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Psicopatas são assassinos mentirosos? Mitos e verdades sobre o transtorno

Psicopatas têm ausência de remorso e, por isso, agem apenas pelo próprio bem, sem se importar com o próximo - Getty Images
Psicopatas têm ausência de remorso e, por isso, agem apenas pelo próprio bem, sem se importar com o próximo
Imagem: Getty Images

Thais Carvalho Diniz

Do UOL, em São Paulo

05/12/2017 04h00

"Só pode ser psicopata!". Se você nunca disse, certamente ouviu essa frase em alguma situação. O transtorno de personalidade aparece banalizado quando usado como xingamento. O chefe é grosso? Psicopata. Um homem é preso por matar pessoas em série? Psicopata. Não é bem assim...  Frios e narcisistas, eles fazem parte do grupo dos que têm personalidade antissocial. Mas nem toda pessoa fria, assassino ou antissocial é, necessariamente, um psicopata.

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"O transtorno de personalidade antissocial atinge de 1% a 3% da população mundial. Dentro deste eixo, 30% são psicopatas. Para nossa felicidade, a prevalência é baixa", afirma Antonio Serafim, coordenador do Núcleo Forense do IPq da USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo) e professor da Universidade Metodista. 

A psicopatia envolve características psicológicas e comportamentais. Por isso, Talvane de Moraes, que é psiquiatra da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), explica que é um dos diagnósticos mais difíceis da especialidade, e ele explica o porquê.

"Usamos como paradigma o modelo de comportamento habitual das pessoas levando em conta o meio social, cultural, nível ideológico, mas isso muda de acordo com a civilização, por exemplo. O que vale é que o psicopata destoa totalmente do parâmetro médio da população, mas é preciso estudar a biografia da pessoa, não basta um momento, uma ação."

A seguir, com a consultoria de Serafim, Moraes e a psicóloga Silvia Malamud, respondemos 7 dúvidas comuns sobre psicopatas.

Psicopatas nascem assim?

Depende. A resposta não é exata. Há evidências de herança genética, mas a psicopatia também sofre influência do meio. Para o primeiro caso, Serafim diz que são os mais frios, com baixa empatia e mais propensos a atitudes destrutivas e violentas. Mas, independentemente da herança genética, o ambiente precisa estimular e facilitar o comportamento.

"Os secundários, sem carga genética, também têm intensa frieza emocional, mas são mais reconhecidos pela exploração do outro. Não chegam a ser criminosos, mas são os que causam intriga, manipulam e provocam prejuízos nos ambientes onde estão. Seja qual tipo for, o psicopata vai gerar problema", explica.

Psicopatia tem cura?

Não, assim como nenhum outro transtorno de personalidade. A diferença para quadros como ansiedade e depressão é que esses evidenciam as queixas diante de uma crise, e um psicopata não está com psicopatia, ele é assim.

"Psicopatas tratados durante longos anos em ambiente restritivos, como internação, envelhecem e melhoram. Mas a base do comportamento é instintiva e impulsionada por hormônios, em alta na adolescência e vida adulta. Ao envelhecer, ele fica mais tranquilo, mas a distorção permanece. O que falta é o 'combustível'", fala Moraes.

É possível reconhecer sinais desde a infância?

Depende. Psicopatas podem mostrar um comportamento desviante desde cedo. Na maioria dos casos, quando descoberto, a família diz que sempre foi a "ovelha negra". Entretanto é na adolescência, fase que o indivíduo precisa dar respostas emocionais mais diretas, que sinais mais claros podem aparecer.

"Desde pequenos, alguns casos são evidenciados com ações como maus tratos a animais, baixíssima tolerância à frustração e rompantes de agressividade desmedida. Mas é a partir dos 15 anos que a personalidade vai se fixando e ficando mais notória", fala Silvia.

Todos são criminosos?

Não. Características consideradas padrão são o desrespeito persistente e a dificuldade em se adequar aos padrões. Psicopatas também têm grande problema em frear os impulsos e ausência de remorso.

"Os psicopatas se colocam em situação de risco e sempre vão culpar o outro por suas falhas. Assumem que são responsáveis por aquele dano, mas justificam por conta da ação de alguém que os provocou, por exemplo. Por isso só chegam para se tratar quando cometem alguma violação jurídica, que pode ir do furto ao homicídio, pois são obrigados pela justiça", fala Serafim.

Psicopatas são mentirosos?

Sim. E, segundo Silvia, eles não dimensionam nenhum conceito moral sobre o que fazem. "Para eles, as mentiras fazem apenas parte de sua manipulação. Uma ferramenta para alcançar o que desejam."

São incapazes de amar?

Sim. Indivíduos com esse transtorno de personalidade forjam todo tipo de afeto. Psicopatas são sedutores e, quando querem, têm facilidade de socialização. "Também existe o antissocial, que tem poucos amigos, costuma ser mais explosivo, e tem mais dificuldade de esconder seus atos", explica Silvia.

É possível reconhecer um psicopata no dia a dia?

Não. E isso pode ser perigoso. A não ser que se trate de comportamentos gritantes, que logo todos perceberão. "Psicopatas se adaptam muito facilmente, agem de acordo com suas necessidades. Por isso, os que estão a sua volta só irão percebê-lo desta forma segundos antes de uma ação mais drástica", fala Serafim.