Topo

Blog da Sophie Deram

Contar calorias é atraso de vida e ineficiente para combater obesidade

Sophie Deram

27/12/2017 04h00

Crédito: iStock

As calorias já tiveram seus anos de glória. Por muito tempo, acreditamos que era só optar pelos alimentos menos calóricos que estava tudo certo. Dessa forma, nos manteríamos magros e longe de todas as doenças ligadas à obesidade.

Só que esse monte de certezas relacionadas ao poder das calorias passou a ser questionado pela ciência nos últimos anos (ainda bem!). Claro que seria bem mais fácil se nossa alimentação pudesse ser reduzida à fórmula "gaste mais calorias do que você come".

Seria só fazer uma continha aqui, outra ali, que estaríamos livres do risco de engordar, certo? Errado! É só olhar a crise de obesidade que o Brasil e o mundo todo enfrenta atualmente.

Essa fórmula já era. Isso porque calorias não indicam qualidade. Uma lata de refrigerante, por exemplo, pode ter o mesmo valor calórico de um prato cheio de salada com cenoura e tomate. Agora sabemos que a conversa que o nosso corpo tem com esses alimentos é bem diferente.

A nutrigenômica, que é a ciência que estuda como nossos alimentos conversam com nossos genes, mostra que os alimentos têm o incrível poder de modular a expressão dos nossos genes e afetar nosso metabolismo.

Afinal, os compostos bioativos presentes em um refrigerante e em um prato de salada têm efeitos bastante diferentes no nosso organismo. Os alimentos não são só calorias, são informações!

Por isso é preciso entender que as calorias são apenas mais uma informação, não a principal.

Vou explicar agora o que é uma caloria para, então, você entender porque deve parar de contabilizá-las e focar em outras coisas mais interessantes.

Afinal, o que é uma caloria?
Uma caloria representa a quantidade de energia necessária para elevar a temperatura de 1g de água em 1°C. Essa definição foi criada pelo físico e químico francês Nicolas Clément no início do século XIX.

A nutrição usou essa base para determinar a quantidade de calorias de um alimento, medindo quanta energia ele libera quando é queimado em laboratório, quer dizer, fora do corpo. Assim, se chegou à conclusão de que 1g de carboidrato ou proteína libera 4 calorias e 1g de gordura libera 9 calorias.

Não quer dizer que no nosso organismo o alimento seja "queimado" dessa forma. O que acontece é muito mais complexo, a nossa digestão vai processar os alimentos de forma variada e, aliás, uma parte só será digerida!

Quando comemos, nosso corpo transforma os alimentos, entre outras coisas, em energia vital. Essa energia é usada para respirarmos, mantermos a atividade cerebral, os batimentos cardíacos e diversas outras funções. Ou seja: os alimentos são a nossa gasolina.

Para o conceito simplista de "fechar a boca e malhar", contar calorias é suficiente porque dentro dessa crença o peso seria o resultado do que você come, menos o que você gasta (e o que não gasta é armazenado em forma de gordura). Mas, de novo, isso é simplificado demais e se isso estivesse dando certo não haveria essa epidemia de obesidade.

Por que você não deveria contar calorias
Primeiro porque é estressante e chato. Imagina ficar fazendo contas a cada garfada?

Segundo porque isso pode contribuir para uma relação totalmente conturbada com a comida.

As pessoas passam a ver o alimento como um número e esquecem se gostam mesmo daquilo ou se estão comendo porque leram em algum lugar que "não engorda" ou que tem "calorias negativas" (!!!).

Comer não é exatas, é humanas!
Faço essa brincadeira apenas para reforçar que não deveríamos enxergar o ato de comer de forma tão matemática. Deveria ser algo mais instintivo e natural. Lembrando que comer não é só matar a fome. Tem fundo emocional e social também. Gosto de dizer que o ser humano se nutre de alimentos e sentimentos.

Não estou dizendo que é para comer tudo, sem critério, sem pensar na qualidade nutricional. É até legal ler rótulos e comparar calorias. Mas deixe para os profissionais de saúde esse monte de contas e preocupe-se mais com a qualidade do que está comendo.

As calorias dos alimentos in natura, por exemplo, são muito bem-vindas! Privilegie a qualidade do que você come, e não a conta de calorias. Pode comer coisa industrializada? Pode, mas ao passo que se coloca mais arroz, feijão, carnes, legumes, verduras, frutas, nozes, queijos, ovos e outros itens naturais ou minimamente processados na sua alimentação, menos sobra espaço para os industrializados. E você terá menos rótulo para ler!

Tire esta preocupação da cabeça, liberte-se da cultura das dietas e faça as pazes com a comida, recupere o prazer ao comer. Essa é a melhor tática para manter um peso saudável!

Bon appétit!

Sophie Deram

Sobre a autora

Sophie Deram é uma nutricionista franco-brasileira, autora do best-seller “O Peso das Dietas”, palestrante, pesquisadora e doutora pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) no departamento de endocrinologia. Defende a importância do prazer de comer para a saúde e a ideia de comer melhor e não menos. Sophie não acredita nas dietas restritivas e no “terrorismo nutricional”. Desenvolve programas online para transformar a relação das pessoas com comida e ensina profissionais de saúde sobre nutrição que alia ciência e consciência.Leia mais no site da Sophie Deram: https://www.sophiederam.com/br/

Sobre o blog

Dicas, reflexões e estudos sobre a relação do nosso corpo com a comida, com foco em alcançar uma relação tranquila com os alimentos e, assim, obter um peso saudável. Esse é um espaço que passa longe dos modismos alimentares. Aqui promoveremos mudanças de hábitos que vão te ajudar a viver melhor. Acredito que o ser humano se nutre de alimentos e sentimentos.