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Blog do Dan Josua

Olhar e enxergar: como construir uma autoestima justa

Dan Josua

15/03/2018 08h56

Crédito: iStock

Tenho a sensação de que, quando reclamamos de nossa autoestima, no fundo, estamos com a esperança de que alguém vá contraargumentar. Não dirão que somos feios, chatos ou burros, como dizemos. Ao contrário, vão nos mostrar que, na verdade, somos os seres mais interessantes, lindos e inteligentes do pedaço. O outro lado da moeda da baixa autoestima é uma autoestima alta demais.

Manuais de autoajuda baratos afirmam que deveríamos nos olhar no espelho e repetir todo dia: "você é lindo, você é inteligente, você é demais!"E, nessa luta por melhorar nossa autoestima, acabamos presos em uma gangorra infinita: ora somos perfeitos, ora somos repulsivos. Sendo impossível se sustentar em qualquer um desses lados, oscilamos angustiados de um polo para o outro. A cada vez que nos forçamos a dizer "lindo" para o espelho, uma vozinha do fundo do crânio responde: "será mesmo?", em um ciclo sem fim.

Talvez o problema não esteja na doença que seria a autoestima baixa, mas no remédio que a nossa cultura prescreve: uma autoestima alta demais. Voltar à origem da expressão pode nos dar uma terceira via a seguir. Autoestima, afinal de contas, deveria ser a capacidade de estimar com precisão quem somos. 

E julgamentos, sejam eles positivos ou negativos, são grandes obstáculos para essa observação mais precisa. Talvez a receita mágica seja se olhar no espelho e refletir sobre que, com certeza, está do outro lado. 

Porque do outro lado do espelho não há uma barriga feia nem uma cara nojenta. Não há burrice nem genialidade. Do outro lado do espelhoe apenas disso podemos ter segurança–  se encontra uma pessoa que, como qualquer ser humano, é marcada por falhas e conquistas –e que, como qualquer ser humano, precisa e merece ser amada

Reconhecer essa verdade singela é o começo da caminhada para uma autoestima justa. 

Não posso ser lindo ou ser feio, posso ser apenas eu. 

Chegar nesse lugar (e como esse espaço interno é difícil de se alcançar!) é chegar na paz da melhor autoestima possível: a aceitação de quem se é. Sem defeitos e sem qualidades. Apenas os traços que delimitam o meu corpo, os gestos que demarcam o meu comportamento  os pensamentos e sentimentos que me informam quem sou.

Sobre o autor

Dan Josua é psicólogo, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Fez especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP (Universidade de São Paulo) e tem formação em Terapia Comportamental Dialética pelo Behavioral Tech / The Linehan Institute, nos Estados Unidos. Atua como pesquisador e professor no Paradigma - Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento e dá cursos pelo Brasil afora ajudando a difundir a DBT pelo país.

Sobre o blog

É muita loucura por aí. Trânsito, mudanças climáticas, tensões em relacionamentos, violência urbana, maratona de séries intermináveis, spoilers em todos os cantos, obrigação de parecer feliz nas mídias sociais, emoções à flor da pele. O blog foi criado para ser um refúgio de tudo isso. Um momento de calma para você ver como a ciência do comportamento humano pode lhe ajudar a navegar no meio de tanta bagunça.

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