é preciso comprar essas promessas e, sim, saber interpretar melhor o que lê para poder fazer escolhas mais inteligentes.

Mas por que os estudos se contradizem tanto?

Porque não colocamos seres humanos em gaiolas, como fazemos com os roedores, para conseguir mensurar com exatidão se o alimento "x" ou "y" causa alguma doença ou contribui para o ganho de peso. Além disso, somos todos diferentes.

Não tem como separar dois grupos e falar: "Olha, vocês aqui só comerão comida fresca nos próximos 20 anos"; "Já vocês, só comida ultraprocessada, combinado?". Não seria ético forçar as pessoas a seguirem uma determinada dieta por um período longo, em nome da ciência.

Seres humanos têm vida social, rotina, compromissos e costumes que impactam direto na ingestão alimentar. Isso obriga grande parte dos estudos a serem realizados apenas no curto prazo.

Existem também pesquisas baseadas em abordagem observacional, que analisam o hábito alimentar já existente entre determinado grupo de pessoas. No entanto, eles dependem do relato dessas próprias pessoas, que, muitas vezes, podem omitir informações ou simplesmente se esquecer do que comeram. Ou seja: os resultados nem sempre são precisos.

Por fim, uma outra coisa importante de se lembrar é que existem muitos conflitos de interesse entre a indústria, a saúde pública e a ciência. Inúmeros estudos são bancados por grandes empresas alimentícias e isso gera uma enorme risco de desinformação, porque os dados tendem a favorecer somente à própria indústria. Então, ao ler alguma notícia sobre uma nova pesquisa, procure saber quem está por trás. Se informar é essencial nesse mundo cheio de pseudo-verdades!

Cada corpo é um corpo

Vale destacar também que nossos genes reagem de forma diferente a cada alimento, conforme aponta a ciência da nutrigenômica. Ou seja, cada corpo é único e vai reagir de forma muito particular a determinado tipo de alimento, e o mesmo corpo pode reagir diferentemente em vários momentos da vida.

Isso quer dizer que sua amiga fez a dieta da sopa e, para ela, deu certo, não necessariamente vai dar para você. Ou se um colega do trabalho passou a incluir suco verde no café da manhã e está se sentindo super bem, não necessariamente vai ser uma boa alternativa para você.

Mas então não dá para acreditar nos estudos?

Não é bem isso: a maior parte dos estudos é bem séria e os resultados, de fato, são muito importantes para a sociedade. Além disso, são feitas diversas metanálises (a investigação de vários estudos sobre o mesmo tema) que acabam confirmando os efeitos de alguns alimentos no nosso corpo.

A Nutrição avançou muito nas últimas décadas e hoje já temos uma boa noção sobre o que incluir ou diminuir na nossa alimentação para prevenir o risco de incidência da obesidade e de doenças crônicas.

Mas, de novo: é preciso ter o 'desconfiômetro' ligado quanto às notícias sensacionalistas e não buscar só uma fonte de informação. Um profissional da saúde sempre será a melhor pessoa para orientar quanto às escolhas alimentares. E lembre uma coisa: até agora não existe milagres. Se existessem não ia ter tanto sofrimento referente a excesso de peso, não é?

O que comer?

A minha conclusão depois de mais de 20 anos estudando nutrigenômica, a bioquímica dos alimentos (sou engenheira agrônoma, antes de nutricionista) e o metabolismo humano é a resposta mais simples e menos científica possível, e, o que é melhor – está ao alcance da maioria das pessoas. Coma mais alimentos verdadeiros e comida fresca, dê menos espaço para os ultraprocessados. Toma mais água e menos bebidas doces.

Preste atenção não só ao que está comendo, mas também COMO está comendo. O comportamento é tão importante quanto o nutriente! Pratique o comer consciente, e diminua o comer emocional. Lembre-se que comer não é só se nutrir. É também uma das nossas maiores fontes de prazer!

Bon appétit!

Sophie Deram

Sobre a autora

Sophie Deram é uma nutricionista franco-brasileira, autora do best-seller “O Peso das Dietas”, palestrante, pesquisadora e doutora pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) no departamento de endocrinologia. Defende a importância do prazer de comer para a saúde e a ideia de comer melhor e não menos. Sophie não acredita nas dietas restritivas e no “terrorismo nutricional”. Desenvolve programas online para transformar a relação das pessoas com comida e ensina profissionais de saúde sobre nutrição que alia ciência e consciência.Leia mais no site da Sophie Deram: https://www.sophiederam.com/br/

Sobre o blog

Dicas, reflexões e estudos sobre a relação do nosso corpo com a comida, com foco em alcançar uma relação tranquila com os alimentos e, assim, obter um peso saudável. Esse é um espaço que passa longe dos modismos alimentares. Aqui promoveremos mudanças de hábitos que vão te ajudar a viver melhor. Acredito que o ser humano se nutre de alimentos e sentimentos.