Topo

Luciana Bugni

Tapete vermelho: mulher criticar roupa de mulher é coisa do passado?

Luciana Bugni

09/01/2018 06h00

Eu lembro de um tempo – e não faz muito tempo – em que a gente passava o dia seguinte à uma premiação do cinema, essas com tapete vermelhos, falando dos vestidos hor-ro-ro-sos das celebridades. Assim, separando sílaba, com desprezo ou despeito. "Você viu fulana?" "Que decote era aquele?" "E aquelas plumas da outra?" "Ela estava fantasiada de urubu [risos maldosos]?" Os comentários pejorativos eram comuns e partiam geralmente de nós mesmas, mulheres.

Corta para 2018. Abriu o tapete vermelho do Globo de Ouro, em Los Angeles, nos Estados Unidos, na tarde de domingo. Eu colei no Twitter para ver o que mundo estava falando da cerimônia. As mulheres de preto como protesto aos recentes escândalos sexuais em Hollywood. Homens também. Todo mundo querendo chamar atenção para um tema seríssimo, que só alcançou a mídia agora, mas acontece faz tempo. Que bom que algumas moças tiveram a coragem (sim, coragem, denunciar abuso requer uma força danada!) de falar sobre isso. Time's up é o título do movimento que quer dizer em inglês que o tempo dos estupradores, abusadores e opressores em geral acabou. Que legal que chegamos a esse momento!

Pois bem, o tapete vermelho. Mulheres de todas as idades vestindo roupas de gala pretas. Olha lá, a Penélope Cruz. Que mulher maravilhosa. Aquela é não é a rainha dos dragões de "Game Of Thrones"? O nome dela é Emilia Clarke, Luciana. Ah é, musa. Lá vem a Nicole Kidman com a amiga e colega de elenco em "Big Little Lies", Reese Whiterspoon. Que série incrível, aliás, sobre a amizade entre mulheres. Lembra quando a gente dizia que mulher não era amiga de mulher? Pois é, time's up. Somos amigas umas das outras, sim.

Eu queria ser amiga da Reese, fato. (Foto: Getty Images)

Ai, meu Deus, lá vem o elenco de "This is Us": Chrissy Metz, Susan Kelechi Watson, Mandy Moore. Peraí, ninguém vai falar os absurdos que a gente costumava ouvir sobre o peso de uma, o cabelo da outra? Lá vem Viola Davis. Só elogios? Agora é a vez de Oprah, exuberante aos 63 anos. Ninguém vai criticar? O que está acontecendo aqui?

Viola manda um salve para quem acha que mulher precisa fazer chapinha (Foto: Getty Images)

Que mudança maravilhosa é essa? Durante todo o tempo da premiação, não vi um comentário negativo feito sobre e para nenhuma das mulheres que estavam ali, fossem altas, baixas, gordas, magras, negras, brancas, bem ou mal vestidas.

Um novo dia está chegando, disse Oprah em seu discurso entusiasmado e emocionante. "Quero que todas as meninas assistindo hoje saibam que um novo tempo se aproxima! E quando esse dia finalmente chegar, vai ser por causa de muitas mulheres incríveis, muitas das quais estão aqui nesta sala hoje, e alguns homens fenomenais lutando para se assegurar que elas se tornem as líderes que nos levarão a um tempo em que ninguém mais tenha que dizer 'eu também"', ela disse, citando a campanha #metoo, com mulheres dividindo suas histórias de assédio e abuso.

Se chegar aos 63 sendo um terço do que Oprah é, já tá bom (Fotos: Getty Images)

Será que o tempo das críticas acabou? Será que a gente vai começar finalmente a olhar as outras mulheres, estejam elas em Hollywood ou ali na feira do lado de casa como quem olha para uma semelhante e não uma inimiga? Tem algo acontecendo aqui e isso é bom demais.

"Tá bom, mores?", diz Chrissy Metz. Chega de botar defeito! (Foto: Getty Images)

PS: Ah, e apesar de maravilhosa, a Millie Bobby Brown, a Eleven de "Stranger Things", tem 13 anos. Ela pode ser, no máximo, uma criança maravilhosa. Não adianta nada a gente tentar combater os abusos sexuais hiperssexualizando uma menina, ok?

Millie Bobby Brown é uma CRIANÇA linda, de 13 anos (Foto: Getty Images)

Sobre a autora

Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni

Sobre o Blog

Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.